segunda-feira, 3 de abril de 2017

Descarrilamento na Adémia em 1 de abril de 2017

Sobrepondo-se à guerra e à violência por esse mundo, as duas notícias de hoje, mortes em Mocoa na Colombia por deslizamento de terras (espera-se da engenharia colombiana medidas para reduzir os riscos de repetição) e mortes no metro de S.Petersburgo, só podem levar-me a votos de condolências para os familiares das vítimas.

Mas gostaria de escrever qualquer coisa sobre o descarrilamento da Adémia.

A minha experiencia ferroviária limitou-se ao metropolitano mas fiz tambem alguns trabalhos no ambito mais vasto da análise de riscos. Nessa perspetiva, considero muito grave o descarrilamento da Adémia que associo a um risco classificável segundo a norma 50126 como intolerável, dada a probabilidade não nula de presençade um comboio de passageiros na via contrária à do acidente.
Felizmente não aconteceu, mas se um comboio de passageiros tivesse partido de Coimbra B pouco antes do descarrilamento, não teria espaço para parar, apesar da ocupação dos circuitos de via e da destruição das catenárias pelo descarrilamento. Distância do local do acidente a Coimbra B: 3,9 km.
Por não ter esperança que a CP, a IP/REFER, o GISAF (agora GPIAAF) ou a Transfesa/DB Schenker prestem a curto prazo informação consistente sobre as circunstancias e causas do acidente (consultados os respetivos sites em 3 de abril à tarde, são omissos sobre pistas de investigação, em postura diametralmente oposta à cultura anglo-saxónica perante acidentes), formulo aqui deduções e hipóteses que podem não corresponder à realidade, pedindo aos colegas que possuam informações que as corrijam.
Aparentemente o comboio terá saído da fábrica de cimentode Souselas com vagões da Transfesa/DB Schenker com cinzas (ou cimento?) com destino a Sines. A ligação à linha do norte é feita por uma agulha de talão a 3,2 km do local do acidente. Ponho a hipótese de uma deficiência num dos vagões ou na agulha (rodados fora das especificações geométricas de projeto ou de homologação, nomeadamente diâmetro ou conicidade; gripagem dos pivots), ou numa segunda agulha, esta de ponta e a 3 km do local do acidente (é possível uma peça suspensa encaixar num componente de uma agulha de ponta e descarrilar um rodado). A hipótese é também a do vagão parcialmente descarrilado ter sido arrastado e tombado na ligeira curva para a direita imediatamente antes do local do acidente. Seguiu-se o "harmónio" dos outros vagões ocupando ambas as vias . A locomotiva não terá descarrilado. A assinalar ainda dois pequenos viadutos, provavelmente com aparelhos de dilatação, a 1,3 km e a 3,05 km a montante do local do acidente.
Neste caso, as ligações desativadas Figueira da Foz-Pampilhosa ou Covilhã-Guarda não constituem percursos alternativos para este tipo de serviço que terá sempre de utilizar um troço da linha do norte.
Isto põe a questão da saturação da linha do norte (pendolinos, intercidades, regionais, mercadorias, manutenção) que, por si só e do meu ponto de vista, justificaria uma linha nova dimensionada para 350km/h (não necessariamente para ser explorada com esta velocidade) dedicada a passageiros para substituir parcialmente o tráfego aéreo Lisboa-Porto, mais ineficiente energeticamente. Mas enfim, não há dinheiro (notícia de hoje do DN: os contribuintes portugueses já contribuiram com 13 mil milhões de euros para resgate de bancos (apesar de 6 mil milhões do resgate europeu não terem sido utilizados).
Uma palavra ainda de confiança no valor e na experiência dos colegas da manutenção da REFER e no seu compromisso com a segurança apesar de todos os constrangimentos.
 Aguardam-se esclarecimentos que não sejam par a "plateia ver", da CP.IP/REFER, GPIAAF, Transfesa/DB Schenker.

http://www.tvi24.iol.pt/sociedade/descarrilamento/linha-do-norte-cortada-por-tempo-indeterminado


sentido de deslocamento para a direita; efeito harmónio


agulha de ponta a 3 km, a verificar se tem vestígios de toque

local do descarrilamento, à saída de curva ligeira


outra foto do mesmo rodado

percurso de 3,2 km do ramal da fábrica de Souselas ao local do acidente 
trabalhos de remoção dos vagões cisterna (80 ton?) com grua mais potente; noto que infelizmente o trabalhador na foto não usa capacete de segurança, apesar de manipular as correntes de suspensão
PS em 4 de abril - Informação da IP/REFER de hoje: circulação restabelecida através de uma das vias com limitação a 30 km/h. Nenhuma informação sobre hipóteses de explicação do acidente nem medidas tomadas para investigação ou para evitar a repetição, o que naturalmente lamento.
Entretanto, amáveis comentadores observaram que o troço do acidente tem a via por modernizar (apesar das travessas serem bibloco). Falta ainda modernizar cerca de 30% da linha do norte, tarefa cara e dificil dado o seu tráfego intenso: Ovar-Gaia, Entroncamento-Santarem e CoimbraB-Pampilhosa. Faz de facto muita falta uma linha nova. O troço do acidente tinha limitações de velocidade dado o estado da via. Admite-se assim que um problema de via, por exemplo balastro em falta, fadiga da via ou combinação com uma deficiencia de um vagão deu em acidente. Uma palavra para o esforço de quem está a trabalhar na reparação. 
Informação no site do GISAF: última investigação em curso - Descarrilamento do comboio de passageiros IR 868 na estação da Livração, na linha do Douro, em 15-01-2017, processo aberto em 27 de fevereiro. Escrevo isto como protesto pela privação de meios imposta ao GISAF.
Do site da Transfesa, última notícia - Transfesa lançou uma nova web em 30-4-2015.  Como se diz num programa da Euronews, "no comments".
PS em 10 de abril - segundo informação do GISAF, agora GPIAAF, de 7 de abril, foi aberta investigação ao descarrilamento de 1 de abril. É dad a informação de que o comboio circulava dentro dos limites de velocidade, e que a operadora é  a Medway. Última notícia no site da Medway:01 de fevereiro 2017MEDWAY GANHA CONTRATO COM A ALB





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