domingo, 28 de agosto de 2011

Citação do Ouro do Reno

"Quem te deu o direito de submeter à servidão o teu próprio irmão?"
Fala de Loge, o deus braço direito de Wotan, para Mime, irmão de Alberich, o Nibelungo, que explorava o seu trabalho e do povo nibelungo, no Ouro do Reno.
O deus Wotan teve de se endividar para mandar construir o palácio Wahalala.
As engenharias financeiras com o Nibelungo não correram bem, a posse do ouro para pagar a questão da dívida tinha uma maldição e sobreveio o Crepúsculo dos deuses, depois da Valquiria e do Siegfried.

Toda e qualquer semelhança com a realidade, como se costuma dizer, é pura coincidencia, e a citação ocorreu-me a propósito dos prejuizos que a EDP e a PT têm tido com os roubos de cobre.
Pelos vistos, a cotação do ouro e do cobre no mercado negro é compensadora para quem o rouba para fundição.
À primeira vista, não pareceria dificil organizar brigadas policiais para detetar o transporte e os locais de fundição. O roubo de uma ourivesaria é rapidamente detetado através de vulgares sistemas de alarme. O roubo de um transformador ou de barras ou cabos de cobre (de média tensão) é rapidamente detetado pela impossibilidade de religação. Dado que o material é pesado, não seria complicada a deteção.
À segunda vista, dir-se-á que os cortes nas forças de segurança limitam a sua capacidade de resposta.

Tambem poderá pensar-se que os cortes na despesa das empresas através da redução dos quadros de pessoal e o panorama geral de desemprego estimulam a atividade do roubo do ouro e do cobre que vai aumentar o PIB através do aumento do consumo por parte dos ladrões e o aumento das despesas de manutenção da EDP e da PT para repor os cabos roubados (agora de liga de aluminio e aço, para reduzir a apetência, à custa de maiores perdas elétricas).
Por isso terá aplicação a citação do ouro do Reno.
Com que direito se condenam cidadãos à marginalidade, à servidão de andarem a roubar as subestações e os postos de transformação?
Em nome da liberdade do mercado e da contenção do défice público e privado?
Para não se gastar dinheiro na prevenção e na repressão vai continuar a deixar-se agravar o fenómeno?
Deveria talvez, salvo melhor opinião, desviar-se o rendimento de outras áreas e canalizá-lo para a prevenção e a repressão deste fenómeno.

Tambem poderá dizer-se que estamos perante mais um exemplo em que uma empresa tem prejuizos cuja fatura deveria poder apresentar ao ministério da administração interna por não exercer o seu dever de garantia de vigilancia e segurança de pessoas e bens; neste caso, da integridade das instalações de média tensão.
Registo de furtos de cobre na EDP desde 2008:
2008 - 2,853 milhões de euros
2009 - 4,507 milhões de euros
2010 - 9,087 milhões de euros
2011 (até 15JUL) - 7,977 milhões de euros

Pode ser que um dia um senhor ministro ache que isto não pode continuar assim (isto, o roubo de ourivesarias e de subestações), mas parece que o assunto não tem grande interesse mediático, pelo menos enquanto não começar a faltar a luz em casa de senhores importantes.


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