quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012



http://en.wikipedia.org/wiki/The_Girl_with_the_Dragon_Tattoo

http://www.dragontattoo.com/site/


"The girl with dragon tatoo", filme de 2011 de David Fincher,em inglês, sobre o livro de Stieg Larsson "Men who hate women". Existe outro filme de 2009 com o mesmo tema, em sueco, de 2009, de Niels Oplev.

Trata-se de um policial com a investigação de um desaparecimento 40 anos atrás, aspetos psiquiátricos e sociológicos interessantes e ingredientes da cultura mediática atual.
A heroína é uma "hacker" de aspeto "funck" que deixa mal vista a segurança social sueca mas que tem dotes de memória fotográfica e de capacidade informática notáveis.
Como o filme é comprido e de ação temporal irrealista, varre temas atuais como a corrupção e os off-shores internacionais, a violencia contra as mulheres, a liberdade de expressão, o anti-semitismo, o fundamentalismo religioso.
O que acaba por cansar o espetador, embora o cansaço não deva ser motivo para impedir a atividade artística.

Interessou-me ver de mais perto a questão do fundamentalismo religioso que o filme ( e o livro) aflora.
Na agenda da desaparecida encontravam-se alguns numeros que, ao serem interpretados como versículos do livro Levítico, da Bíblia, permitiram o esclarecimento de uma série de crimes que tinham ficado por resolver e que estavam ligados aos "homens que odeiam mulheres".

data do crime, nome da vítima, local do crime e versiculo do livro 3 do Levítico relacionado com o crime

Como as vítimas eram judias, temos também uma ligação ao anti-semitismo e ao apoio à invasão nazi por parte de representantes do poder económico sueco drante a segunda guerra mundial.
A forma de execução dos crimes sobre as mulheres revelou também o perigo de interpretações literais da Bíblia, o que remete para a questão do fundamentalismo e da dificuldade em aceitar a Bíblia como guia de orientação social.
Como Saramago dizia, a Bíblia é um bocado sanguinária e o seu deus também.
Aliás, quem pôs na boca de Jesus Cristo a afirmação de que os antigos eram brutais e que o novo testamento privilegiava a ideia da misericórdia, também achava o mesmo.
A não violencia de Gandhi também contrasta com o clima sanguinário, vingativo, invasor e opressor da Bíblia, pelo que da discussão destes temas se poderia fazer uma arma contra os conflitos religiosos e fundamentalistas que nos atormentam nos tempos que correm.
Explicar a um fundamentalista islâmico (o que exige mediadores, claro) que as suas ações são contra os mandamentos de Alá porque a interpretação literal não pode opor-se ao significado de Islam, que quer dizer paz, talvez fosse mais eficaz do que enviar drones que matam camponeses que não estão a fazer a guerra.
Mas vamos aos versículos do filme Homens que odeiam mulheres", aplicáveis a algumas das vítimas:

Levítico, 07.27 - os que comerem sangue serão ostracizados
    «      , 18.22 - dois varões que coabitem sexualmente serão mortos
    «      ,  20.10 - o homem e a mulher que cometerem adultério serão mortos
    «      ,  20.14 - homem e sogra que tiverem relações serão mortos
    «      ,  20.16 - quem tiver relações com um animal será morto
    «      ,  20.18 - quem tiver relações durante o período menstrual será ostracizado
    «      ,  20.27 - quem praticar espiritismo será  morto por apedrejamento
    «      ,  21.09 - a prostituta que seja filha de um sacerdote será morta pelo fogo
 
Um bocadinho preocupante, de facto, se uma mente perturbada optar por uma interpretação literal.
Aliás, é no Levítico que vem a lei de Talião, a tal da espiral de violencia.
Mas valha a verdade que algumas coisas que vêm na Bíblia tinham a sua justificação (por exemplo, a proibição de comer carne três dias depois de cozinhada, atendendo a que não havia frigoríficos nem terem ainda sido descobertas as virtudes conservativas do fumeiro) e a muitas outras apetecia dar uma interpretação literal, por exemplo, Exodus, 22.24 - não cobrarás juros pelos empréstimos de ajuda que fizeres (que dirão os gregos ortodoxos, que têm de pagar 190% de juros).

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