quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

Não matem o mensageiro

Sardanápalo é provavelmente uma personagem criada a partir de personagens históricas, imperadores da Assíria (século VII a.c.), uma vez que não há fontes históricas que o identifiquem com segurança. Ter-se-á envolvido nas muitas guerras caraterísticas da região. Terá mandado matar o mensageiro que chegou ao seu palácio em Ninive, do outro lado do Tigre, onde hoje está Mossul, com a informação de que o exército dos inimigos se aproximava sem ter resistencia. E depois organizou uma orgia até à morte. Trata-se assim de uma lenda para criticar o comportamento dos ditadores, nomeadamente do seu ódio à liberdade de expressão.
Não matem o mensageiro, repetiu a senhora jornalista ao receber as críticas de uma ouvinte à sua televisão por não mostrar o caos das urgencias da gripe. Que a televisão mostrou e que a culpa da falta de médicos, enfermeiros e pessoal auxiliar não é dos jornalistas.
Não é, de facto, mas também é verdade que as coisas não devem ser analisadas com base no critério da culpa.
Vejamos antes numa perspetiva sociológica, o caso do resultado das últimas eleições e referendos, associando às televisões a natureza de mensageiro que entra em casa das pessoas para lhes levar notícias, opiniões e, pior do que tudo, sugestões subliminares.
Trump ficou conhecido por muitos pela sua participação no reality show The Aprenticce
https://en.wikipedia.org/wiki/The_Apprentice_(U.S._TV_series)

Graças ao DN e ao seu reporter João Almeida Moreira, fico a saber que o prefeito eleito de S.Paulo, empresário João Doria, fez o mesmo no Brasil com a versão brasileira O aprendiz. Venceu nas eleições o anterior prefeito, Fernando Hadad, que ao executar um programa de vias cicláveis era acusado pelos automobilistas (alguns, claro)  de querer transformar a cidade numa nova Cuba. O novo prefeito do Rio de Janeiro veio da IURD, que como se sabe tem um canal de televisão importante. As eleições em Portugal de 2005 disputaram-se entre dois participantes do programa televisivo de debate político mais visto. O atual presidente da República portuguesa foi  o comentador televisivo mais visto. É verdade que a televisão mostra o que as pessoas querem, mas depois não se queixem do brexit e das ameaças de Marine le Pen e da extrema direita na Austria e na Alemanha. Talvez o mensageiro devesse contrariar um bocadinho, para não dar razão a Oscar Wilde, se todos concordam contigo, vê onde estas a errar. Ou por outras palavras, talvez o mensageiro devesse ouvir mais as minorias. Podia ser que as minoria saídas das eleições não fossem tão minorias...

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