quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Give up on Afghanistan, president Obama

A Mesquita Azul - Afeganistão





1 – Mossadegh, o petróleo e o Irão
Mossadegh, como primeiro ministro do Irão, expropriou em 1951 a Anglo-Iranian Oil Company (a que mais tarde mudou de nome para BP), que não quis aceitar a compensação de 25% sobre os lucros.
Os governos norte-americano e inglês da altura, açulados por Churchill, que acusou Mossadegh de tendências pró-comunistas (o que era redondamente falso), decidiram promover um golpe de estado organizado pela CIA (está no arquivo desclassificado). O golpe deu-se em 1953 e Mossadegh foi acusado de alta traição. Porém, a sua popularidade levou os juízes a comutar a pena para prisão domiciliar. Morreu 14 anos depois.
Em 2001, Madeleine Albright reconheceu que o golpe da CIA foi um retrocesso no desenvolvimento do Irão e ajuda a compreender por que no Irão não se gosta dos USA e da Inglaterra.

2 – Eça de Queiroz e o Afeganistão
Com a devida vénia, reproduzo de http://emgestaocorrente.blogs.sapo.pt/121420.html
parte do texto de Eça deQueiroz escrito em 1880 a propósito da invasão do Afeganistão. A história repete-se (nas mesmas crónicas há umas páginas aterradoras sobre um massacre cometido pela frota inglesa no Cairo) e não há meio de convencermos os poderes dominantes de que vão por caminho errado.
“No entanto a Inglaterra goza por algum tempo a «grande vitória do Afeganistão» com a certeza de ter de recomeçar daqui a dez anos ou quinze anos; porque nem pode conquistar e anexar um vasto reino, que é grande como a França, nem pode consentir, colados à sua ilharga, uns poucos de milhões de homens fanáticos, batalhadores e hostis. A «política», portanto, é debilitá-los periodicamente, com uma invasão arruinadora. São as fortes necessidades de um grande império. Antes possuir apenas um quintalejo, com uma vaca para o leite e dois pés de alface para as merendas de Verão…(…)”


3 – O general Chrystal e o Afeganistão
"A situação no Afeganistão é grave, mas a vitória ainda é possível e requer uma revisão da estratégia, do envolvimento e da determinação, assim como uma melhor coordenação dos esforços”
Isto disse o general McChrystal, comandante norte-americano no Afeganistão (será que o general Chrystal conhece aquela “boutade” do seu confrade austríaco, na primeira guerra mundial : a situação é catastrófica mas ainda não é grave?).
Por outras palavras, não há solução militar (já dizia Eça de Queiroz). Se a melhor coordenação dos esforços fosse possível, já teria sido realizada, não será?
Desista do Afeganistão, presidente Obama.
Deixe o “flash” Gordon a falar sozinho até perceber que tem de mandar regressar os soldados.
Agora acuse-me de querer abandonar as mulheres afegãs à tirania do fundamentalismo islâmico.
Permita-me discordar.
Já Mossadegh, há mais de 50 anos, dizia que as mulheres na escola e na universidade não precisam de andar de véu.
E não pode ser considerado blasfémia pensar que o próprio Profeta achava que era bom Khadidja e Aisha terem sido mulheres cultas, como qualquer mulher muçulmana pode e deve ser. Não vou dizer quem eram estas senhoras, porque, se sabe quem são, não vale a pena dizer, e se não sabe, deverá ser aproveitada a oportunidade para os seus conselheiros tomarem o devido conhecimento.
É que há uma profunda ligação entre o povo iraniano e o povo afegão.
Pegando na grande sugestão de Gandhi, resolver os conflitos sem violência, eu sugiro que peça o apoio aos “sábios” xiitas do Irão para explicar como é possível deixar ir as moças para a universidade (é verdade que no Irão também as obrigam a andar com o cabelo tapado, mas isso há-de melhorar, também sem violência, como queria Gandhi; sem esquecer que Gandhi se fartou de pregar a produção industrial para poder fazer trocas). E isso, para já é o essencial, que as moças afegãs possam ir para a universidade sem que as lapidem. Os teólogos xiitas podem explicar isso aos “talibans”.
Depois, se quiser dar uma ajuda, é discutir com os estados da região como pôr a economia a funcionar, como é que se podem desenvolver as industrias extractivas no Afeganistão (engraçado, os jornais não costumam explicar que o país é rico em petróleo, gás natural, carvão, urânio, ferro, ouro, prata…) de modo a acabar com o predomínio do ópio no PIB afegão (esta mania de copiar a Califórnia…). Tem de dar a volta por cima, eu sei que não gosta deles, mas terá de ser, pelos vizinhos de cima – Turkmenistan, Uzbekistan, Tadjikistan, China, e não se esqueça de sentar à mesma mesa India e Pakistan… Mas discutir sem armas. Discutir antes a economia… que é o que interessa, mas na perspectiva de Mossadegh...
Give up on Afghanistan, president Obama, proceed like Gandhi. Please.

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