terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

O artigo do DN sobre as "regalias" dos trabalhadores dos transportes

Fiquei chocado quando li o artigo do DN aqui referido:
http://www.dn.pt/inicio/tv/interior.aspx?content_id=2316670&seccao=Media&page=-1

Por isso tomei a liberdade de enviar ao senhor diretor o seguinte email.
Veremos se tem seguimento.





Exmo Senhor Diretor


O DN de 2012-02-21 titula a toda a largura da primeira página “Trabalhadores dos transportes não pagam medicamentos e recebem baixa por inteiro” e remete para uma página interior com o título “Empresas de transportes mantêm regalias e benefícios em crise”.

O DN não pode ser acusado de faltar à verdade, porque infelizmente alguns trabalhadores se aproveitaram abusivamente das disposições do acordo coletivo.

Porém, quando escreve deste modo, o DN pode ser acusado de induzir alguns leitores a uma generalização (em vez de “trabalhadores”, facilmente se lerá “os trabalhadores”) que é desprimorosa para a maioria dos trabalhadores.

A notícia baseia-se num “levantamento” pelo ministério dos transportes que facilmente e desejavelmente poderá ser contrastada e melhor esclarecida junto das organizações de trabalhadores e das próprias administrações.

Por este motivo e por ter sido trabalhador do Metropolitano de Lisboa, sinto-me chocado com o tratamento desta questão pelo DN.

Embora não sendo a pessoa indicada para esclarecimentos por ter trabalhado na parte técnica, sobre as baixas, direi que as empresas deixam de pagar ao fim de um intervalo de tempo legal do início da baixa e que têm mecanismos de comprovação da licitude da baixa através de visitas domiciliárias (infelizmente, a Segurança Social carece de meios para resolver as situações de doença crónica que atinge alguns dos trabalhadores).

Sobre os “remédios à borla”, direi que as exigências burocráticas são tão grandes que no meu caso desisti do complemento.

Sobre as horas extraordinárias, direi que em 37 anos nunca recebi nenhuma, e como eu muitos colegas, o que não impediu o nosso trabalho em fins de semana e feriados para que os comboios pudessem entrar em serviço nas ampliações da rede, precisamente nesses dias para facilidade de correção de alguma deficiência imprevista.
Sobre como escrever “oferta superior à procura em 400%” pode induzir em erro o leitor desprevenido, terei todo o prazer em esclarecê-lo do ponto de vista técnico à distância de um clique, se V.Exa tiver interesse nisso.

Sobre os montantes das dívidas das empresas de transportes, recordo que até 1988 as dívidas para as expansões do metro eram consideradas dívida pública e não da empresa, coisa alterada a partir de 1993, salvo erro.

Sobre o complemento de reforma direi que a partir de há alguns anos os trabalhadores admitidos no metro já a ele não têm direito. No meu caso, devido a 40 anos de descontos, nos termos da lei, resultou um complemento de reforma de 65 euros. Somado à pensão, totaliza 3.200 euros (líquido), que compara com o ultimo ordenado de 3.600 euros (líquido), contrariando o vosso texto. É verdade que é uma boa reforma, mas tomo a liberdade de recordar que em 1974, data da minha admissão no metro, o ordenado ilíquido de um técnico de engenharia no primeiro ano era de 54,5 euros e na grande empresa privada que para mim foi alternativa possível era de 85 euros, sendo que ninguém na altura, à exceção do MRPP, criticava as “regalias” dos vencimentos dos técnicos de engenharia.

Por tudo isto, muito apreciaria que a vossa notícia fosse alvo de melhorias

Poderá V.Exa dispor da presente missiva como bem entender.
Com os melhores cumprimentos

F.Santos e Silva

PS - Ainda sobre horas extrardinárias e outros subsídios, gostaria de recordar, sem prejuízo de uma negociação em função da crise atual, que os valores recebidos pelos trabalhadores, quando aplicável, não contam para a reforma e que existem disposições legais, como a isenção de horário  de trabalho, que podem reduzir o montante global respetivo.







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