sexta-feira, 30 de julho de 2010

Déjà vu

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Segundo o noticiário, os CTT vão alugar como arrendatário à Mota-Engil a sua nova sede, por cerca de 3,4 milhões de euros por ano, depois de terem vendido os seus edifícios emblemáticos, de que o mais importante será o dos Restauradores, ficando a pagar renda aos novos proprietários.
Não há volta a dar aos economistas que se lembram destas coisas.
Está um cidadão na sua casa, de que é proprietário, e um senhor economista vem explicar-lhe que é um bom negócio vender a casa e ficar a pagar renda ao novo proprietário.
É possível que o negócio seja bom, mas o cidadão tem todo o direito a dizer que só vende se lhe derem o triplo do valor comercial da sua casa, para poder comprar outra equivalente e cobrir as perdas das transferencias, impostos incluidos.
Também pode o cidadão raciocinar que, estando os juros a 1%, que o valor dos prédios, para o negócio lhe ser vantajoso, deveria ser pelo menos 200 vezes o valor da renda anual.
Como não foi nada disto o que aconteceu com os CTT, parecerá que o negócio não foi bom.
Assim, de facto, para quê manter os CTT no setor público?
Talvez comentar que isto não acontece nos USA, em que ninguém pensa em privatizar os correios nacionais (claro que há concorrência), nem em fazer disparates destes (disparates do ponto de vista do perdedor no negócio, claro).
Ignoro se haverá algum mecanismo jurídico que permita neste caso recolocar a Mota-Engil no seu lugar, como aconteceu com o disparate do nó de Alcantara, devidamente comentado, do ponto de vista técnico, neste blogue.
Mas como cidadão contribuinte nacional devo registar a esperança de que, tal como no caso de Alcantara, a Assembleia da Republica garanta a justiça, e, como cidadão contribuinte de Lisboa, exprimir a minha total oposição à saída da estação de correios dos Restauradores.
É mais um passo na desertificação da Baixa.
Não está bem.
Os CTT não têm o direito, como qualquer instituição o não tem, de contribuir para a desertificação da Baixa.
A Expo não precisa de tanto novo-riquismo provinciano.
E se pus o título déjà vu a esta pequena crónica dos financiamentos pouco esclarecidos, foi porque, a avaliar pelos gastos com consultores que as administrações dos CTT têm vindo a dispender (por exemplo, a Accenture recebeu encomendas de cerca de um milhão de euros entre 2006 e 2009; no mesmo período os contratos com consultores ascenderam a 11 milhões de euros), todo o negócio com a Mota-Engil terá resultado do esforço dos consultores.
O mal não é haver consultores; o mal é que eles são normalmente intermediários que podem subverter o relacionamento entre a empresa cliente e os verdadeiros especialistas externos de cujo "know-how" a empresa cliente necessita.
Curioso ainda, a reforçar a sensação de déjà vu, é que a ultima reestruturação dos CTT resultou de um contrato com a Deloitte, sendo que o responsável desta pelo trabalho tinha sido membro do CA dos CTT de 2005 a 2007.
Não fui eu que descobri, foi a auditoria da Inspeção geral de Finanças, que achou estranho o contrato com a Deloitte ser de 200 mil euros e, com os adicionais, ter atingido 1,1 milhões de euros.
Déjà vu, esta intromissão de consultores a prejudicar empresas públicas, através de estudos de reestruturações com a participação de colaboradores umas vezes na consultora, outras vezes na empresa pública.
Aguardemos para ver como a Assembleia da Republica vai tratar este caso.
Quanto mais não seja para ver como se comportam o poder do voto e o poder económico.

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2 comentários:

  1. Os CTT têm um contrato de arrendamento de todos os seus edificios com o Banco Santander que os adquiriu em 2003 (engenharia financeira para diminuir o deficit), Nesse contrato de arrendamento está estipulado um tempo de validade entre 15 a 20 anos pelo custo de 430 000 Euros mensais, o edificio dos restauradores e da D. Luís já há solução e o Santander até faz negócio hotel de luxo e condominio de luxo. Alguém me sabe explicar se o Santander vai ficar com os outros edificios devolutos e rasga o contrato assinado com os CTT.
    Ou será que os CTT vão ter de cumprir o contrato e continuar a pagar a renda ao Santander assim paga 2 rendas (também tem de pagar a renda do edifcio da EXPO).

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  2. Caro anónimo

    Sinceramente, também não sei.
    Resta-nos esperar para tentar ver.

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