domingo, 28 de novembro de 2010

A conjetura de João Correia

Em primeiro lugar, aplausos ao Dr João Correia, que se demitiu de secretário de estado da Justiça.
Não por se ter demitido, mas por ter lutado enquanto secretário de estado contra o estado da justiça em Portugal, que é uma das desvantagens comparativas do nosso país (ver medidas concretas contra a crise no livro de Luis Monteiro Os últimos 200 anos da nossa econnmia e os próximos 30) e por ter explicado as razões da demissão: entre outras, porque o senhor secretário de estado da modernização judiciária é um ótimo secretário de estado da informática.
Testemunho sobre o Dr João Correia: "é um profundo conhecedor da realidade da justiça e uma pessoa séria e íntegra".

Perante estes factos, que poderão ser negados mas são muito difíceis de esconder, e tendo presente que entre alguns dos nossos colegas existe uma cultura semelhante à do secretário de estado "informático",  de privilegiar o tratamento informático das questões técnicas da operação e manutenção de um sistema ferroviário, possivelmente para melhor tratar a imagem do sistema perante a opinião publica e não obstante o "batalhão" de técnicos que têm de ser desviados para o tratamento informático em detrimento da análise real e direta das ocorrencias com impacto na operação, permito-me dar o nome de João Correia a esta conjetura:

- não só no mundo jurídico, mas também no mundo da técnica ferroviária, o tratamento informático das questões pode criar uma barreira entre a realidade, as causas e as circunstancias reais que provocam os incidentes, e os técnicos que devem lutar contra os incidentes; e aplicando um dos corolários da lei de Murphy, se pode criar uma barreira entre a realidade e os técnicos, certamente que a criará.

Aplausos para o Dr João Correia.

PS - Mais notícias entretanto surgidas dizem que a questão estará tambem na transferencia dos técnicos de informática, da Direção geral de administração da Justiça, para as Tecnologias de Informática na Justiça, entregando o Citius Plus à empresa externa Critical Software. O Citius é o processo de desmaterialização dos processos que sucedeu ao Habilus (para acabar com os anacronismos das pilhas de papel atadas com cordel) que foi desenvolvido com mérito por esses técnicos. E o percurso lógico de uma equipa de sucesso de uma entidade pública é este: assim que "a coisa" funciona, gera interesse ou uma oportunidade de negócio numa empresa externa.
É a dependencia dos consultores, ou, como se dizia antigamente, para encontrar a explicação de um comportamento, "cherchez la femme" ("cherchez le profit").
Citius é latim e significa mais rápido. Habilus significa mais conveniente. Dizem tudo, os nomes.
Ninguém pretende dotar os ministérios ou as empresas públicas de orgãos sobredimensionados com todas as competências; mas que devem ser mantidas nestas entidades a capacidade e a direção estratégicas dos processos, isso sim; mas apenas  desde que os condutores desses processos não sejam nomeados por critérios diferentes do mérito e do conhecimento técnico.
Não sendo assim, parecerá que o estimulo para os técnicos será integrar o universo dos consultores e dos critérios diferentes do mérito e do conhecimento técnico, o que não me parece que estimule a vontade de bem servir no serviço público.
O que se repercutirá no produto final.
Deve ser de propósito.

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