Penso que é precipitada a ideia de que La fille du regiment é uma ópera ligeira e sem pretensões.
A ópera pode ser subversiva como a canção de intervenção e de protesto.
O primeiro ministro da Hungria foi vaiado quando se dirigia ao teatro de ópera.
Talvez por isso, e pela sua grande insensibilidade ao que seja arte, não se veem nem o senhor presidente da República nem o senhor primeiro ministro no camarote principal do São Carlos.
E não será por vergonha por estarmos tão longe do 1% do PIB no orçamento da cultura.
Não sentem mesmo a ópera.
Toleram quem trabalha nesta área.
Aplausos para o teatro de São Carlos eu conseguiu apresentar duas óperas neste final de ano.
E permita-se-me a interpretação da Fille du regiment: uma sociedade anquilosada sob a estrutura do domínio feudal e sem instituições participativas (a nobreza austríaca na ocupação do Tirol) é contrariada pelos ideais da revolução francesa (libertando a filha da marquesa para que possa casar com o jovem lavrador tirolês dos seus afetos – que ironia do destino ser um ditador como Napoleão a espalhar ideiass de fraternidade, igualdade e liberdade). Não admira que o encenador tenha apresentado a heroína como se fosse a estátua da Liberdade.
Liberdade que, nos termos dos ideais da revolução francesa, não parece estar de saúde no país dirigido pelas estruturas anquilosadas do senhor primeiro ministro e do senhor presidente da Republica.
Aplausos especialmente para os intérpretes, de que se destaca o soprano Cristiana Olveira, sem desemerecer no bom nível dos restantes.
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