sexta-feira, 14 de abril de 2017

Também eu comento o senhor Dijsselbloem (Daisselblum)


A propósito de um artigo de Paulo Ferreira:
https://eco.pt/opiniao/dijsselbloem-e-nos-as-virgens-ofendidas/

Claro que há muitas virgens ofendidas por aí a fazer o que as virgens ofendidas costumam fazer, armar em vítimas. E não aceitam o que o Millor Fernandes disse uma vez a uma delas, "não se ofenda, eu já sei o que a senhora faz, só quero discutir o preço". Mas independentemente do folclore desta história, penso que é interessante  analisar a psicologia dos cidadãos holandeses (ver por exemplo o Rentes de Carvalho). A história das relações com os holandeses é curiosa. Sempre tivemos boas relações comerciais com a Flandres, que a ocupação filipina estragou , ao mesmo tempo que induziu conflitos nas colónias e entrepostos comerciais.Importavam-se queijos e  exportava-se sal. Depois no século XVIII fez-se outsourcing, poupou-se no investimento em navios e pagou-se o frete aos holandeses para transportar o quinto do ouro do Brasil para Portugal.
É interessante também a história da emigração de gente qualificada para a holanda. Um professor português contou que, depois de muitas conversas com o colega holandês veio a talhe de foice a perseguição aos judeus em 1506 (se não erro) a partir dum episódio na igreja de S.Domingos. E o holandês respondeu: eu sei, descendo de um dos fugitivos dessa perseguição. 
Estive alojado durante 1 semana durante parte de um estágio de 2 meses na Holanda. Os senhores já tinham uma certa idade , eram simpáticos e delicados, mas via-se que tinham a curiosidade dos alfa do admirável mundo novo a ver como eram os selvagens do sul . Quando a minha mulher foi ter comigo o homem do serviço de estrangeiros do aeroporto não queria acreditar que voltávamos 2 meses depois.
Mais tarde, numa reunião na UITP de metros com um alemão, este teve a lata de dizer que parecia impossivel o representante de Lisboa, que era eu, não ter mandado o trabalho de casa combinado. Eu nestas coisas não gosto de discutir em público , de modo que no intervalo da reunião fui-lhe mostrar cópia do trabalho que lhe tinha enviado. Pois o homem não foi capaz de pedir desculpa.
Temos de compreender a psicologia dos homens do norte (de alguns, claro, mas parece que da maioria) , acham-se mesmo superiores, faz parte do ADN deles, quando se enganam acham natural, não é preciso pedir desculpa, porque raramente se enganam e errar é humano, e se for preciso faz-se uma norma para regular os procedimentos. E o pedoal do sul é mesmo atrasado. Os elogios que fizeram quanto ao tratamento das vítimas  do acidente aéreo no aeroporto de Faro com um avião holandês (muitos morreram porque o avião a aterrar trazia combustível para o regresso porque não havia confiança no combustível num país tão atrasado), mostrando surpresa por terem sido tão eficazmente tratados no hospital de Faro, confirmou a desconfiança  prévia no nosso país. Quando a rainha cá veio, havia um jato pronto no aeroporto de Beja para levar a senhora para a Holanda se fosse preciso (ao menos o Cameron foi ao posto de saúde em Monchique).
Em resumo, temos de compreender que eles se acham superiores e ficam muito surpreendidos quando lhes demonstramos o contrário.
Talvez para apaziguar os povos do norte, nós, os povos do sul, possamos citar a moral luterana, e citemos João Sebastião Bach, em "Nimm von uns, Herr" (Livrai-nos, Senhor): 


"Porque assim te queres zangar?
as ardentes chamas da tua vingança
sobre nossas cabeças caem sem tardar
Ah, porque não paras de nos castigar
e com a tua paternal solidariedade
não  ofereces a tua clemência à nossa fraca carne?"

Mas infelizmente é verdade, muitos de nós parecem apostados em dar-lhes razão, com a nossa incapacidade para nos organizarmos e planearmos e projetarmos faseadamente empreendimentos reprodutivos ao longo de planos de duração superior aos ciclos eleitorais, em vez de gastarmos 5000 milhões de euros em automóveis e jogo on-line.
Apenas uma ligeira correção ao texto de Paulo Ferreira, que até é equilibrado: há auto-estradas às moscas e há auto-estradas que não estão às moscas (as célebres 3 autoestradas do Porto, pelo menos quando eu lá vou, estão sempre cheias), e entre 2000 e 2009 gastou-se em autoestradas 13% dos fundos comunitários, em contraste com 8% em ferrovia, 5% em metros e 1,38% em  aeroportos . Mas em infraestruturas de comunicações gastaram-se 16% (precisamos assim tanto de télélés?). Dados de Marvão Pereira, ed. FFMS.


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