O senhor ministro, um dos ministros de infraestruturas do partido no poder, dizia nos seminários com entusiasmo que a rede ferroviária nacional entre Lisboa e o Porto era uma grande rede de metro porque todo o litoral era uma extensa área metropolitana.
Embevecidos e assentindo gravemente com as cabeças o ouviam os seus correlegionários, enquanto com ainda mais entusiasmo o ministro explicava que um serviço regional vindo do interior do país se podia meter no meio do tráfego de alta velocidade e assim assegurar a ligação com a capital, sem transbordos da acolhedora cidade do interior. Como se fosse uma rede de metro. E mais dizia que o seu plano nacional não privilegiava a procura, mas a oferta. A avaliar pelo modo de transporte que os ouvintes tinham utilizado para aceder ao seminário, nunca eles beneficiariam de tamanha mais valia por não terem de fazer um transbordo de uma linha regional para uma linha de alta velocidade.
Tenho as minhas limitações de entendimento, não entendendo os motivos para o fascínio daqueles argumentos. Também me parece um pouco imprudente confiar que a procura siga sempre a expetativa de Say, que induza o crescimento da procura, sem atender às outras variáveis em jogo, mas nestas coisas de economia política será como dizia Vitor Gaspar, é como na meteorologia. E tenho memória de momentos de aflição quando o aparelho de mudança de via da Rotunda (veio depois um senhor presidente da administração do metro e disse que devia chamar-se Marquês de Pombal, que Rotunda suscitava a lembrança de descamisados), antes de 1995, encravava e não podia haver comboios nem de sete Rios nem de Entrecampos para o Rossio e para Alvalade, com os passageiros a acumularem-se nas estações.
Mas lá terei de reconhecer que apesar dos senhores ministros nunca terem trabalhado em empresas de transporte, nem quem valida as suas decisões nunca usufruir da comodidade de evitar um transbordo, são eles que escolhem que infraestruturas serão construidas. Dirão para se justificarem que ouviram os especialistas. E eu acredito que ouviram, mas não os especialistas que teriam de acorrer ao motor de agulha avariado a empatar todos os itinerários partilhados que por ele passassem.
Por isso não pude evitar que mais uma vez o desabafo do romano antigo me viesse à ideia, que naquela península há gente que não deixa ninguém governá-los, mas também não sabem governar-se a si próprios...
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