quinta-feira, 8 de março de 2012

Estaleiros de Viana do Castelo, em 7 de março de 2012

1 - A empresa de cruzeiros Douro Azul desistiu da encomenda de 2 navios no montante de 50 milhões de euros por falta de garantias dos Estaleiros de Viana do Castelo cumprirem os prazos.

2 - Os estaleiros correm o risco de perder a encomenda de dois navios asfalteiros para a Venezuela no valor de 128 milhões de euros se o Estado não desbloquear 3 milhões de euros para compra de chapa para inicio da construção.

3 - A carteira de encomendas da Marinha, por contrato assinado em 2004, é de 500 milhões de euros.

4 - O navio Atlântida, de 7000 toneladas/750 passageiros, construído de acordo com o projeto fornecido pela operadora pública dos Açores e com alterações pedidas por esta que motivaram o incumprimento da velocidade contratual (valor medido: 17,2 nós ou 30,1 km/h; valor contratual: 18 nós ou 32,4 km/h), aguarda comprador depois de não se ter concretizado a promessa de compra pela Venezuela por 42,5 milhões de euros

5 – Nos termos do contrato do Atlântida, os estaleiros compraram material e todos os equipamentos para um segundo navio, o Anticiclone, de 5000 toneladas/450 passageiros, que se encontra armazenado em blocos, à distancia de 13 meses para conclusão após ordem de prosseguimento

6 – Os estaleiros têm efetuado algumas reparações, mas têm uma divida de 15 milhões de euros ao estaleiro do Alfeite, onde atualmente se encontra amarrado o Atlântida, aguardando comprador.





Esta triste história remete-me para dois critérios:

1 – o senhor juiz autor do livro “Como o Estado gasta o nosso dinheiro” ensinou-me uma coisa muito simples, que a diferença entre um investimento público e um investimento privado que não tenham corrido bem, é que no caso do investimento público, tenta-se aproveitar o que já se gastou, e no privado, abandona-se o que se investiu.
Isto é, no público justifica-se mais investimento com a existência de anterior investimento, e no privado desiste-se do que se investiu.
Recomenda também o senhor doutir juiz que a coisa pública se governe como a privada.

Parece então ser este o critério: encontrando-se os estaleiros de Viana e do Alfeite com saldos mais ou menos negativos, deixa-se cair, perdoe-se-me o galicismo, liquida-se o investimento e os ativos e, dentre os ativos, abandona-se o que está entre o mais precioso num país, os trabalhadores;

2 – o realizador de um filme recente, Margin Call (O dia antes do fim) fez um exercício interessante: transformou a história da falência do Lehman Brothers e de toda a especulação financeira e virtual (os seguros das dívidas e as obrigações colaterais são dos melhores exemplos de coisas virtuais, de “criação” de dinheiro que não existe) numa dúvida se os protagonistas sabiam o que estavam a fazer (a estrutura da história é semelhante à daquele jovem astrónomo que descobre um cometa que vai destruir a Terra, sem que a comunidade científica o tivesse percebido; parecerá assim um bocado ingénuo, o filme, mas é muito útil para permitir aos defensores da “desregulamentação” continuarem a apresentar-se aos eleitores).

O que tem isto com os estaleiros? É que os governantes que deixam passar o tempo sem tomar as decisões dinamizadoras dos estaleiros podem invocar o mesmo que os protagonistas do filme, que não sabiam da gravidade das consequências das suas decisões ou ausência de decisões. E até é possível que ignorem as relações de causa e efeito em jogo. Ou que digam apenas que estão a fazer o seu trabalho de acordo com as ideologias dominantes dos governos mais fortes da UE. Parece haver uma probabilidade elevada de que os governantes portugueses tenham feito um “gentlemen agreement” com os governantes mais fortes da UE de distribuição de atividades. Não haveria assim lugar em Portugal para industrias pesadas de construção naval. Conclusão: deixar morrer, qualquer que seja o preço. Construção naval será atividade reservada a estaleiros alemães ou holandeses. Não parece um planeamento correto da parte dos dirigentes políticos em exercício na Europa, com a agravante de em Portugal se perder um fator de emprego e crescimento. Mas é a prática dominante, deixar morrer a industria pesada de construção naval em Portugal.
Não em meu nome.

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