sábado, 6 de agosto de 2011

Semiótica II - o corte de cabelo

Entrevistada, a socióloga de aplauso mediático declarou que gostava do corte de cabelo do ministro das finanças Vitor Louçã Gaspar. Cabelo curto e espetado, desenvolvendo-se em redemoinho.
Uma análise semiótica interpretará tal corte como sinal de disciplina interior, de arrumação de ideias, de simplificação de conceitos.
Poderá indiciar também o desprezo de análises secundárias de maior profundidade, preferindo contentar-se com as ideias feitas das sebentas.
Tais sinais são perfeitamente compatíveis com a resposta dada aos senhores deputados que propunham a tributação extraordinária dos dividendos: que se estava em período de captação de depósitos e de investimentos de particulares, e por isso não os queria afugentar com penalizações de dividendos ou mais valias, que é na verdade uma ingenuidade que consta das sebentas.
Ou o corte de cabelo pode ser ainda o sinal de preferencia por cortes severos.
Assim como o sistemático uso de casacos um numero acima poderá significar a vontade de inscrever no orçamento folgas que na verdade não deviam ser preenchidas.
E há ainda outro sinal interessante deste senhor ministro.
Uma das ultimas fotografias mostra um rosto já liberto dos receios das primeiras apresentações perante a assembleia de deputados. Os olhos revelam agora a segurança do professor que dispõe de informações assimétricas e que já deixa transparecer a contrariedade por ter de ouvir os irresponsáveis que discordam da assimetria distributiva dos sacrificios que ele vai paulatinamente traçando. Como este blogue costuma escrever, a fé nos dogmas do mercado e da diminuição da capacidade de intervenção do Estado dá esta segurança aos seus sacerdotes, à espera de que a redução das despesas públicas equilibre as contas (apesar da divida privada ser superior à divida publica) , ou, como na religião do cargueiro, que a livre iniciativa dos grandes grupos económicos "puxe" pela economia. Ou como J.M.Pureza escreve, o Tea Party subiu ao poder em Portugal e lá vai implementando a sua obsessão de zerar o Estado.
Critérios que a semiótica lá vai explicando.


Nota 1- A religião do cargueiro surgiu nas ilhas do Pacífico antes da segunda grande guerra. Os seus sacerdotes associaram a chegada de cargueiros com a abundancia de produtos importados que davam bem estar às populações. O papel dos sacerdotes passou então a ser o de implorar a vinda de cargueiros e em justificar a sua chegada com as suas preces. Repetindo com muita fé que os grandes grupos económicos têm muita vocação para gerir as coisas de interesse público, acabaremos todos por acreditar que as suas benesses chegarão.
Nota 2 - Basicamente, a ideologia do Tea Party é a oposição radical a gastos publicos

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