segunda-feira, 12 de março de 2012

Do enunciado do problema à solução - o exemplo dos lares de idosos, da escola secundária de Rio Tinto e do Alqueva

Algures perdido num alfarrabista há-de existir uma edição já com dezenas de anos de um livro intitulado "Como identificar e reslver um problema".
Falaram-me nele há muitos anos e explicaram-me vagamente como se devia fazer.
Aplicava o método científico e definia passos de abordagem do problema e das soluções.
Talvez o livro se tenha perdido mesmo e quem toma decisões ache que não precisa dele.
É pena acharem isso, porque temos aqui exemplos de como as pessoas que tomam decisões falham a resolução do problema por ignorarem as regras do método, apesar de mandarem publicar que vão executar uma solução muito boa.
1 - Estão os senhores governantes muito contentinhos consigo próprios porque vão racionalizar a ocupação dos lares de idosos criando dez mil vagas.
Os quartos simples passam a duplos e os duplos a triplos.
Ideia simples e fácil, basta "flexibilizar" as normas (sugestão aos senhores governantes desta área: na próxima reunião internacional, perguntem ao homólogo alemão o que pensa da "flexibilização" de uma norma).
Porém, vem um técnico de serviço social que tem a experiencia de lidar diretamente com o problema, e diz que é quase sempre preferível o idoso sozinho ficar em casa, com a condição de ter apoio domiciliário.
Donde, os senhores governantes, lá do alto da sua turris eburnea, preferirem economizar nesse apoio domiciliário.
As regras do mercado a funcionar livremente lidam mal com as pessoas que não têm capacidade produtiva. E a "flexibilização" das normas, alterando os critérios de áreas de ocupação por idoso, vai contribuir para a degradação do panorama geral.
2 - da turris eburnea do ministério da educação (estou a referir-me não só ao atual governo como aos governos anteriores) e dos jornalistas justiceiros que tanto criticaram os professores por não quererem o sistema de avaliação proposto pelo ministério, vieram também as orientações para racionalização dos quadros de professores e do dimensionamento das turmas.
Ideia simples.
Mas vem a direção da escola secundária de Rio Tinto , faz a abordagem correta do problema que tinha - uma taxa de insucesso escolar elevada no 12ºano - e observa (método científico: observar)  que os alunos não aprendiam porque "não podiam"; formularam hipóteses e estudaram formas de aplicar soluções para as testar; uma das soluções foi pôr dois professores numa aula, outra obter o concurso de técnicos de serviço social para analisar a incapacidade educacional e financeira parental. O programa recebeu o nome de "dinamizaçãodelta". O indicador de sucesso escolar melhorou claramente ao fim de um ano, mas duvido que os senhores governantes, muito contentinhos das suas certezas, tenham aprendido alguma coisa, a ouir que tem experiencia da frente de trabalho e tem entusisasmo suficiente para sobreviver à sufocação do centralismo à portuguesa.
3 - o Alqueva - a obra de regadio e de produção elétrica do Alqueva foi aprovada em conselho de ministros em 1972 (de acordo com as negociações com a Espanha para o aproveitamentó das águas) e em 1975 (V governo provisório de Vasco Gonçalves). Seguiu-se um período de oposição à execução da obra, mas a irracionalidade dessa oposição era tão grande que ela acabou por se fazer.  Nenhum senhor governante que, do alto da sua turris eburnea criou obstáculos e provocou atrasos à entrada em funcionamento do Alqueva, terá aprendido a corrigir este tipo de erros. Recordo isto a propósito do desabafo dum agricultor alentejano, a 40 km de distancia da albufeira, esperando que em 2015 o regadio chegue à sua terra, três naos depois do período de seca que se vive.
É possível que na origem desta ignorancia das realidades práticas pelos senhores governantes esteja apenas uma grande falta de humildade, que os impede de ver que não são o centro do universo.


(turris eburnea - latim - torre de marfim - tão perfeita como o marfim, mas impossível, e por isso mesmo desligada da realidade)

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