domingo, 28 de abril de 2013

Crítica de cinema - é o amor, de João Canijo e Anabela Moreira

É um filme documentário muito interessante sobre a vida de trabalho com o peixe de mulheres de Caxinas, com destaque para a mestra empresária do Marta Sofia, de que o marido é o mestre, responsável por uma tripulação de 10 pesacadores.
Os críticos do DN atribuiram-lhe a classificação de 4 (bom) em 6.
Não quero desmerecer, até porque o filme beneficiou da retoma do apoio oficial (o "mercado" português não tem dimensão para ser de outro modo) mas eu atribuiria 3 (com interesse), apesar da qualidade técnica e da riqueza das situações de vida real filmadas.
Não surge, durante todo o filme, a pergunta já ouvida numa reportagem da TV: "Como quer que valha a pena ir pescar se o peixe que vem do Vietnam é vendido muito mais barato nos grandes supermercados?". Seria interessante o filme analisar como é possível a estes 11 homens competirem com os grandes supermercados (até porque o mérito poderá ser da mestra).
Só de fugida se fala numa questão importantissima: a filha da mestra diz que quer ir viver para Lisboa quando for crescida, e o filho mais velho não sabe se quer tomar conta do negócio.
O filme escolheu uma família de Caxinas do segmento médio alto, proprietária do barco de pesca. Deixa os espetadores na ignorância sobre os pescadores de menores rendimentos da povoação.
Os pescadores moram em Caxinas e o barco aporta a Aveiro. Durante a viagem por estrada, na carrinha de apoio ao transporte do peixe e do pessoal, assiste-se a conversas pelo telemóvel pela condutora, enquanto o filho mais novo é transportado ao colo no lugar do morto sem cinto de segurança.
O filme é apoiado pela associação pró segurança dos homens do mar, mas veem-se os pescadores sem os fatos térmicos que substituem os coletes de segurança, vestindo calças de oleado com botas que agravam as condições de flutuabilidade em caso de queda ao mar.
Fala-se em GPS, não se fala em balizas de chamada de emergencia nem em rádios de identificação digital e chamada seletiva (pouparia o trabalho ao mestre de, por telemóvel, pedir à mulher para os ir esperar a Aveiro; esta poderia segui-lo pelo programa localizador de barcos).
Poderá parecer pretensioso da minha parte falar nestes pormenores, mas muitas das mortes de pescadores de Caxinas em naufrágios e nas estradas poderiam ser evitadas com melhor apoio à divulgação e aquisição de equipamento de segurança.
Nesse sentido foi pena não ter sido explícitada a utilização de equipamentos de segurança.
Ter-se-á perdido uma boa oportunidade para sensibilizar os pescadores para o seu uso, e as entidades oficiais para a necessidade de apoio.
Receio que as pessoas da cidade acabem por apreciar o filme pela sua curiosidade, pôr uma senhora da cidade, atriz com dramas existenciais de insegurança da sua profissão, a viver durante os meses de verão no meio das mulheres que trabalham duramente com o peixe em Caxinas e em Aveiro.
Esteticamente é muito bonito, mas penso que as normas e os equipamentos de segurança poderiam ter intervindo mais.





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