sábado, 1 de setembro de 2018

Sessão de 6 de setembro na AR sobre a ferrovia

Apesar do país não ser grande, a diversidade de componentes e de requisitos, a extensão e a inércia do sistema ferroviário português, depois das omissões e erros ao longo de vários anos, contribuem para a situação atual de degradação e de exposição pública da desgraça.
Por outras palavras, a falta de decisões e de execução de orçamentos equilibrados especialmente depois do agravamento das condições financeiras, criou uma situação que só poderá melhorar depois de vários anos após se tomarem agora as decisões corretas.
O problema agrava-se porque provavelmente a forma de tomada de decisões e do controle da sua execução e ainda, evocando o gravissimo problema das cativações (que continuam a minar como um cancro a execução dos orçamentos), e a extrema dificuldade de planear e executar orçamentos eficientes, vão sucessivamente, ao longo dos próximos anos, piorar a situação. Não há indícios de que os decisores, os que tomam as decisões de cativar as verbas, ou os que definem as estratégias escolhendo opções, tenham a noção de que o tempo que passa sem se avançar agrava a situação e compromete a solução rápida.
O que há a fazer é muito, como aliás já a comissão do PET3+ reconheceu no tempo do XIX governo. E não só na ferrovia (em que se privilegiou a beneficiação de troços antigos em detrimento de linha nova com padrões europeus), nos portos, por exemplo, há muito a fazer. O que não se fez desde então foi uma sólida política de elaboração de anteprojetos para submissão a candidaturas de fundos europeus, tendo-se dado preferencia às formações, inovações e apoios a pequenas empresas ou pequenas iniciativas ao nível das autarquias.
O que há a fazer só pode ser feito segundo um plano com o faseamento de todas as ações e o seu controle de execução periódico, eu diria mensal,  com representantes de todas as disciplinas envolvidas e a emissão da lista de ações e prazos a executar por cada representante e o cronograma atualizado (serve o Projet da Microsoft). E há que ter a noção que uma não decisão acaba por provocar, tempos depois, uma falha grave (por exemplo, se se cativa uma verba para aquisição de um lote de peças de reserva para comboios, daí a uns milhares de quilómetros parte desses comboios tem de encostar).
Não se duvida da competencia técnica dos colegas da CP e da REFER (agora IP). De um deles, no ativo, de que obviamente não digo o nome, ouvi o desabafo, a propósito das estratégias seguidas: "estão a dar cabo disto". Duvida-se sim da organização de equipas para executar a metodologia que referi (controle pluridisciplinar e divulgação das ações e prazos).
Que o mesmo é dizer, duvida-se da viabilidade de atingir os objetivos, num contexto de negacionismo em que se vê o governo e os responsáveis da IP e da CP a repetir que têm razão, que tomam as melhores opções, e que existe uma campanha contra eles.
E contudo, os verdadeiros amigos são os que apontam os erros e as omissões, não os que acriticamente concordam com os erros e as omissões.

A Assembleia da Republica vai discutir no dia 6 de setembro a ferrovia.
São tão vastos os temas e as implicações entre eles que não e previsivel que se chegue a conclusões atuantes (isto é, que haja encarregados de executar tarefas que possam concretamente avançar no dia a dia para poderem produzir efeitos a prazo curto ou médio).

São tambem conhecidas as técnicas comunicacionais do governo de diversão ou desvio para outros temas e de cega confiança nas opções que toma. Essas opções são normalmente tonmadas em secretismo, recusando a discussão aberta e participativa (art.2º da CRP : "a Republica Portuguesa ... visa .. o aprofundamento da democracia participativa") num exercicio de sobranceria e prepotencia que deslustra quem o pratica, especialmente quando são técnicos qualificados, de desprezo pela opinião dos sindicatos e dos próprios técnicos das empresas, impedidos de se exprimirem livremente pelas hierarquias.
A complexidade dos orçamentos facilita o arrastar da discussão, porque é sempre fácil dizer que está orçamentada uma verba para uma determinada ação e que a sua descativação está prevista para daí a uns dias. Também é fácil dizer que vão admitir-se 102 técnicos para a EMEF, quando 40 deles são precários que passarão para o quadro, quando entretanto há outros que se reformam e quando são necessários meses para formação.

Não se esperam por isso grandes progressos na resolução dos problemas que afetam a exploração diária da CP.
Não creio que se chege a conclusões em temas como a reforma da linha de Cascais (parece que os decisores insistem nos autocarros ou BRT na A5, que é uma solução razoável em países produtores de petróleo ou que não ligam muito aoa acordo de Paris, porque o transporte rodoviário tem um consumo específico por passageiro-km superior ao ferroviário), a ligação Beja-Casa Branca, a ineficiencia da modernização da linha da Beira Alta, a recusa do governo em integrar a rede core 2030 com linhas de padrões euroeus (a eterna desculpa das travessas polivalentes, que só têm utilidade quando a plataforma é dupla, com uma via em bitola ibérica  em serviço enquanto a outra via é transformada de ibérica para UIC - estimativa 1km/dia).

Esperemos ao menos que a imprensa especializada e os jornalistas especializados façam a coberutura sem subserviência ao governo.





3 comentários:

  1. A prioridade foi orgânica: êxodo do interior para as cidades. Aconteceu em Portugal e no resto do planeta. Ou seja, deu-se prioridade à rede de estradas e auto-estradas (necessária, embora se tenha prestado a exageros por parte de corja rendeira e partidária). A ferrovia cresceu pois num só segmento: o metropolitano. O regresso à ferrovia capilar não me parece viável. A prioridade é, na minha opinião, as ligações entre as duas principais cidades do país (Grande Lisboa, Grande Porto), e depois destas, e ainda de Aveiro-Coimba e Faro/Algarve a Espanha/resto da Europa.

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    1. De acordo, cada modo de transporte tem o seu dominio de aplicação, por isso espero que o colapso da ferrovia não se estenda aos outros países, principalmente porque o consumo específico de energia por passageiro-km é mais elevado na rodovia, mesmo em tração por baterias ou por hidrogénio (e, já agora que se fala tanto, no hiperloop). Quando acabar o petróleo ainda vamos cá ter o gás natural e o carvão, e quando estes acabarem, se eles entretanto não derem cabo da espécie humana, continuaremos a ter o hidrogénio extraido da água com baixo rendimento mas de forma quase inesgotável. Já voaram aviões de peso normal movidos a hidrogénio...De facto, não termos ferrovia de mercadorias e de passageiros para a Europa é terceiro-mundista.

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  2. Lamentavelmente, fala-se apenas na CP, que é o operador incumbente para o transporte ferroviário de passageiros, omitindo-se o operador privado Fertagus, que não parece ter ter problemas de manutenção ou outros com o seu material circulante e que nem sequer terá as mesmas ajudas estatais de que a CP aufere. Isto quanto aos operadores de passageiros, sector que a UE quer ver privatizado em todo o seu espaço europeu em 2019.
    Só que o estado das infraestruturas (linhas, etc) tem vindo a degradar-se progressivamente e a integração da REFER nas IP-Infraestruturas de Portugal em nada melhorou. Bem ao contrário, a perda de know-how devida ao êxodo dos quadros ferroviários só pode ter agravado os custos. Temos, assim, uma rede velha e degradada, em que os custos de reabilitação para as condições de traçado actualmente exigíveis facilmente excederão os custos de linhas novas, obviamente de bitola europeia, mas é isso que os monopolistas do transporte de mercadorias (Medway/Takargo) não querem para a sua coutada.
    Assim, só vejo 2 cenários para a nossa ferrovia a partir de 2019 :
    - Ou a Medway e seus apaniguados se chegam à frente e compram a CP passageiros, para alongar no tempo a manutenção da ilha ferroviária portuguesa e impedir a concorrência internacional
    - Ou a Renfe se interessa pela operação de passageiros em Portugal, onde colocará os seus comboios de bitola ibérica de que vai deixando de precisar. Neste caso, a única linha de bitola europeia que viremos a ter será a de Badajoz-Lisboa (eventualmente, até Sines) por esse ser um objectivo desde sempre declarado pelo Governo espanhol.
    E a seguir (ou entretanto) a ADIF tomará conta da nossa rede ferroviária, atendendo à falta de qualidade das nossas linhas e à incompetência das IPs para as melhorar decentemente.
    Este pode muito bem ser o resultado a que o nosso País foi conduzido pela governação de tantos trastes (e tristes) políticos.
    E se assim for, pelo menos teremos melhores comboios e melhores linhas. Quanto aos preços, veremos.
    LCS

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