Mostrar mensagens com a etiqueta educação sexual. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta educação sexual. Mostrar todas as mensagens

terça-feira, 18 de maio de 2010

O candidato a rei

'

O DN entrevistou o candidato a rei.
Apesar de eu ser republicano, e apesar de uma assunção de uma candidatura a rei para si próprio e para o filho mais velho configurar uma violação do princípio universal da igualdade de direitos perante a lei, tenho alguma consideração pelo senhor candidato a rei e pelas suas preocupações com o bem estar dos que desejaria que fossem seus subditos.
Gostaria até que nesta família ou nas famílias dos seus parentes que exercem a função de reis por essa Europa fora, apareça algum filho varão que decida ser republicano e marque eleições.
Enquanto isso não sucedia, li a entrevista do senhor e notei a sua resposta à pergunta do entrevistador sobre a educação sexual nas escolas:
"Tornar obrigatório o ensino da educação sexual resume-se a dizer: forniquem à vontade, divirtam-se, façam o que quiserem mas com higiene".
Apesar do aspeto tosco, a frase tem algum sentido, até porque refere explicitamente "com higiene".
Foi a minha mulher, professora reformada, que me explicou. Durante anos, o anterior ministério da educação "decretou" que os professores (aqueles inimigos da eficiência) deviam dar aulas de educação sexual.
E a minha mulher sempre a dizer "Eu sou professora de matemática, se quiserem que dê aulas de educação sexual devem mandar-me a um curso de formação e publicar o programa oficial das aulas de educação sexual".
E realmente é, já dizia Aristóteles que "se não me perguntares sei, mas se me perguntares não". Vejam o que aconteceu com a professora de Espinho, processada pelas mães indignadas.

______

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Educação V – o “ranking”

O DN mandou um fotógrafo à escola melhor classificada no “ranking”.
As alunas do colégio Mira Rio deixam-se fotografar nos seus uniformes, e declaram: “Somos a melhor escola porque os nossos professores nos ensinam a sermos as melhores em tudo”.
Temos aqui mulheres competitivas para o futuro, que não aceitarão segundos lugares.
Já dizia a castelhana segunda filha do Medina Sidónia: antes rainha em Lisboa por pouco tempo do que duquesa em Madrid toda a vida.
Coitado do marido, D.João IV, tão dado à música, ter de aturar uma megera destas toda a vida…
Pois daí o DN saltou para a escola pública D.Maria que o ano passado tinha ficado muito bem classificada e este não.
E a directora (ou presidente do conselho executivo, ainda não sei) explicou: sabe, saíram 42 dos 100 professores, a maioria por reforma antecipada porque não estiveram para aturar os disparates da ministra. É natural que os resultados tenham piorado.
Este exemplo não demontra, mas mostra o que se passou neste país com a ministra da Educação de quem o Presidente da Republica disse para a deixarem trabalhar: os professores responsáveis pelos bons resultados de uma escola esgotaram a sua paciência e a escola ficou privada de bons profissionais. Os resultados estão à vista, se bem que as estatísticas possam ser falaciosas (ainda há bem pouco tempo um estudo independente revelou que os números de abandono escolar revelados pela ministra eram um oitavo da realidade estudada – pobre de um subordinado meu que me enganasse dessa maneira, que me informasse que o indicador era um oitavo da realidade).
Eu há anos que já tinha divulgado este fenómeno, porque a minha mulher, que não é propriamente uma Luisa de Guzman, e a irmã, que também não o é, fizeram o mesmo que aqueles 42% (devo esclarecer que há uma penalização, mas a penalização vale menos do que a sensação de impotência de quem se mantém na vida activa perante os disparates da ministra).
Mas ninguém liga, claro.
É estranho, num país em que o ministro do ensino superior tem resolvido problemas e tem o apoio dos professores… haver uma incongruência assim.
Aplicando um critério qualquer de gestão de empresas a saída de 42 bons profissionais, substituídos parcialmente por professores sem experiencia (possivelmente manobrando melhor o Magalhães), provocaria medidas interventivas, quanto mais não fosse para evitar que daqui a 5 anos a criminalidade devida ao abandono escolar suba e que daqui a 10 anos o nível intelectual dos portugueses médios soçobre (porque o nível daquelas meninas de condomínio do Mira Rio certamente que estará acima da média).
Mas não, a orientação de voto dos portugueses e a política de Educação do seu governo não coincide com o que eu penso, ao analisar a realidade.
Pronto, não há coincidência, mas devia falar-se mais nisto, devia fazer-se inquéritos para fazer o seguimento do percurso escolar dos meninos e meninas, tentar estabelecer correlações entre o ranking das escolas por onde andaram e o seu sucesso na universidade .
Provavelmente concluindo que os universitários de sucesso também vêm de escolas mal classificadas no ranking, o que significaria que estamos a perder energias para fazer o ranking.
Mas tudo isto parece não interessar, não ter interesse mediático.
Deixemos essas coisas para as teses de mestrado.
E deixemos que por todo o lado se façam estatísticas muito bem feitas a justificar os sucessos das decisões dos decisores. Assim como assim, as reforma antecipada dos 42% libertou as escolas (e analogamente, as empresas) de vozes incómodas para os decisores. E as meninas do Mira Rio saberão assumir o poder, porque não deixarão que ninguém lhes passe à frente.
Que tempos… que pena que eu tenho que as pessoas não leiam Elinor Ostrom…
Ah!, é verdade, por que chamei pobre a quem me apresentasse um indicador afastado 7/8 da realidade: nada de especial, apenas ficava escrito e divulgado que o senhor tinha má vontade para trabalhar e que fazia disparates. Apenas isso.

domingo, 5 de julho de 2009

Educação IV - O ódio desajustado segundo a senhora ministra da Educação

A senhora ministra disse que a oposição à sua (sua, dela, ministra) acção é um ódio desajustado.
Uma acção que, disse ela, pretendeu ser de continuidade.
Primeiro: quem, como eu, e são muitos neste país, se opôs à política da senhora ministra não lhe tem ódio, nem deseja nada de desajustado. Tive uma experiencia pessoal com o falhanço de um sistema de avaliação (e não é só a questão das quotas); informei-me sobre os factores determinantes do insucesso escolar (a seu tempo, não foi agora) e verifiquei que a política do ministério ignorava esses factores.
Isto é ódio?
Os erros num ministério de Educação aparecem 5 anos depois, com o comportamento em fim de adolescência. Se a política de Educação falhou, essa geração vai falhar. É o salto geracional com que o outro senhor justificava o aumento da criminalidade juvenil.
Ódio desajustado por dizer isto? E que dizer dos principais órgãos do país, a dizer para deixar trabalhar a senhora? Só me faz lembrar o residente não executivo da PT: “Pelo que dizem, ou estão fora do contexto ou estão fora da realidade”. Choisissez!
Segundo, continuidade? Então a política deste ministério não era a das reformas? Infelizmente, concordo, foi de continuidade. As políticas infelizes de Educação já vinham de trás, e este ministério deu continuidade. Nisso concordamos.

domingo, 24 de maio de 2009

Educação II - A professora II

Continuando o tema tão do gosto dos moralistas ofendidos, gostaria de tranquilizar quem possa estar mais preocupado (uma senhora directora de um jornal diário chegou a perguntar no seu jornal – seu dela por força de quem a nomeou - “que monstros estamos a criar nas nossas escolas com estes professores?”) que é possível distribuir preservativos nas escolas públicas há já 10 anos. Isso, o governo e os moralistas estavam desatentos. O que, segundo uma hipótese que devia ser aprofundada, será talvez positivo.
Recordam-se de ter contado a experiencia da minha mulher como professora com uma aluna de 12 anos (“eu sou melhor na cama do que a setôra” – bom, as palavras utilizadas não foram estas, como hão-de calcular, mas o sentido era)?
Como a história se passou há mais de 20 anos, a mocinha já deve ser avó. E como a segurança social e a assistência social estão como estão, será fácil imaginar o trajecto. Até aos moralistas deve ser fácil.
Mas eu queria contar a experiencia da minha cunhada (mania das irmãs de irem para professoras…), também passada há muito tempo. Mais precisamente em 1971.
Pediu-lhe o professor Calvet de Magalhães (sim, esteve ligado ao anterior regime mas era um humanista e um pedagogo) para organizar umas sessões de educação sexual. Tinha a minha cunhada 24 anos. Como os seniores da altura gostavam de dar trabalhos complicados aos juniores (a primeira coisa que me mandaram fazer no Metropolitano foi um esquema de avaliação, corria o mês de Fevereiro de 1974…). E foi assim que a Isabelinha preparou cuidadosamente, em colaboração com a professora de Ciências da Natureza, um programa de Educação sexual.
A sessão decorreu com os miúdos interessadíssimos. No fim, a Isabelinha perguntou quem tinha duvidas. Silencio. A Isabelinha a sentir-se perdida porque quando não há duvidas é porque a mensagem não passou e ninguém entendeu ou aderiu ao tema. Até que um rapazinho mais afoito, perante a insistência, explicou: “Sabe setôra, a gente percebeu tudo e até temos dúvidas, mas como a setôra só usou nomes difíceis, a gente não sabe como há-de dizer. É que nós só conhecemos essas coisas pelo nome-palavrão”.
C…, leitor, não é giro? Não era melhor falarmos destas coisas com mais naturalidade?
É que na escola da minha mulher (lá estou eu outra vez), a professora de ciências da natureza segue o programa (por favor, reparem, segue o programa) e mesmo assim já tem havido encarregados de educação que fazem saber o seu descontentamento.
E os moralistas rasgam as vestes com o caso da professora de Espinho? Eu só gostava de saber se ela disse “tu não sabes onde te metestes” (aqui, sim, eu acho que a conduta seria reprovável) ou se terá dito “tu não sabes onde vos metestes” (não faz concordância mas é um regionalismo tolerável). No resto, parece-me que as pessoas andam demasiadamente vestidas de branco por fora, parafraseando a metáfora.
E, já agora, não querem que vos reproduza a conversa que ouvi, en passant, entre a minha neta e a prima, de 8 anos? Vá lá, abram as mentes, que as crianças não se importam de abrir as delas. E se não fordes como as criancinhas…

Educação I - A professora

Gizas e os seus assistentes tinham ido à inauguração de um grande centro comercial em Nablus, ou melhor, Sichem, longe do Jordão, mas com um vale que se mostrava em panorâmica impressionante através das grandes paredes de vidro do edifício.
Enquanto não chegava a hora das conferências que aprazara, Gizas comentava, no meio de um grupo de reformados, as variações dos indicadores das bolsas das principais capitais, que passavam nos televisores na zona dos bancos.
E não era meigo nos adjectivos que dedicava aos financeiros.
De repente, um reboliço, vindo do outro lado do grande átrio central, atraiu a atenção de todos.
Um sacerdote de longas barbas brancas ralhava em alta grita a uma jovem mulher palestina. Rodeava-os uma chusma de mulheres iradas que também verbalizavam o seu escândalo.
Gizas e os seus assistentes aproximaram-se. A mulher estava vestida com uma túnica curta, cintada e justa; tinha os cabelos soltos e um ar menineiro que talvez contribuísse para a ira das mulheres escandalizadas.
Um publicano, quase rasgando as vestes como se fora um sepulcro caiado por fora, esclareceu: É esta a professora de História que fala de sexo.
Gizas comentou serenamente: Pois, coitada, se Zeus passava o tempo a fazer sexo - e como o fazia, até parecia que não pensava noutra coisa - como poderia um professor de história não falar de sexo?
- E acusou as alunas de 12 anos de não serem virgens – vociferou uma das megeras
- Seriam Escorpião, talvez? – aventou Gizas
- E acusou os rapazes de 12 anos de esporularem e de se molharem
- Mas é natural, é assim que reagem os jovens machos à presença do óxido nítrico nas cavernazinhas periféricas e da serotonina no cérebro … foi aí que chegaram os mecanismos da evolução pela selecção natural, sem que Yavé tivesse nada contra…
- Blasfemou - gritou o sacerdote
- Não, acalma-te – continuou o doce rabi, que era como lhe chamava Eça de Queirós – o coração das gentes ainda está duro e insensível como no Antigo Testamento do Senhor Deus dos Exércitos. Eu vim para lhes falar do Novo, para lhes dar flexibilidade, vou ser o colagénio dos corações, vim abrir as portas da compreensão e da tolerância. Vim para abrir as mentes e os corações. Então tereis Paz.
A propósito de professores, deixai-me falar-vos dum email que recebi já há uns anos de uma professora das Colunas de Hércules, aquela terra na ponta do Mediterrâneo, um bocadinho desorganizada.
Contou-me ela que estavam a discutir na turma os problemas da escola e da terra, e de repente, uma aluna de 12 anos, que não gostara de ser repreendida, virou-se para a professora e disse-lhe: Eu sou melhor na cama do que a setôra. E a setôra, coitada, tendo de responder rapidamente, saiu-se com esta: Sabes lá tu se és melhor; até podes ser pior, essas coisas não se medem com régua. Vamos lá resolver o problema do comprimento da hipotenusa.
E aproximando-se da palestina, virou-se para a turba dizendo:
- Aquele dentre vós que se sentir livre de culpa e senhor da verdade, que atire a primeira pedra.
Mas tende cuidado, porque se a vossa avaliação for a de que estais isentos de culpa ou que sois infalíveis, então é porque sofreis duma psicopatologia, de um autismo isolador da realidade, que necessitará de tratamento.
E segredando ao ouvido da palestina:
- Vai em Paz, mantem-te jovem, mas tem cuidado com a maneira como falas.
E a multidão acalmou, dispersando-se pacificamente pelas montras e pelos restaurantes do centro comercial.