domingo, 21 de julho de 2013

Um caso de ministério público?

A demissão do senhor ex-ministro das finanças lembra-me a anedota do escorpião, que pedia à tartaruga que o deixasse atravessar o rio às suas costas para fugir ao incendio; a tartaruga desconfiou mas acedeu; fez mal porque ao chegarem ao meio do rio o escorpião ergueu a cauda e infligiu-lhe uma picada mortal; porque fizeste isso? perguntou a tartaruga antes do veneno a paralizar, assim afogamo-nos os dois; ao que o escorpião respondeu: é a minha natureza.


Assim também a natureza do senhor ex-ministro, insensível à realidade de quem ia afetar (falta de empatia ou incapacidade de imaginar o que outros sentem, caraterística de psicoses) e indiferente a regras de boa gestão, o levou a assinar o ultimo despacho autorizando a agencia do crédito público a subir para 90% a quota de títulos de dívida nacional do fundo de estabilização financeira da segurança social .

Se a minha análise está correta, isso significa que o fundo vai ter de vender títulos de divida estrangeira (engraçado dizer-se tanto que “o Estado” andou a gastar mal o dinheiro; entre outras coisas andou a comprar títulos de dívida estrangeira de notação elevada).



Ora, como João César das Neves me ensinou no seu livro “As dez questões da crise”, ed.D.Quixote, (não concordo com todas as análises e propostas do senhor, especialmente com as mais ligadas às ideias religiosas, mas parece-me um livro muito bem fundamentado; um dos seus méritos é chamar a atenção para que o problema principal é a elevada dívida externa, não apensa pública, embora lance "água benta" sobre os défices privados que, na verdade, não andam a agravar a dívida desde 2009, pág.230), desde 2004 os juros das aplicações financeiras portuguesas no estrangeiro ultrapassam as remessas dos emigrantes e dos fundos europeus!! (pág.200)



Se é assim e se a minha análise está correta, a ultima decisão do senhor ex-ministro é mesmo uma picada de escorpião no fundo da segurança social, afeta gravemente os seus beneficiários e é, salvo melhor opinião, um caso de ministério público.



Se a minha análise está correta, não faria melhor, num hipotético filme de terror, o agente secreto dos grandes centros financeiros, que desejassem reaver os títulos de dívida na mão dos portugueses, e que o enviassem a Portugal com esse objetivo.



Por isso este blogue, que defendia que estavam três pessoas a mais no governo, Relvas, Gaspar e Passos, pensa que estão a mais quem prometeu a continuidade de Gaspar, isto é, a senhora ministra das finanças e o senhor primeiro ministro. Se noutros países é normal mudar de primeiro ministro sem ter de se recorrer a eleições, porque não podemos fazer o mesmo? Os crentes dos mercados dirão por causa da subida dos juros, esquecendo que 70 a 80% da divida publica portuguesa está nas mãos da troika e dos bancos que não deveriam estar sujeitos aos “nervos dos mercados”; quem não é crente dirá simplesmente porque a mentalidade dos decisores portugueses é muito fechada, muito compartimentada nos quintais de cada um. Sintoma claro de insegurança, salvo melhor opinião, e incapacidade de evitar os riscos de polarização de opinião (que, como se sabe, serve para, criando uma consciência de grupo, dar segurança ao individuo).

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