sexta-feira, 11 de maio de 2012

Micro ensaio sobre a dicotomia consenso-cotejamento

Amavel comentador repreendeu-me por neste blogue, a propósito da poesia de Sofia de Melo Breyner,  eu dar alguma importancia  ao confronto esquerda-direita.

Não queria dar muita importancia.
Não sou adepto do mazdeismo do segundo milénio antes de Cristo, com a sua criação do inferno e do paraíso.
Mas não posso ignorar a dialética que se sobrepõe à evolução tecnológica.
E posso dar mais importancia a outros métodos, conforme tenho referido a propósito da Sabedoria das Multidões e da Revolução sem lider.
Também posso deixar-me iludir, nem que seja por um breve instante, com a expressão maravilhosa que o presidente do PASOK, terceira força mais votada, encontrou para o seu objetivo de formar governo: um governo "ecuménico".
"Ecuménico", palavra grega, é isso mesmo, etimologicamente, "aberto para o mundo inteiro", sendo aqui o mundo inteiro uma nação que precisa  de recordar que é o berço da cultura ocidental.
Recordar até o episódio em que a ganancia de Atenas pelo tesouro de Dilos rebentou com a confederação grega.
Aberto também aos criminosos de braço estendido?
Se isso salvar a nação sem violencia, onde está o mal?
Posso sentar-me ao lado de um pitbull se ele estiver açaimado e controlado, não?

Mas deixem-me apresentar o micro ensaio sobre a dicotomia esquerda-direita ,ou a dicotomia consenso-cotejamento.
Os jornais enchem-se com apelos dos políticos ao "consenso", não é?
Infelizmente "consenso" significa sempre a submissão, a troco de uma ilusão, de uma ideia a outra, em vez de se cotejarem as ideias, se fazerem as contas e se retirar de cada uma das ideias o que pode contribuir para a melhoria comum.
É fácil de demonstrar que o cotejamento tem vantagens.
Repare-se em dois grupos de jovens, um de rapazes e outro de raparigas, a chegar a uma esplanada com lugares vagos.
O grupo de rapazes busca imediatamente um consenso que não é mais do que a subordinação das vontades pacíficas da maioria de rapazes que reconhece a um deles a liderança para a escolha. Sentarem-se onde o "lider" propôs, poupa à maioria energia para se concentrar em assuntos mais importantes, como fazer propostas de ocupação de tempo do grupo, e analisar as vantagens e inconvenientes de cada proposta; possivelmente para o lider decidir depois, uma vez que não tem tempo para congeminar os pormenores de cada proposta.
O grupo de raparigas leva mais tempo a sentar-se, mas é um encanto vê-las; cada uma delas volta-se para cada uma das outras a interrogar "ficamos aqui?" enquanto percorrem toda a esplanada; estão a cotejar hipóteses (segundo o método científico no seu melhor) até que se sentam em animada conversa coletiva; está ali um grupo a pulsar em conjunto sintonizado, embora cada uma delas possa estar a dizer coisas diferentes umas das outras. Isto é, a decisão sobre o local de poiso  foi tomada após múltiplas trocas de opinião, e já estão a utilizar o mesmo método para a discussão sobre como vão ocupar o tempo.
Feitas as contas, cada tomada de decisão leva mais tempo, mas o conjunto de tomadas de decisão levou menos tempo e envolveu todas ou quase todas, o que melhora a coesão do grupo e a dedicação de cada uma no grupo.
Por outro lado, os resultados do PISA mostram com clareza que as raparigas ficam mais bem colocadas nos tetes de compreensão e interpretação de dados.
Não admira portanto que internacionalmente, por se seguir o método do "consenso", os resultados estejam tão mal.
Posto isto, ainda há duvidas que os grandes decisores têm de reconhecer que têm seguido caminhos errados até aqui?
Vá lá, governos ecuménicos, precisam-se.

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