quinta-feira, 19 de maio de 2011

Exmo senhor ministro das Finanças, perdoe-me regressar ao assunto

Exmo senhor ministro das Finanças, perdoe-me  regressar ao assunto que expus na minha mensagem de dia 16 de Maio de 2011:
http://fcsseratostenes.blogspot.com/2011/05/exmo-senhor-ministro-das-financas.html

Na verdade, pensando melhor, a sugestão de aplicar a todas as empresas o indicador de parte importada sobre o volume de negócios talvez não seja boa ideia como política fiscal.
Provavelmente a criatividade dos nossos empreendedores, com mais ou menos recurso aos "off-shores" e a contabilidade paralela, encontraria maneira de perverter o objetivo de equilíbrio fiscal.

Mas custa-me não ter sugestão para lhe fazer, nesta altura tão crítica em que todos não somos demais para ajudar à solução.

Então lembrei-me de lhe sugerir, dentro de uma área em que me encontro mais informado por nela ter feito a minha vida profissional, e que está agora sujeita ao programa de privatizações imperativas por si mesmas, uma privatização lucrativa para a entidade privada que a adjudicar.

Trata-se de retomar a ideia de um dos políticos da nossa praça de que as privatizações se vão focar no chamado "bife do lombo", de modo a interessar as entidades privadas, do mesmo passo que reduz o também chamado "peso" do Estado.

Sabe-se que o metropolitano de Lisboa tem uma divida grande, da ordem de 4.072 milhões de euros (cito o relatório e contas de 2009 no sitio www.metrolisboa.pt, uma vez que, por qualquer razão misteriosa, não está disponível o relatório de 2010) , fundamentalmente por incluir os custos associados aos investimentos de longa duração e que seria expetável serem considerados investimentos públicos.
Sabe-se também que as suas receitas de exploração (58,9 milhões de euros)  apenas cobrem 70% dos custos de exploração , sendo que o peso dos encargos de pessoal nestes custos de exploração é de cerca de 48%  e, nos custos totais, de 27%(continuo a citar dados do relatório de 2009).

Já que se fala em números do metropolitano, convem assinalar que o custo de cada  passageiro.km é de 20 cent. (sem encargos financeiros) ou 33 cent.(com encargos financeiros).
E que a receita para cada passageiro.km é de 7 cent., o que, convenhamos, não é muito sedutor, ter um prejuizo operacional de 13 cent. e financeiro de 26 cent. por passageiro.km.

Qualquer privatização vai exigir o aumento deste valor através da subida do preço dos bilhetes (bastará acabar com o passe dito social para utilizadores de rendimentos mais elevados e levar os atuais utilizadores de transporte individual a servirem-se do metropolitano, por ser essencial aumentar o numero de pass.km através do aumento da taxa e ocupação dos comboios,  para termos um razoável aumento de receitas, o que põe a questão simples: porque não se tratou já disso em vez de se estar à espera de um imposto sobre a utilização do automóvel privado?).

Aquilo que se tem feito até agora foi reduzir os quadros de pessoal do metropolitano para adjudicar a empresas do exterior os serviços de segurança e de manutenção que como se pode ver pelos resultados, são muito melhor geridas do que os serviços públicos.

Mas também se pode pensar nas soluções à Tatcher que alguns maus resultados deram no metro de Londres, como seja adjudicar toda a gestão de um grupo de linhas a um consórcio, incluindo investimentos de longa duração (escapando assim à obrigatoriedade de lançar concursos públicos).

Como a dimensão do metro de Lisboa é menor, poderia privatizar-se (ou dar-se de concessão, como quiserem) apenas uma linha, ou melhor ainda, considerando que a linha com mais passageiros é a azul, de Santa Apolónia para a Amadora Este (que em 2 anos chegará à Reboleira), privatizar-se-ia apenas a via que desce da Amadora para Santa Apolónia, que assim gastaria menos energia do que a concorrente pública, a via que sobe de Santa Apolónia para a Amadora, e ainda poderia vender a energia regenerada pela travagem dos comboios a descer e a consumir por aqueles que sobem.

É uma sugestão que deixo ao senhor ministro, para valorizar o mercado a privatizar e assim aumentar o "encaixe".

2 comentários:

  1. A profissão de político é uma actividade de alto desgaste e baixa esperança de vida.
    Quem diz:
    "It´s my way or the highway"
    não são os políticos mas sim os "bigshots" em volta deles.
    A manutenção de imagem destes depende de quanto estão a agradar os "bigshots".
    Enquanto alimentarmos uma democracia que está sempre a pesar a sua imagem perante os favores e os resultados de interesse para o país, o assunto está condenado a sangrar mais do que pode.
    Quem decide re-eleger um político não "é o povo quem mais ordena" mas sim, a imagem de graça ou desgraça que fazem os "bigshots" perante os interesses que lhes convém com um recado à comunicação social.
    Come-se a cereja e cospe-se o caroço.
    O actual governo está condenado a partir do dia em que não dançar bem à frente dessa cáfila financeira.
    E o povo vai atrás do sensacionalismo.
    Alguma vez um tipo qualquer(independente) com capacidade de dirigir um país ganharia as eleições se não tiver vassalagem implícita?
    Jamais.
    Enquanto houver sangramento por "trás do pano", nunca teremos teatro a sério.

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