quinta-feira, 4 de abril de 2013

o naufrágio de Sepulveda e o de Vitor Gaspar


O naufragio de Sepúlveda em versão condensada e comparativa, dedicado ao senhor ministro das finanças Vítor Gaspar, que gosta de citar a história trágico marítima para realçar que uma parte dos portugueses há-de sobreviver à crise:

Sepúlveda terminou a sua comissão na Índia e obteve o comando de um galeão para regresso a Portugal, com a mulher e filhos
Gaspar terminou a sua comissão nos gabinetes de paredes bem isoladas da realidade exterior das finanças europeias e obteve o ministério das finanças do governo de Portugal

O galeão carregou em vários portos, para alem da sua capacidade náutica, pimenta, sedas, louça chinesa e pedras preciosas
Gaspar, com voz pausada, explicou aos portugueses que teriam de produzir mais com o equipamento de que dispõem
Corria o mês de Fevereiro de 1552 quando a viagem se iniciou, com 200 tripulantes, 200 fidalgos e soldados, e 300 escravos
Gaspar explicou ainda que a força de trabalho mal remunerada é essencial para conter a subida dos preços e para chegar ao equilíbrio orçamental das contas públicas
Atravessado o Indico, ao fim de pouco mais de 2 meses de navegação, chegaram à costa de Moçambique, levantando-se um temporal que rasgou as velas e danificou o leme
Graças ao apoio e à orientação do ministro das finanças alemão, atingiu-se sem novidade o nível de juros no mercado financeiro que Gaspar desejava
Depois de alguns dias de navegação tormentosa em que não se conseguiu reparar o leme, nem os mastros quebrados, nem as entradas de água, tentou-se ancorar junto à costa de Sofala
Porém, a descida do PIB e a subida tormentosa do desemprego lançaram o caos na estrutura do governo
Depois do transporte para a praia, nos bateis, de parte dos viajantes e da mercadoria, o agravamento do mar levou o galeão a embater numa rocha e a afundar-se, perdendo-se grande número de pessoas e a maior parte da mercadoria
Apesar de medidas bem intencionadas de alguns ministros, no entanto mal conduzidas as mais das vezes, como no caso dos ministérios da economia e da agricultura, foi-se perdendo a capacidade produtiva na agricultura e na industria
Os sobreviventes na praia eram cerca de 500, dos quais 180 portugueses
Os sobreviventes da sangria do desemprego e das insolvências bateram-se valentemente
Sepúlveda resolveu com o conselho de oficiais subir a costa a pé na esperança de atingir a base de Sofala
Gaspar traçou uma estratégia de austeridade cheia de perigos e muito exposta aos ataques dos especuladores
Atravessando regiões áridas e atacados pelos habitantes, o grupo foi sendo dizimado ao longo de 900 km
Em consequência, o PIB continuou a descer e a divida e o desemprego a subir
Os sobreviventes, 8 portugueses, 14 escravos e 3 escravas, seriam recolhidos por um navio português que os levou para a base de Moçambique Norte onde chegaram em maio de 1553
Apesar de tudo, parte da população portuguesa conseguiu manter uma atividade produtiva de bens e serviços transacionáveis e garantir parte dos rendimentos
Sepúlveda foi o capitão de um dos mais trágicos episódios da história trágico maritima portuguesa
Gaspar foi o ministro das finanças de uma das estratégias da história portuguesa mais desadequadas à retoma económica


PS em 5 de abril de 2013 - conhecido o episódio menos trágico da demissão de Miguel Relvas, reproduzo o quadro enviado pelo partido socialista à troika, com os resultados do trabalho do senhor ministro das finanças Vitor Gaspar e da sua equipa. Independentemente do desconhecimento da realidade portuguesa e da ignorancia da elevada probabilidade de desastrosa evolução dos indicadores, revelados pela troika, regista-se a má prestação do senhor ministro, confirmando o diagnóstico negativo feito neste blogue desde o principio. De ressaltar a queda do PIB e o aumento do desemprego (neste caso um fim em si mesmo da estratégia da troika e do governo para comprimir os salários) :



   Memorando
    maio   2011
    7ª avaliação
    março 2013
       Defice

2012
       4,5%
         6,4%
2013
       3,0%
         5,5%
       Variação PIB
2012
      -1,8%
        -3,2%
2013
      +1,2%
        -2,3%
       Divida publica
2012
    107,4%
     123,6%
2013
    108,6%
     122,4%
       Desemprego
2012
      12,9%
       15,7%
2013
      12,4%
       18,2%








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