Os transportes de passageiros na
área metropolitana de Lisboa desenvolveram-se com a construção das linhas de
caminho de ferro nos finais do século XIX e início do século XX, como eixos de
penetração na capital, com a concessão dos elétricos à Carris, com empresas de
camionagem como a Eduardo Jorge e a Isidoro Duarte, entre muitas, e com a
travessia fluvial do Tejo.
Depois da 2ªguerra mundial o
transporte ferroviário suburbano cresceu com o afluxo da população à capital
(linhas da Azambuja, de Sintra, de Cascais e, mais recentemente, da ponte 25 de
abril). Mas foi principalmente o transporte individual (TI) que se desenvolveu,
criando-se uma boa rede de autoestradas de acesso (A1, A8, IC19, A5 na margem
norte, A2 e A12 na margem sul) e de circulação externa e atravessamento da
cidade (CRIL, CREL, A16, eixo N-S na margem norte, A33 na margem sul).
Tem de assinalar-se o
desinvestimento gritante na rede ferroviária no século XXI, levando à
degradação dos serviços, com limitações na manutenção e carência de material
circulante. Na área metropolitana de Lisboa o caso mais grave é o da linha de Cascais.
Na rede do metropolitano houve
uma evolução zigzagueante em torno do plano de expansão de 1974, este elaborado
com o apoio de um consultor estrangeiro. Assistiu-se a sucessivos acrescentos
dependentes da inspiração momentânea de governantes ou entidades influentes,
desligados de um plano coerente e integrador.
São exemplos a ligação do
aeroporto à estação Oriente, com curvas e declives não aceitáveis em linhas de
metro, a linha circular (idem) e a não extensão do metro à zona de Alcântara.
O crescimento desordenado da
urbanização de toda a área metropolitana, sem um planeamento integrado das
infraestruturas de transporte, e o predomínio do transporte individual
conduziram à atual situação, em que é enorme o desperdício de energia importada
e a produção de emissões poluentes, e em que é extremamente difícil fazer com
eficiência investimentos em infraestruturas de forma contida, isto é, com
retorno.
São necessários investimentos
elevados e prolongados no tempo para conseguir o retorno pretendido, que poderá
sintetizar-se na transferência significativa de deslocações do transporte
individual para o transporte coletivo (TC) ferroviário, reduzindo as emissões e
passando o TI de 70-80% das deslocações em veículos de 4 ou mais rodas para
40-50%, em linha com os países europeus.
A justificação desses
investimentos reside no facto do transporte ferroviário ter um consumo
específico de energia por passageiro-km inferior ao transporte rodoviário, e
consequentemente ser menos poluente e produzir menores externalidades
(sinistralidade, congestionamento, doenças respiratórias) para volumes
significativos de tráfego.
Sobre os benefícios de uma
transferência de 10% do tráfego automóvel para o transporte ferroviário pode
ver-se as páginas 43 e seguintes do manual condensado de transportes metropolitanos
https://1drv.ms/b/s!Al9_rthOlbwehWMdmBJ_Q06Wk7XH
Ao projetar uma rede de
transportes é essencial considerar vários parâmetros:
- a organização ou desorganização do urbanismo de toda
a área metropolitana segundo o critério TOD (transit oriented development –
nenhuma habitação ou ponto de emprego a mais de, por exemplo, 800 metros de um
estação de metro; ver págs 56 e 64 do manual referido)
- a população residente em cada zona da área
metropolitana e a capacidade de atração de cada zona em termos de empregos e de
fornecimento de serviços (matrizes origem-destino) . Considerar as populações,
as densidades de habitantes e as capacidades horárias e por sentido requeridas
por modo de transporte nos diapositivos 11 a 13 da apresentação
- realização de inquéritos e sondagens para
obtenção de dados atualizados como o número de deslocações diárias em veículos
de 4 ou mais rodas por modo, e o número de deslocações diárias em modos suaves,
em função da população residente (ver no referido manual págs 86 e seguintes)
- recurso a modos complementares de transporte, transversalmente aos eixos principais do transporte pesado para
serviço de bairros ou zonas menos populosas, com utilização de novas
tecnologias como veículos autónomos de pequena capacidade em percursos segregados
e a pedido (ver:
•
págs 87-88 e págs 169 e seguintes do referido
manual
•
e em
Exemplos de traçados
como hipóteses possíveis para a área metropolitana de Lisboa no manual
referido, págs 55 e seguintes. Também no diapositivo 9 da apresentação
Observa-se a possibilidade do prolongamento de cerca de 4
km (200 a 250 milhões de euros) da linha de Odivelas até à zona do Hospital
Beatriz Angelo, onde deveria ficar um parque dissuasor para os utilizadores da
CREL. Em alternativa, iniciar a construção da grande circular externa
(Algés-Alfragide-Damaia-CRIL-Odivelas-Loures-MARL-Sacavem) pelo troço
Odivelas(correspondência com o metro)-Loures-Infantado, em viaduto e nalguns
troços em aterro, e portanto mais barato por km (6 km/ 100 a 200 milhões de
euros).
Na zona sudeste do concelho de Loures é viável o
prolongamento para Portela e Sacavem do ramal deixado a poente da estação
Moscavide do metro, com parque dissuasor para os utilizadores da A1 e do IC2
com correspondência com a estação de metro de Sacavém e a estação da CP (3 km/ 150
a 200 milhões de euros). No entanto, a utilização desse ramal irá diminuir a
operacionalidade da linha do aeroporto, reduzindo a fiabilidade e a frequência
máxima possível dos comboios. Deverá por isso encarar-se a hipótese de, num
futuro com maiores disponibilidades financeiras, fazer a desligação do troço do
Aeroporto relativamente à linha vermelha de Oriente, a qual seguirá para
Portela e Sacavem, enquanto a linha do Aeroporto poderá ser prolongada em túnel
submerso para a margem sul, com correspondência com o eventual novo aeroporto.
Não é economicamente viável nem devemos
defender para o modo metro soluções particulares do tipo porta a porta porque o
volume de passageiros transportado não compensa o investimento e porque se
perde a visão de conjunto e se distorce a escala de prioridades que, no
contexto atual, parece privilegiar a extensão do metro a Alcântara para serviço
da zona ocidental da cidade e correspondência com a linha de Cascais.
Sem qualquer intuito de querer considerar
como as melhores as soluções que apresentei no manual condensado de transportes
metropolitanos, elas são apenas hipóteses que devem ser comparadas com muitas
outras em termos de análise de custos (incluindo custos de financiamento,
construção, manutenção e operação) e benefícios (incluindo economia global de
combustível, de tempos de percurso, de redução de poluição e de
sinistralidade).
Deve ter-se presente que o
investimento em redes de metropolitano integra-se na orientação da UE para a
eficiência energética e redução de emissões, pelo que poderá beneficiar de
cofinanciamento comunitário. Com a condição sine qua no dos respetivos projetos
estarem bem elaborados e enquadrados numa visão geral de organização do
território, o que se receia não estar a ser bem compreendido a nível da participação
na EU pela parte portuguesa.
Toda e qualquer definição de
prioridades deve ser feita com a participação dos cidadãos, o que é exatamente
o contrário do que a equipa da mobilidade da CML tem feito.
É verdade que têm divulgado que
estão estudando soluções como a ligação em light rail (elétricos) Cruz Quebrada-Jamor-Linda
a Velha-Miraflores-Restelo-Santo Amaro (com correspondência com a linha
vermelha do metro a expandir – trata-se duma ideia interessante, mas é
necessário discutir o pormenor dos traçados e a sua integração na escala de
prioridades), a ligação também em light rail Baixa-Parque das Nações (idem), a
transformação da linha de cintura da CP, incluindo as estações Marvila, Braço
de Prata e Picheleira, em serviço urbano (topologicamente a ideia é correta,
mas apesar da quadruplicação da linha em alguns troços, o serviço intensivo de
intercidades, regionais, suburbanos, mercadorias e necessidades de manutenção, e
os cruzamentos de nível comprometem esta solução). Falou-se também na ligação
subterrânea (parcial) da linha de Cascais à linha de cintura (idem, com a
agravante da construção subterrânea no vale de Alcântara ser formalmente
contraindicada por razões técnicas).
Porém, o que a CML tem feito é
apresentar como factos consumados intenções de projeto que não foram sujeitas a
debate público. Este método não é correto, como o demonstra o plano da linha
circular do metro, aprovado com base num estudo de impacto ambiental (EIA) que
contem incorreções e que ignorou a ausência de submissão a consulta pública do
plano de expansão da rede do metro de 2009, do qual a linha circular deriva, que
ignorou as divergências com as orientações do PROTAML (Plano Regional de
Ordenamento do Território da Área Metropolitana de Lisboa) e que ignorou
igualmente a comparação com alternativas significativas como o prolongamento a
Alcântara.
Por oposição a este
comportamento, não será difícil às entidades responsáveis responderem aos
contributos que lhes são enviados (por exemplo, no âmbito do PNI2030 – plano nacional
de investimentos) como sugestões ou comentários e convocarem sessões alargadas
para debate das soluções, com divisão dos participantes em grupos de recolha e
síntese das conclusões e subsequente divulgação pública.
É este debate público e
informado, sem imposições de caminhos a seguir, antes orientado para a revisão
do plano de expansão da rede do metro de 2009 compatível com as orientações do
PROTAML e com a participação do CSOP
(Conselho Superior de Obras Públicas), com identificação dos pareceres dos seus
componentes, que se deseja.
Sugestões de alterações ao plano de expansão de 2009 |
LIGAÇÕES PARA
DOCUMENTAÇÃO SOBRE O PROLONGAMENTO RATO-CAIS DO SODRÉ
(Nota: os dois
primeiros documentos foram elaborados pouco depois do mapa de 2009)
•
Sugestões ao metropolitano, 2010 (ver págs
18-21):
·
Expansão do metropolitano:
•
Email
para SEAAmb 17set2018 https://fcsseratostenes.blogspot.com/2018/10/o-plano-de-expansao-do-metropolitano-de.html
• Apresentação
na Casa da Juventude de Odivelas em 22 de outubro de 2018:
·
Modos complementares:
·
Apresentação em Telheiras 20nov2018
•
Queixa por ilegalidade do TUA: https://fcsseratostenes.blogspot.com/2019/01/copia-da-carta-recebida-de-uma-senhora.html
·
Apresentação Biblioteca Orlando
Ribeiro 1fev2019
·
Estudo de hipóteses de exploração das linhas de Odivelas e circular
·
Apresentação Junta Freguesia Estrela 9mar2019
Sem comentários:
Enviar um comentário