Em recente edição do programa Linha aberta, da SIC, foi dito que não tem sido divulgada informação adicional sobre o acidente ao km85 da A2, no sentido N-S, que vitimou Cláudia Isabel. Isto é, o processo de inquérito estará parado ao fim de mais de um ano.
Voltar ao tema será sempre violentar a mãe de Claúdia
Isabel, que entretanto perdeu a própria mãe e em entrevista em outubro de 2023
disse que não tinha conhecimento do resultado da autópsia.
No entanto, como já referido, é importante que se esclareçam
todas as questões do acidente para reduzir a probabilidade de repetição.
Nesta perspetiva, parece-me importante que sejam
esclarecidas as seguintes questões e aplicadas as recomendações respetivas:
1 – qual foi o resultado da autópsia? A vítima faleceu ou
estaria desmaiada antes do despiste? Ou faleceu em consequência do embate na
vala? Tinha o cinto de segurança posto? Os vestígios de travagem junto do km85
pertenciam ao smart da vítima? Estes esclarecimentos são necessários para se
saber se a existência de rail de segurança ou de um talude de inclinação menor
poderia evitar a morte.
2 – existem grandes extensões da autoestrada sem rail de
segurança do lado exterior. Se a morte ocorreu após o despiste essa terá sido
uma circunstancia que contribuiu para ela em grande parte. Curiosamente, mais
ou menos na mesma altura outra cantora teve um acidente semelhante, tendo saído
da autoestrada mas após bater em rails de segurança que amorteceram a colisão e
salvaram a vida da senhora
3 – uma simulação em que se supõe como 180 km/h a velocidade
do veículo que embateu no smart e 50km/h a velocidade deste no momento do
embate conduziu à velocidade resultante de 70 km/h e a uma aceleração brusca
inferior a 2G, que em princípio não será responsável pela morte do condutor,
até porque o banco do smart tem proteção contra este golpe. O inquérito apurou
as velocidades após o embate?
4 – mesmo que não se venha a provar que a morte de Cláudia
Isabel se ficou a dever à ausência de
rail de proteção na zona do despiste, isso não invalida que os operadores das
autoestradas devam equipar os troços com falta de rails. Para se ter uma ideia
da gravidade dessa ausência para um despiste a 70km/h e colisão com o talude,
ela equivale a uma queda a partir duma
situação de repouso, duma altura de 20 metros (para um despiste a 120kmH, a
altura de queda equivalente a partir do repouso seria de 55 metros)
5 – no primeiro dia de janeiro de 2024, mais um trágico
acidente com a morte da mãe das duas crianças que com ela viajavam, ao km 167
na A 1 no sentido norte-sul junto da povoação de Gasconho (ver imagem Google earth abaixo). Tudo indica
que o despiste foi antes do rail de proteção sobre o túnel da estrada
secundária que cruza a A1, num intervalo entre rails de proteção com 130m. O
carro depois do despiste ter-se-á deslocado cerca de 150m com um desnível de
10m capotando sobre uma conduta de escoamento de águas pluviais. A ausência de rails é inadmissível.
Em resumo, numa altura em que a Comissão Europeia constata o nível inadmissível da sinistralidade rodoviária em toda a União (dados de 2022: média da UE 46 mortes por milhão de habitantes; Roménia 86; Bulgária 78; Portugal 63) e mantem o objetivo de redução a zero até 2050, é importante a rápida conclusão dos inquéritos deste tipo de acidentes com todas as variáveis e a divulgação das recomendações.
Notas
1 -: anterior comentário ao acidente de Cláudia Isabel:
https://fcsseratostenes.blogspot.com/2023/01/o-acidente-ao-km-85-na-autoestrada-para.html
2 - Acidente ao km167 na
A1 em 1jan2024:
a seta indica o provável ponto de despiste seguindo-se o deslizamento por um declive com conduta para escoamento e com desnível de 10m até à imobilização; o gráfico mostra o perfil do percurso |
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