domingo, 6 de fevereiro de 2011

Vanessa, Vanessa


Se, por acaso, este texto chegar a ti, quero que acredites que desejo sinceramente que ultrapasses os teus problemas de momento e  que te sintas bem em voltar a competir.
Escrevo isto porque posso ser mal interpretado nas considerações que vou fazer.
Nós, portugueses, somos inseguros, e como tal, achamos que, sempre que alguém se distingue ou sempre que realizamos uma obra notável, somos os melhores do mundo.

Por teres sido campeã, os portugueses exerceram sobre ti uma pressão para que fosses sempre a melhor.
Sabes, a competição de uma pessoa consigo própria é, em princípio, saudável.
A alta competição, por aquilo de que a pessoa tem de abdicar e pelas expetativas e exigências da opinião pública, pode ultrapassar os limites do aceitável.

Quando todos se entusiasmavam com os teus êxitos, eu impressionava-me com a vida que tu fazias.
Fechada num retiro, a treinar assim que acordavas, até que te deitavas.
Lembras-te de como foi engraçado vestires-te e maquilhares-te para aquela série de fotografias para “promover Portugal”, aquela campanha do ministro Pinho?
Ficaste gira.
Mas voltaste logo à vida monástica que fazias.

A opinião pública é perigosa.
Especialmente porque exprime com clareza a insegurança e a necessidade de a compensar.
De preferência com sucessos de pessoas como tu, que não exijam esforços aos espetadores.

Como seria bom para todos nós se, em vez de querermos ser os melhores, nos contentássemos em ser esforçados e honestos naquilo que fazemos, mesmo que os resultados dos alemães, dos franceses, dos ingleses, dos australianos, sejam melhores do que os nossos.
O problema é que muitos dos que exigem os teus sucessos não se esforçam no seu próprio trabalho.
E bastava definir uns objetivos razoáveis, na faixa de cima da mediania, por exemplo.

Como dizia o sargento da polícia no Ovo da Serpente de Ingmar Bergmann, que naquele momento, o que ele queria era apenas que cada um exercesse a sua profissão, que o equilibrista no arame que ele tinha na frente fosse fazer os seus números.

Não te preocupes.
Podes não continuar a ser a melhor, mas basta que dês aquilo que é razoável dares.
Mais não; que a saúde está primeiro.
Mais vale competir honestamente do que ser a primeira à custa de violência.

Felicidades para ti.






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