sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Cochichar

cochichar - v. intr.
1. Falar em voz baixa.
2. Dizer segredinhos

de cochicho - s. m.
1. Ornit. Pássaro conirrostro dos campos, espécie de cotovia; calhandra.
2. Brinquedo em forma de fole cilíndrico de que sai um som imitante ao canto do cochicho.
3. Infrm. Chapéu alto amarrotado.
4. Quarto ou casa muito pequena.
5. Acto de cochichar.



Na minha turma da instrução primária havia duas meninas e dois meninos que gostavam imenso de cochichar, não que todos nós não gostássemos de cochichar e não deixávamos de o fazer, mas porque aqueles quatro se destacavam nessa actividade.
Porém, não entre meninos e meninas. Os cochichos eram só entre as duas meninas e entre os dois meninos.
Ao mais pequenino rumor, lá estava uma das meninas para a outra menina, ou um dos meninos para o outro, mas falando alto, para todos nós ouvirmos, a dizer: “Ai a Alzira; o pai dela chegou ontem a casa depois das 8 da noite. Parece mentira. E a Alzira hoje traz uma nódoa na bata na manga esquerda”. E a outra fazia um ar escandalizado, com a mão em frente da boca. Ou então era um dos meninos: “Ai a mãe do Guilherme; vieram-me dizer que almoçou ontem no restaurante ao pé do trabalho com um colega do emprego, e ainda por cima o Guilherme disse à mãe que não quer ir mais à missa". E o outro também, com a mão à frente da boca.
Como perdi o rastro a todos, ignoro se algum deles terá feito carreira nos meios de comunicação social, ou se exerce a actividade de comentador político, e não os tenho reconhecido naqueles que vejo com exposição mediática.
Vem isto a propósito de ter visto hoje no DN a transcrição de um email dum editor dum jornal da nossa praça para um seu colaborador.
Eu não acredito na veracidade dos factos relatados. Não acredito, pronto, até porque no email está a palavra “conseguir-mos” e eu não acredito que um editor de um jornal português escreva uma palavra dessas.
Quanto aos factos relatados no email, também não acredito neles. Por uma razão muito simples: se acreditasse, teria também de acreditar que o actual presidente da República do meu país, assim como os seus colaboradores ou outros membros de outros órgãos de soberania, estariam ao mesmo nível dos meus antigos colegas do cochicho, e eu, nisso, não acredito, nem por sombras, porque eles são meus adversários políticos, é verdade, e os meus adversários políticos não cochicham.
PS - Vá lá, não nos levemos a sério. Como dizia Almada Negreiros (ver as citações na estação Saldanha II) só nos levarão a sério se não nos levarmos a sério (cito de cor, claro). Deixem-me acabar a mensagem assim:
E agora, tenho de acabar a mensagem e fechar muito bem o computador e o disco exterior, porque um colega mais novo que eu anda a invejar o meu lugar e pôs um colaborador a vasculhar o que eu tenho no computador.

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