sábado, 26 de fevereiro de 2011

Um problema de transportes

A notícia passou discreta.
Um médico cubano foi morto em casa, perto do Areeiro, por um assaltante na presença do senhorio do assassinado.
Imediatamente os departamentos de comunicação da polícia recordaram que os indicadores da criminalidade violenta estão a melhorar.
Mas na semana anterior tinha havido na mesma zona outro assalto com violencia.
Continua a verificar-se o deserto do debate sobre estas questões.
Como não sou especialista de segurança, proponho a seguinte perspetiva de técnico de transportes.

A atividade de assaltante requer algumas das condições necessárias ao exercício das atividades legais.
Assim, os assaltantes precisam de um sistema de transporte casa-atividade, até porque preferem exercer a atividade longe do local de habitação ou em bairro diferente daquele em que assaltam (para sentirem mais segurança no local que habitam).
A zona do Areeiro, em que os habitantes têm um rendimento acima da média da cidade, há anos que é palco da atividade dos assaltantes.
Nos anos 80 e 90, com o desmantelamento de bairros precários adjacentes à Av.Gago Coutinho, a criminalidade diminuiu, até porque está intimamente ligada a movimentos geracionais ou a flutuação de populações desempregadas ou subempregadas.
A minha hipótese é que a criminalidade atual é praticada por assaltantes que moram nas zonas servidas pelas carreiras suburbanas de autocarros que têm término junto do Areeiro, ou ferroviárias com paragem no Areeiro (sugere-se que a polícia procure o assaltante nestas zonas).
Sendo assim, os motoristas de autocarros dessas carreiras e das carreiras entre as povoações terminais, poderiam ajudar as forças de segurança a identificar os pontos de maior risco, numa perspetiva de prevenção e não de repressão.
Será interessante analisar as causas e as circunstancias das manifestações de jovens, normalmente desempregados, em bairros ditos problemáticos, de que foi exemplo o recente incêndio de um autocarro.
Parecerá que os fatores principais que conduzem à violencia urbana continuam a ser o desemprego, o insucesso escolar de há uns anos antes, a ineficiência sanitária e a ineficiência do sistema de segurança.
Até certo ponto, poderá dizer-se que a violencia é estimulada pela desativação do estado assistencial ou social.
A manterem-se as condições de carencia atuais, será altamente provável uma escalada da violencia urbana seguida do reforço das forças de segurança (os decisores acharão que é mais barato aumentar o orçamento das forças de segurança do que atenuar as causas da violencia através de investimento contra o desemprego).

Em resumo, mais uma vez se colocam as hipóteses de que o sistema de transportes reflete a estrutura e os fenómenos sociais, e de que é necessária uma política de investimentos  contra o desemprego, para produção de bens e serviços exportáveis.

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