sábado, 25 de fevereiro de 2012

A fé e a meteorologia

Elias, o profeta, por alguma razão tinha aprendido a lei de Buys-Ballot.
Ou porque algum extra-terrestre que não se mostrou a mais ninguém lha tenha explicado, ou porque ele próprio a deduziu depois de muita observação e partilha de informações com os pastores das planícies e das montanhas.
Vivia-se um período de seca e os pastos eram insuficientes para o gado, a base da economia de Israel.
Paradoxalmente, o povo deu ouvidos aos sacerdotes de Baal que lhes prometeram que os sacrifícios que os mais desfavorecidos sofriam com a seca iriam valer a pena.
O crescimento da economia, assente no gado, foi prometido ao povo para daí a um ano, quando regressasse a chuva.
O paradoxo era que os sacerdotes de Baal e os seus mais diretos apoiantes viviam confortavelmente, apesar da seca, enquanto o povo via os seus rendimentos diminuídos.
Mas os sacerdotes de Baal tinham encanto ao falar, ao explicar que as desigualdades eram a própria vontade de Baal, o deus do ouro, e o casal real, Acabe e Jezabel, era simpático aos olhos do povo.
A lei de Buys-Ballot que Elias descobrira, na versão que ele utilizava, era simples: dando as costas ao vento bárico, para a esquerda fica o centro de baixas pressões, sempre sensível às massas de ar marítimo, húmidas, a descambar para a chuva, e à direita fica o centro de altas pressões, a que muito mais tarde, no despertar da ciência iluminista, os primeiros climatologistas chamaram o anti-ciclone, distribuidor do bom tempo sem chuva.
Elias foi entretendo os sacerdotes de Baal com as discussões eternas que desde sempre entretêm o povo sem lhes dar hipótese de aceder às alavancas dos mecanismos económicos.
Até que pressentiu a mudança no vento bárico e, pela variação da direção e da intensidade do vento, percebeu que o anti-ciclone se encaminhava lentamente para o interior do Mediterrâneo, enquanto o centro de baixas pressões se aproximava da Palestina, vindo do Eufrates, criando assim condições para que as massas de ar marítimo, carregadas de humidade, pudessem ser sopradas para a Palestina.
Elias correu a anunciar ao povo que a chuva se aproximava, enviada pelo deus de Israel, e que assim se verificava a superioridade de Yavé sobre Baal porque Yavé era o deus da chuva, não Baal.
Os sacerdotes de Baal não gostaram e continuaram a insistir na teoria da recessão para o imediato e do crescimento e da chuva para mais tarde.
Elias tinha razão, para além da fé que tinha.

Choveu e o povo, convencido, mudou a sua simpatia de Baal para Yavé (Livro 1 dos Reis, 18:38 a 46).

Lembrei-me desta história ao ouvir na Antena 2 uma senhora de Mértola informar que tinham feito uma celebração e agora lhes restava”dar tempo a Deus para que lhes concedesse a graça da chuva que lhes tinham pedido”.
Lembrei-me também por ouvir a senhora ministra Assunção Cristas dizer que era uma mulher de fé e que esperava que chovesse, para além de ter pedido um “levantamento” das situações críticas.
Lembrei-me também por ouvir a fé que ministros das finanças, de economia e o primeiro ministro mostram orgulhosamente.
Por exemplo, as entrevistas dadas a jornais estrangeiros pelo senhor ministro das finanças Vítor Louçã Gaspar, em Setembro de 2011, que o crescimento irá voltar a Portugal em 2013       
 ( http://www.jn.pt/PaginaInicial/Economia/Interior.aspx?content_id=1979442&page=-1 ) ,
e em Fevereiro de 2012 que o crescimento voltará em 2014 

Fé em Baal ou fé em Elias? Metodologia sacerdotal ou metodologia científica?

Pena este blogue não ter uma solução para tão grave problema que seja aceite pelo povo, que nem liga à lei de Buys-Ballot, mas que acha, este blogue, que a fé deve ser para outros domínios, lá isso acha.

Notas - O texto supra contem algumas adaptações das descrições bíblicas para ilustração de condições atuais, pelo  
              que essas adaptações não são compatíveis com as versões oficiais da Bíblia.
              A parte do texto  que se refere ao episódio bíblico dos versículos referidos  está compatível com estes.
              Omitiram-se os episódios sanguinolentos que se encontram nesta parte do Livro dos Reis.

Sem comentários:

Enviar um comentário