domingo, 28 de novembro de 2010

Mais questões de manutenção - ética

Com a devida vénia, transcrevo o título de uma notícia do DN:  "Comboios fora dos carris por falta de manutenção".
É provável que colegas nossos ou decisores de empresas ferroviárias ou até no próprio MOPTC, se escandalizem com este título. Que ameacem não responder por não aceitarem afirmações deste tipo.
Se for assim, farão mal, porque a afirmação é de um professor do IST, da Associação para o desenvolvimento integrado do transporte.
Pensando bem, sendo certo que, como ele diz e qualquer técnico ferroviário sabe há muitos anos, a falta de manutenção da via férrea conduz à redução da velocidade por motivos de segurança (lá se vai a alta velocidade se não for feita a manutenção conforme as regras) e, no limite, ao encerramento da linha. E, se é assim, por um dever de ética os técnicos devem informar os decisores deste facto, por envolver segurança.
Mais diz o  professor que recursos financeiros que estariam afetos à manutenção têm sido desviados para os projetos da alta velocidade.
Se for assim, é importante insistir mesmo com os decisores sobre os riscos de cortes cegos na manutenção.
Foi assim que a linha do Tua teve os seus descarrilamentos, por cortes na manutenção da via (notar porém que uma via férrea bem mantida permite até certo ponto a utilização por material circulante com problemas graves, também de manutenção e de adequação às condições de via, como era o caso do material circulante do Tua).
Vem isto a propósito dos recentes descarrilamentos na linha de Castelo de Vide (Novembro de 2010), Alcacer do Sal (Outubro de 2010) e Ovar (Julho de 2010).
Estamos tocando um ponto crítico: transportar pessoas em vias férreas é mais eficiente energeticamente porque o atrito do ferro com o ferro é menor do que o atrito do pneu com o asfalto. Mas em sentido desfavorável para o transporte ferroviário funcionam as exigencias da manutenção (quer da via férrea, quer do material circulante) para evitar descarrilamentos.
É assunto que exige muita atenção; real por contacto direto, não virtual.

Para não se escandalizarem muito com o professor, transcrevo as afirmações dele: "Os engenheiros não sacrificam a segurança, mas se lhes forem negados os recursos para a manutenção podemos ter problemas de segurança. Existe segurança nas linhas ferroviárias, mas o risco pode aumentar se for provocado por desleixo".
Nestas circunstancias, sem prejuizo do dever de informação sobre os acidentes de Ovar e de Castelo de Vide, a comunidade gostaria de ser esclarecida sobre as causas e circunstancias do descarrilamento de Alcacer do Sal, junto da ponte (deficiencia do balastro? da altimetria ou da fixação dos carris? dos bogies, rodados ou engates do material circulante?).
É que, sendo assunto de interesse público, o direito a ser informado é real, não virtual.

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