quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Continuação das 10 medidas para aumentar a taxa de ocupação do metropolitano de Lisboa

Já se sabe alguma coisa do grupo de trabalho para  a reformulação dos transportes na área metropolitana de Lisboa.
Pode ver-se desse grupo uma apresentação de 27 quadros em:


Como esperado, pelos nomes conhecidos, as propostas deste grupo de trabalho revelam algum conhecimento das questões concretas (eu próprio já tinha referido neste blogue algumas das medidas propostas) e as respetivas medidas serão eficientes, mas muitas delas apenas o serão do ponto de vista meramente economicista.
Isto é, perde-se a componente de serviço público, o que é compreensível se um dos objetivos é abrir caminho para as privatizações e concessões.
Não deve deixar de se criticar, porém, caso se mantenha, a ausencia de cálculos das economias previstas e dos prejuízos consequentes.

É tambem compreensível a discordancia dos orgãos representativos dos trabalhadores das empresas públicas e dos vereadores de mobilidade das câmaras prejudicadas.
Mas seria importantissimo que se desse imediatamente inicio a um processo de discussão e de negociação das medidas.

Retomo por isso o anterior texto das 10 medidas para aumento da taxa de ocupação do metropolitano de Lisboa, escrito antes de ter tido conhecimento da apresentação do grupo de trabalho (reafirmando que uma taxa de 20% não é uma má taxa, atendendo a que uma carruagem tem cerca de 40 lugares sentados e 120 lugares em pé, sendo que este número não corresponde a grande comodidade de transporte).
Ver em:

A propósito do fecho do metropolitano às 23 horas e da supressão de carreiras suburbanas e fluviais, só posso lamentar a referida perda de um serviço público.
Um serviço público, por definição, não deve ter como principal preocupação o lucro e, quando tomadas medidas economizadoras e de racionalização (como em várias empresas públicas já foram tomadas) terá de haver suporte dos custos.
Convirá sempre avaliar e contabilizar os benefícios sociais que poderão compensar esses custos.
Desde a empregadinha que sai do centro comercial Colombo ou Vasco da Gama, aos funcionários das exposições do Parque expo, aos espetadores de cinema, concertos ou teatro,  aos trabalhadores estudantes, aos trabalhadores por turnos, especialmente das áreas da limpeza, recolha de resíduos, vigilancia, são muitos os prejudicados.
Infelizmente, o efeito negativo desta medida, por prejudicar os que menos rendimentos têm, faz recordar a afirmação cruel de Tatcher: "quem precisa de andar de transportes coletivos é um falhado". Afirmação cruel e ignorante, porque transportes coletivos significa maior eficiencia energética e menores emissões de CO2. Sabendo-se que a demonstração da relação entre a emissão de CO2 e as alterações climáticas é relativamente recente, é natural que as cartilhas do neo-liberalismo da escola de Chicago, tão do gosto de Reagan e Tatcher, ignorassem a importancia dos transportes coletivos ferroviários.
Para contabilizar os prejuizos, e comparar com os custos da exploração do metro depois das 23:00, podemos multiplicar o valor do salário médio horário pelo numero de horas.empregado perdidas por não poderem trabalhar por falta de transporte. Esta contabilização decorre do raciocínio de que o transporte do trabalhador até ao local de trabalho é um fator de produção com custos quantificáveis.
Se o grupo de trabalho apresenta esta  medida, sem fazer um inquérito/sondagem para determinar essas horas-empregado perdidas, não haverá suporte científico para ela, validando assim a hipótese de que o objetivo era mesmo aliviar os custos ao futuro concessionário.
Haverá ainda uma externalidade a considerar, para alem do desperdício energético por estimular a utilização do transporte individual e o consequente aumento da sinistralidade (o que deveria ser contabilizado na análise de custos-benefícios do fecho às 23:00).
Fechar o metro contribui para a diminuição do movimento de pessoas depois das 23:00, estimulando o aumento da criminalidade, cuja contabilização deveria também figurar como prejuízo na análise de custos-benefícios.

Esta medida está associada ao ataque à cultura com o pretexto de que não há dinheiro (como disse o governante à jornalista, "que parte é que não percebeu? não há dinheiro?" porque estão os senhores governantes a falar de forma tão agressiva?), porque vai limitar a vida cultural noturna, alguma da qual é oferta turistica. Para não falar nos jovens que dificilmente desistirão dos seus divertimentos noturnos (não quererão sair das suas zonas de conforto, como deselegantemente, muito deselegantemente, diria outro governante) e assim se verão solicitados a abusarem do seu transporte privado, com o cortejo de mortes de jovens na madrugada que lhe está também associado.

Por isso insisto, e não é brincadeira, em adotar desde já, em vez do fecho às 23 horas, medidas do tipo das que as companhias "low cost" lançaram.
Aplicando uma simples regra económica para quando a procura é baixa, proponho que depois das 21:00 o bilhete seja  vendido a metade do preço.
O marketing atual tem tambem soluções para que os compradores de passes não se sintam discriminados, como seja cartões de desconto na compra (carregamento) do passe seguinte, a incrementar de cada vez que viajarem depois das 23:00.
E se mesmo assim os detentores do poder exigirem o fecho às 23:00, a contra-proposta é que se mantenha a hora de fecho normal (01:00 como hora de partida do ultimo metro em cada linha) e que se aumente o intervalo entre comboios, dos atuais 10 minutos para 30 minutos. E se monitorize rigorosamente a reação do sistema.
Impor o fecho simplesmente não pode, como dizem os orgãos representativos dos trabalhadores, ter o acordo de quem trabalha ou trabalhou no setor e nas atividades noturnas.






2 comentários:

  1. Armando da Silva Neves4 de novembro de 2011 às 11:17

    Há alguns factores que deveriam ser considerados antes de uma decisão para o fecho do metropolitano às 23h00. Vejamos:
    - O centro da cidade ficará completamente deserta a partir das 22h00. Numa cidade com o clima que Lisboa tem é deitar para o caixote do lixo um ponto forte do turismo.
    - É reduzir ainda mais o uso do transporte público e do Metropolitano em particular. Quem não pode regressar de transporte público já não o utiliza à ida.
    - Não vai ser possível, particularmente no verão, deixar de prolongar o serviço ao fim de semana para além das 23h00 devido à pressão das populações. Este serviço vai ter de ser feito com recurso a horas extraordinárias. As horas extraordinárias estão bastante mais baratas mas, mesmo assim é necessário fazer contas. A menos que o Governo pense aplicar às empresas públicas o aumento do horário de trabalho. Depois de lhes aplicar as restrições da função pública não seria de espantar.
    A ocupação média do metropolitano é 25%. O Sr Ministro acha que se deve quadriplicar este valor. Será que o Sr Ministro poderá explicar como é que isto é possível? Ou será que o Sr ministro só anda de avião?

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  2. Pessoas ingénuas e bem intencionadas como eu ainda acreditam que estes argumentos sejam suficientes para convencer o grupo de trabalho e o governo a não recomendar o fecho às 23:00 por se perder mais do que se ganha. Para que não se aplique a sentença "vamos perder o que fôr preciso para ganhar o que fôr possível".
    Infelizmente a tendencia para os gestores acharem que só precisam do avião e de carro com motorista reduz a sua sensibilidade para os outros modos de transporte. A RATP deve muito a De Gaulle, que pediu um helicoptero para sobrevoar os engarrafamentos e lá de cima rosnou para os ministros:"Resoudrez-moi cette merde". Cá, para pouparmos no helicoptero, insisto na medida: convencer os senhores ministros e secretários de estado a irem de transporte coletivo para o trabalho. Mas o principal problema em Lisboa nem é de transportes, é da desertificação da cidade, da desorganização da sua estrutura produtiva. Precisam-se medidas QREN para a sua recuperação. E não atentar contra o turismo, como fechar o metro às 23:00.

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