quarta-feira, 27 de março de 2024

Queda da ponte de Baltimore em 26mar2024 por colisão de navio

Condolências às famílias das vítimas


 Artigo referido:

https://observador.pt/2024/03/26/pontes-como-25-de-abril-ou-vasco-da-gama-nao-resistiriam-a-embate-como-o-de-baltimore-nao-ha-hipotese-nenhuma-defende-especialista/


Artigo muito bem fundamentado nas entrevistas, de que destaco os cuidados a ter do representante dos pilotos. Nunca podendo garantir-se a segurança a 100% não deveremos entrar em pânico mas continuar com as corretas rotinas de monitorização e manutenção, e estudar medidas de redução das dimensões dos navios que entram no Tejo e o reforço e aumento dos maciços dos pilares das pontes (no caso de Baltimore, a proa do navio, muito pronunciada relativamente ao casco na linha de água, pode ter atingido diretamente o pilar, aliás subdimensionado para este tipo de navios, em forma de pórtico assente em 2 Vs invertidos e com maciço reduzido).

Como pode ver-se no video e o registo divulgado pelo NTSB confirma, o navio teve duas falhas de energia e logo a seguir à primeira o fumo que se vê no vídeo indicia que o motor foi colocado em marcha à ré o que, juntamente com a falta de controle do leme, impulsionou a popa para o bombordo (lado esquerdo), provocando a viragem para estibordo (lado direito) em rota diretamente sobre o pilar. Trata-se de fenómeno designado em inglês por propeller walk (https://en.wikipedia.org/wiki/Propeller_walk) ou pressão sobre a popa do turbilhão da corrente de água gerada pela rotação da hélice e ainda pela reação em sentido contrário ao da rotação da hélice como acontece nos helicopteros que necessitam de uma pequena hélice para anular o efeito. É  uma hipótese credível, se não tivessem acionado a marcha à ré, possivelmente o rumo correto ter-se-ia mantido e haveria tempo para lançar uma ancora. O registo audio confirmou a ordem de lançamento da âncora antes da colisão.

Navios deste tipo deviam ter duas hélices de eixos paralelos e não uma , sistemas redundantes de energia e hélices azimutais para melhorar a manobra, mas razões económicas ditam a poupança e o aumento da tonelagem. Veja-se o caso dos petroleiros de um casco só, a organização internacional levou anos para obrigar ao casco duplo. O vão da ponte de Baltimore tinha 360 m (a P25 de abril tem 1000 m e a PVG 420m) e os pilares deveriam  estar protegido por maciços significativos (apenas tem pequenas balizas com a agravante de ter ao lado pilares de uma linha de transmissão de eletricidade). Não ajudou o navio ter saído do porto às 0.44 sendo a maré baixa às 2.11 (colisão aos 1.28.44) 

O navio envolvido tinha capacidade para 10000 TEU e 300m de comprimento. Quando a ponte foi construída, 1977, os maiores navios eram para 2500TEU e comprimento 215m. Em 2013  18000 TEU e 400m.  Em 1980 a ponte de Baltimore foi também abalroada por um porta contentores mas de dimensão menor. Nesse mesmo ano a ponte Sunshine na Florida não aguentou o embate num dos pilares.

O porto de Lisboa para crescer necessita de um novo cais de águas profundas entre a Cova do Vapor e o Bugio. Não o construir implica prosseguir o assoreamento da foz do Tejo e o contínuo desperdício das areias da Caparica. Implica também correr riscos se se insistir na admissão de navios grandes. No caso dos grandes cruzeiros com a agravante de, em caso de avaria do sistemas de energia o estabilizador que compensa o exagero de altura fica fora de serviço por falta de redundância.



 Informação relacionada:

https://www.youtube.com/watch?v=wEkRjlSgIIQ

https://expresso.pt/internacional/eua/2024-03-26-Desmoronamento-da-ponte-em-Baltimore-nos-Estados-Unidos-falha-tecnica-no-navio-demasiada-carga-ou-escassez-de-recursos-tecnicos--bc52d164?utm_content=O+chumbo+de+Aguiar-Branco%2C+a+queda+da+ponte+e+os+fundos+do+Maestro&utm_medium=newsletter&utm_source=expresso-edd&utm_campaign=165e14e221 https://expresso.pt/internacional/eua/2024-03-26-EUA-ponte-em-Baltimore-desaba-apos-colisao-de-navio-varios-carros-cairam-para-o-rio-e-ha-20-desaparecidos-com-video-be580592


pilares do vão principal em forma de pórtico assente em dois Vs invertidos e reduzido maciço






https://interestingengineering.com/culture/baltimore-bridge-collapse-pictures-satellite?utm_source=theblueprintbyie.beehiiv.com&utm_medium=newsletter&utm_campaign=satellites-snap-baltimore-bridge-crash-implantable-batteries-europe-s-hyperloop




PS em 28mar2024 - Feitas umas contas em cima do joelho, que talvez possam ajudar a discutir convenientemente a resistência dos maciços e dos pilares à colisão, considerei 150.000 toneladas à velocidade de 8 nós (15km/h ou 4m/s):  
energia cinética na colisão                                          1200 MJ <> 300kgTNT
potencia envolvida durante uma colisão de 20s                                    60 MW
força de impacto durante 30m até à imobilização                              4000 ton 





Balizas de proteção (dolphins):

fita de tempo:


PS em 30mar2024 - Salvo melhor opinião, sem querer alarmar mas como análise de riscos, no caso da ponte 25 de abril,  e também sem pôr em causa o trabalho dos pilotos da barra (a causa principal do acidente de Baltimore foi a perda de energia do navio) parece-me que ou se reforça com para-choques resistentes os pilares da ponte ou se limita a tonelagem dos navios que entram no porto de Lisboa. Não o fazer é assumir o risco (produto da probabilidade de ocorrência pelo grau de gravidade das consequências) .


Abertura de canais temporários de recurso e petição da empresa proprietária ignorando as avarias dos manómetros desde o Chile, a intervenção nas máquinas no porto de Baltimore e a manobra de marcha à ré após o retorno da energia 

terça-feira, 26 de março de 2024

Mensagem para um senhor jornalista que comentou a questão aeroportuária em Lisboa

 

https://www.dn.pt/7209289510/aeroporto-socrates-ou-aeroporto-montenegro/


Caro senhor jornalista

Não estou seguro de que esta sua análise seja uma boa análise como já lhe tenho visto outras. Não sou especialista de aeronáutica e também por isso não me parece razoável tratar depreciativamente, usando o termo “sábios”, os autores do relatório da CTI. Não aprofundei a leitura dos  relatórios, mas pareceram-me válidas as competências dos seus membros. Houve um tema mais próximo das minhas competências de que discordei e na consulta pública enviei o meu parecer. Porém, colegas meus partilham da proposta sobre esse tema apresentado pela CTI. Apenas posso defender a minha posição com base nalguns pressupostos que não terão o acordo da CTI e de colegas meus, mas a engenharia, contrariamente ao senso comum, não é uma ciência exata e análises multicritério podem conduzir a classificações diferentes.

Passo a comentar algumas afirmações do seu texto que julgo justificam a sua correção.

1 – optar pelo investimento mais barato pode não ser uma boa solução se os custos de operação forem mais elevados (incluindo a amortização) do que o investimento na opção mais cara, ou se não tiver capacidade de crescimento para atender necessidades futuras.

2 – As áreas metropolitanas de S.Paulo e da cidade do México têm  , cada uma, mais de 20 milhões de habitantes, a de Lisboa não chega a 3 milhões. Não creio ser possível comparar, mas toca num tema importante que a imprensa deveria denunciar e que é a necessidade de  atualização do PROTAML.

3 – Como também não sou especialista, procurei informar-me sobre as ameaças para o aquífero que refere no CTFA. Retive a informação de especialistas que a complexidade do assunto não está suficientemente  esclarecida (https://novaresearch.unl.pt/en/publications/pmodelos-e-balan%C3%A7os-do-aqu%C3%ADfero-sedimentar-da-bacia-do-tejo-marge )

A considerar a penetração  da salinidade  estuário acima por rebaixamento do nível do aquífero, mas que os sobreiros não têm a exclusividade da recarga dos aquíferos (segundo algumas informações a área do sobreiral no séc.XIX era um pouco mais de metade da atual)  devendo incluir-se no caderno de encargos essa valência possivelmente com desvio de ribeiras e alargamento das suas bacias, e que evidentemente  a construção das áreas de apoio ao NAL deve ser contida (essencial garantir-se uma boa acessibilidade para quem trabalhar no NAL) tal como novas urbanizações, nomeadamente como se fez para as pontes 25 de abril e Vasco da Gama, fiscalmente através de imposto extraordinário junto com a licença de construção.

 

4 – Sobre Alverca, considere que se encontra em plena Reserva Natural do Estuário do Tejo. Sobre Santarém, considere a proximidade da base aérea de Tancos cuja pista tem um orientação sensivelmente leste-oeste

5 – Sobre as duas bases aéreas de defesa da capital, considere que o Campo de Tiro da Força Aérea não é uma base aérea de defesa, tem uma pequena pista de 1000 m, e que o relatório da CTI mostra no PT5 anexo VII  os valores das compensações à Força Aérea pela deslocalização da BA 6 e do CTFA (no entanto, julgo saber que nada impede a continuidade da BA6 como base de helicópteros de salvação marítima)

  6 – O “estratosférico  e superlativamente caro (mais de 10 milhões)” é o orçamento  da CTI, mas que também diz que para esse custo terá 4 pistas, cuja construção só será decidida se a procura o justificar. A mesma CTI no seu relatório (ver PT2 anexo V) estima menos de 3500 milhões para 1 pista no CTFA cpm o AHD como principal. Apresentar a questão deste modo desqualifica a opção AHD+CTA com ocultação parcial do perímetro dos custos.

7 – Sobre o custo zero considere que o contrato de concessão diz que o concessionário compromete-se a arranjar um financiamento que, ao longo dos anos com o benefício das receitas, daria um retorno positivo, o que desvaloriza o argumento do custo zero (sem significar que o NAL proposto pela CTI seria a custo zero)

8 – comentadores ilustres têm repetido que Canha-Alcochete (também pode escrever Montijo-Alcochete porque a localização preferida das 2 primeiras pistas  do NAL está no município do Montijo e as restantes no município de Benavente) fica  a mais de 50 km de Lisboa. Indo ao Google Earth e  ensaiando alguns percursos possíveis para a ligação ferroviária à gare do Oriente, temos 50km pela ponte Chelas-Barreiro, 41 km pela ponte Beato-Montijo, ou 37 km por uma ponte/túnel pelo norte de Alcochete até à foz do Trancão (pode dizer que este é um projeto megalómano, mas eu limito-me a elencar soluções tecnicamente válidas, neste caso como exemplo a ponte Copenhague-Malmoe ou o túnel em construção Fehmarn; mas não deve dizer que os custos da TTT são custos do NAL, uma vez que ela deve fazer-se, com ou sem NAL)

9 – penso que qualquer cidadão que analise a questão com calma concorda consigo sobre o aeroporto Humberto Delgado, há vantagens em mantê-lo por mais uns anos. Mas há que programar o seu fecho ou a redução substancial dos seus movimentos, não apenas eliminar a utilização noturna, por simples obediência às diretrizes comunitárias. É também o que a CTI diz, investir no AHD e amortizar esse investimento, mas o tempo passa e as obras para aumento da capacidade não avançam. Bem podemos ter fé nos futuros aviões “limpos”, elétricos, de descolagem vertical. A tecnologia tem limites, a origem do ruído é a deslocação das moléculas do ar, sem a qual não há sustentação nem movimento do avião… se substituir todos os automóveis da segunda circular por automóveis elétricos reduz o ruído mas ele continuará a ser incomodativo.

10 – o contrato de concessão  -  Precisamente para tornar o AHD menos intrusivo da cidade (a rota de descolagem quando está vento SW passa por cima de 5 hospitais, um deles psiquiátrico …) é que o contrato de concessão previu obrigações de desenvolvimento no anexo 9 ,  especificando para o AHD obras entre 2018 e 2021 para 13. saídas rápidas da pista 3, 14.entradas múltiplas na pista 21 e  17.expropriações para ampliação do taxiway U5

(ver https://fcsseratostenes.blogspot.com/2022/10/alguns-elementos-sobre-capacidade.html )

Essas obrigações permitiriam aumentar a capacidade, mas a Vinci/Ana preferiu fazer finca pé na ampliação do pier sul e no aproveitamento do Montijo e da parte do governo caiu-se naquela do Montijo ser a custo zero e assinou-se um memorando de entendimento em vez de cumprir simplesmente o contrato quando determina ao concessionário, se quiser uma alternativa ao NAL, que ela seja mais eficiente e menos onerosa do que a especificação do anexo 16 contrato, 90 movimentos por hora. 24 movimentos por hora da solução Montijo mas 48 do AHD não é mais eficiente do que 90 especificados. Logo, foi gestão danosa ter andado a acarinhar a solução Montijo.

11 – Eis por que me parece exagerada a preocupação da CTI em querer rever o contrato. Embora não seja admirador de quem o assinou pelo governo em 2012, ele não está tão mal redigido como isso, e considere-se a partilha de receitas em andamento.

12 – sobre as acessibilidades  - nestas coisas de transportes, não há custos zero, há-de haver sempre uma externalidadezita, é como nos almoços que nunca são grátis. Ainda que o promotor privado de Santarem pusesse por sua conta um ramal a servir uma estação da linha do Norte, ou que construísse um ramal de 30km até à linha de AV, ainda assim a perturbação causada pelo aumento da afluência de passageiros motivaria investimento adicional público (idêntica limitação da capacidade da linha de AV na solução proposta pela IP/CTI de chegar a Lisboa pela margem esquerda passando pelo NAL). Vamos que o “mais pequeno aeroporto”, como diz, tem 12 desembarques na hora de ponta ou 2400 passageiros. Se metade quiserem apanhar o comboio para Lisboa temos necessidade de mais 3 comboios por hora numa linha saturada. Se os outros 50% escolherem a autoestrada, estarão a aumentar o congestionamento e o risco de sinistralidade. Aumentando o tráfego aéreo …

13 -  continuando a falar de transportes, parece inquestionável que a área metropolitana de Lisboa precisa de fazer o planeamento a sério do ordenamento e da mobilidade do seu território. Para isso há que atualizar o PROTAML, agora integrado no PROTLOVT. Como referi no ponto 8, a construção da TTT (ponte, túnel ou mista) terá de se fazer para serviço ferroviário de AV, mercadorias, inter-regional, suburbano e eventualmente rodoviário, a linha de AV Lisboa-Madrid terá de se fazer, é um imperativo comunitário, haverá ainda a considerar a quarta travessia Trafaria-Algés. São investimentos não imputáveis na totalidade ao NAL.

14 – ainda falando de transportes - Apesar de tudo, faço uma apreciação geral positiva do trabalho da CTI, com análises técnicas que me parecem bem fundamentadas e com aplicação correta da avaliação multi critérios. Mas não posso concordar, possivelmente por deformação profissional, com a proposta pela margem esquerda. Cingiram-se ao que a IP lhes disse para a AV e a TTT. Deviam ter estudado alternativas  ( ver pág 231 e pág.281 em                       https://aeroparticipa.pt/relatorios/relatorio_consulta_publica.pdf    ).            Neste  caso particular acho que andaram mal.  A proposta de acessibilidade ferroviária que apresentaram não é aceitável, a IP não tem competências para decidir, nem qualquer governo que é executivo e constitucionalmente sem competências legislativas neste assunto, se a AV é pela margem esquerda ou direita nem decidir o local da TTT. É necessário primeiro aprovar o PROTALOVT como aliás refere a CTI, embora sem se comprometer.

 

Conclusão – não parecerá que AHD e Montijo, ou Santarem, sejam dois bons aeroportos, um por estar no meio da cidade, outro por não ter capacidade de expansão, outro pela distancia. Também não parece que atualmente haja duas bases aéreas próximas da capital. A escolha de um novo aeroporto, ou mais corretamente, o planeamento do aumento da capacidade aeroportuária da região de Lisboa deve fazer-se de uma forma integrada e escalonada no tempo permitindo tomar as opções reais mais indicadas em cada fase de desenvolvimento, eventualmente com desistência de opções que se revelem desadequadas, em vez de tomar decisões avulsas (método de planeamento com opções reais ou “do corredor progressivo”)..

 

Apresento os melhores cumprimentos e votos de saúde e de sucesso profissional

Deslizamento de terras e aluimento no IC2 em 12mar2024 entre Águeda e Albergaria

 

Notícia no JN com informação da IP sobre as causas:

https://www.jn.pt/7251149092/cratera-no-ic2-em-agueda-provocada-pela-saturacao-de-agua-no-solo/

É possível uma crítica violenta à tutela que deixa as coisas chegar a este ponto. E aos assessores técnicos que na tutela ou na IP não tomam atitudes firmes de oposição aos critérios puramente de economia.

O deslizamento no IC2 ocorreu num caminho de escoamento de águas numa reentrância num talude e num pequeno troço em que o pavimento da estrada tem (tinha) uma ligeira depressão que acumulava água que depois fez o seu caminho sob a estrada. Desatenção no projeto que não instalou drenagem, e falta de vigilância. O que não admira porque como se sabe porque superiormente se decidiu corta nos recursos dos cantoneiros para reduzir o défice.

Junto figuras elucidativas.












Incêndio em 19mar2024 na subestação de Cais do Sodré da linha de Cascais

https://observador.pt/2024/03/22/obras-do-metro-provocaram-incendio-que-parou-linha-de-cascais-e-que-ainda-afeta-servicos/ 


De acordo com as informações divulgadas pelas entidades envolvidas, IP,CP, Metropolitano de Lisboa, o incidente terá tido origem em corte de cabos no estaleiro do metro na obra de escavação a céu aberto da ligação da linha circular entre a futura estação de Santos e a estação de Cais do Sodré do metro.  

Aguardam-se os resultados do inquérito que decorre, mas tratando-se de um assunto de interesse público por perturbar a mobilidade de muitos cidadãos e por aparentemente ser elevada a gravidade dos danos para os componentes do sistema de tração da linha de Cascais, é importante que a comunicação social mantenha a pressão sobre as entidades envolvidas para o progressivo esclarecimento do caso.

Sublinha-se que não se pretende punir responsáveis, até porque erros profissionais devem ser compreendidos, mas tão somente que a opinião pública conheça, à medida que forem sendo esclarecidas até à conclusão do inquérito, as causas e circunstancias do incidente para evitar a sua repetição, com informação prestada por todas as entidades envolvidas, incluindo o empreiteiro, Mota Engil.

Será importante o esclarecimento das seguintes questões diretamente relacionadas com o incidente:

1 – confirma-se que a causa foi o corte de cabos por uma máquina do empreiteiro do metro?

2 – o local desse corte foi na zona de desvio provisório das vias da linha de Cascais no interior do estaleiro do metro?

3 – os cabos eram de alimentação da catenária (1500 VDC)? Quantos? A que distancia da subestação de Cais do Sodré?

4 – foram cortados outros cabos?

5 – os cabos estavam acondicionados, depositados, suspensos? Assinalada a sua presença?

6 – quais as medidas já aplicadas pelo metro junto do seu empreiteiro para informação sobre os locais de qualquer cablagem e de preparação do trabalho com a fiscalização ou direção da obra sem pressas (o alarme foi dado pouco depois das 8:00 de dia 19 de março)?

7 – quais as medidas já aplicadas pela IP para controle da conformidade da subestação e da alimentação da catenária?

8 – porque as proteções da subestação não evitaram o incêndio? O disjuntor não atuou? Anterior intervenção deixou erros de ligações?

9 – que componentes na subestação arderam?

10 – O (ou os) grupo(s) transformador-retificador está operacional?

11 – quais os tempos de reparação ou de aquisição para os componentes ardidos?

 

Será também importante, para além do esclarecimento das questões anteriores, considerando que no local decorrem obras não só da responsabilidade do metro mas também da IP, que sejam divulgados os planos de obra com as intervenções em curso com indicação dos atrasos e prazos de conclusão, quer para a linha circular (mantem-se o objetivo de operar a linha circular ou foi aceite a sugestão de operação como linha em laço?), quer para a linha de Cascais (mantem-se o objetivo de mudar a tensão para 25 kVAC apesar dos inconvenientes da atmosfera marítima? com construção de uma nova subestação em Sete Rios? O novo material circulante será bitensão para facilitar a mudança? Mantem-se o objetivo de ligar a linha de Cascais à linha de cintura apesar do grau de saturação desta e que não está quadruplicada na travessia do Tejo? Mantem-se o objetivo de construção de uma estação subterrânea em Alcântara para desativação da atual Alcântara Terra apesar da complexidade técnica da sua construção e da ligação subterrânea à linha de cintura?).


                                                                                                                                 (texto enviado  vários jornalistas)

segunda-feira, 25 de março de 2024

Um artigo descrente da viabilidade da alta velocidade ferroviária

Um colega enviou-me um artigo curioso com uma perspetiva altamente pessimista sobre a viabilidade de uma rede de alta velocidade em Portugal :

https://ionline.sapo.pt/artigo/811746/tgv-portugu-s-ou-a-ignor-ncia-em-alta-velocidade?seccao=Opiniao_i

Embora reconheça algum fundamento às questões técnicas levantadas pelo autor, engenheiro civil com a especialização de Transportes, julgo que ele deveria expressar-se com mais calma e menos agressividade proporcionando uma eficiente troca de impressões.


Mensagem recebida do meu colega:


Tirando uma confusão (?) do autor com a bitola estreita (a estreita não é a nossa; é a dos outros, se por estreita se quiser dizer bitola UIC), concordo com a ideia de que Portugal não deveira dar um passo maior do que a perna. Há anos que ando a dizer que acho que Portugal não deve passar das 2h45 Lisboa-Porto, para 1h15m, o que obrigaria a velocidade máximas de, de... vá, digam lá!... não se acanhem!

A prioridade, para mim, vai para a velocidade elevada  para passageiros (240km/h máxima e 200 de média); e para o direito de Portugal a atravessar Espanha em bitola europeia, importando e exportando de forma muito mais barata e ecológica.


Meu comentário:

Meu caro

Tem razão, internacionalmente referem-se à bitola UIC como estreita quando se fala na ibérica de 1668mm ou na russa de 1520mm. Exceção em Espanha que chamam estreita à via métrica.

Quanto às velocidades, deixe-me adivinhar, 300 km/h de velocidade operacional máxima para fazer 290km Lisboa-Porto em 1h15min, o que implicaria uma velocidade de projeto de mais ou menos 310 a 320 km/h. Não encareceria muito a obra em terrenos favoráveis, mas tem custos de energia na operação e, como diz Lucena Gaia, na manutenção.

Concordo com a proposta de 240km/h de velocidade operacional máxima (velocidade máxima de projeto 250 km/h) que, com um coeficiente de 0,8 (há sempre troços com curvas ou zonas de agulhas em que deve abrandar-se, vejam-se as curvas de Santo Ovídio para a Campanhã de mais um arquiteto genial, tem razão Lucena Gaia quando diz que uma linha de alta velocidade não é para ter paragenzinhas umas atrás das outras) dá uma viagem Lisboa Porto de cerca de 1h30min, o que me parece bem e concorrente com o avião.

Curiosamente, os nossos “concorrentes” bálticos, que já têm o projeto da Rail Baltica de 870km a andar em obra, devagarinho mas a andar, optaram  por velocidade máxima de projeto 249km/h para terem uma velocidade máxima operacional de 234km/h (haverá que multiplicar por 0,8 para ter a média, e chegando à Polónia impõem limites mais apertados).

De facto, quando se fala em ferrovia, também me parece que o essencial era trabalhar a sério para antecipar o mais possível o exercício do direito de atravessar Espanha com as nossas mercadorias de exportação em bitola UIC. Mas quem decide prefere namorar a Galiza. É bom que se namore a Galiza (e já agora a Extremadura), mas com o tempo que vai demorar a construir a ligação em UIC para atravessar Espanha devia estar-se a trabalhar em força nisso.

 

Agora permitam-me um comentário ao artigo do colega Lucena Gaia, que, para além dum excelente técnico, tem uma faceta muito interessante de escritor.

Mas eu com os meus cabelos brancos atrevo-me a sugerir um pouco de calma e menos agressividade nas suas análises, por mais que as falhas que refere sejam motivo de escândalo.

Efetivamente, o acidente de Soure revelou uma falha grave, aliás recordada pelo gabinete de investigação de acidentes no seu relatório. A probabilidade de um acidente acontecer é grande quando se verificam várias causas ou circunstancias. Para além de falha na comunicação entre o veículo de manutenção e o centro de comando e incumprimento dos regulamentos, houve a circunstancia da posição dos semáforos gerar confusão, iludindo o condutor do veículo que além disso não reagiu ao forçar da agulha que estava na posição de não acesso à via principal. Mas a principal falha foi a ausência no veículo de dispositivo de travagem automática por ultrapassagem de sinal vermelho. Nisso tem razão Lucena Gaia. Outro exemplo de falta de manutenção seria o acidente na Adémia, com avaria de um vagão de mercadorias. Ainda outro exemplo foi a queda de motores na linha de Cascais provocando um descarrilamento. Foi na altura das cativações, dos cortes no pessoal e na aquisição de peças … Parece-me que a forma um tanto alarmista como a questão é apresentada não corresponde à competência técnica que ainda existe nas oficinas da CP . Obviamente que se se perder essa competência o risco de acidentes aumenta, quer na ferrovia convencional, quer na desejada alta velocidade, mas isso terá como consequência o tráfego fugir para a rodovia onde as análises de custos benefícios mostram que as externalidades  (aumento de sinistralidade e de custos energéticos por passageiro-km) acabam por ficar mais caras do que o que se poupa.

Tem razão Lucena Gaia quando refere os custos elevados da manutenção. No entanto, terá de se considerar um efeito de escala, isto é, os custos unitários baixarão com o crescimento da rede. Estimando 1000km de bitola UIC a instalar em Portugal num período de 20 anos a 20 milhões de euros por km (possível financiamento comunitário se dentro das especificações do regulamento 1315 entre 30% e 85%) e custos de manutenção de 5% a 10% do investimento, teremos ao fim de 20 anos uma despesa anual de 1000 a 2000 milhões de euros. É efetivamente muito (comparar todavia com o consumo anual de cerca de 3000 milhões de raspadinhas e jogos da Santa Casa, ou 5000 milhões de automóveis novos, ou 6000 milhões em viagens e turismo ao estrangeiro, ou 14000 milhões em jogos on line por um terço da população), mas deve comparar-se com a manutenção das autoestradas fustigadas pelo peso dos camiões cada vez mais e mais carregados, não esquecendo os frequentes cortes por deslizamento de terras por falta de manutenção das drenagens (IC2 em 2024, A14 e A41 em  2016, avenida de Ceuta em 2017). Concordo com o Tribunal de Contas Europeu (ECA), análises de custos benefícios preferem a rede única ferroviária europeia em bitola UIC. Aliás, faço parte de um grupo que em julho de 2022 apresentou no 10ºcongresso rodoferroviário português, no LNEC um estudo sintético de justificação da rede de bitola UIC em Portugal, incluindo uma análise de custos benefícios com uma TIR de 2,23% (não é muito, mas é qualquer coisinha). Foi pena não ter havido uma discussão de prós e contras centrada em argumentos  consistentes. Pode consultar-se essa apresentação pesquisando na internet por “As linhas da rede transeuropeia TEN-T e os desafios para o transporte ferroviário internacional de mercadorias (e passageiros) além Pirinéus”.


 

 




sábado, 9 de março de 2024

Em 2023 o metro de Lisboa não atingiu os valores de 2019

A notícia do Público era clara   (https://www.publico.pt/2024/03/08/economia/noticia/transporte-passageiros-recuperou-niveis-prepandemia-2023-metro-excepcao-2083010)   segundo os números do INE,o metro de Lisboa, contrariamente aos metros do Porto e do Sul do Tejo, ainda não atingiu o volume de passageiros transportados em 2019. Em 2023  166 milhões de passageiros, em 2019  183 milhões.

 https://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_destaques&DESTAQUESdest_boui=639474196&DESTAQUESmodo=2

É importante tentar perceber porquê, sem o complexo futebolístico de querer substituir o treinador, neste caso a administração. Esta, como ela própria reconhece, limita-se a executar as determinações da tutela. Aliás, quando foram nomeados, os seus membros não tinham experiência de operação ou manutenção de metropolitanos. Então, voltando à analogia futebolística, não é preciso afastá-la, mas apenas rever os níveis de decisão das equipas técnicas ou de validação de informações técnicas junto da administração,  distinguindo entre quem tem as competências técnicas adequadas e quem não  assessora convenientemente a administração ou, pelo menos, não as equipa com os argumentos certos quando da tutela vem o esquecimento da urgência na aquisição de material circulante, de admissão de maquinistas e técnicos de manutenção (ficou na história do metro a paralisação em 2016 de 30 comboios porque a febre das cativações impediu a aquisição de menos de 1 milhão de euros de rodados), ou a crença em razões subjetivas para justificação de uma linha circular.

Deu-se  até o caso, em 2023, da taxa de utilização do metro de Lisboa (quociente entre os passageiros-km transportados e os lugares-km disponibilizados) ser a melhor dos três metros: média  24% , atingindo 26% em maio de 2023. Isto é, embora a procura possa ter sido reduzida relativamente a 2019, ela é ainda suficientemente forte para se poder discordar de medidas de "ajustamento" da oferta à procura como por exemplo o recurso ao término intermédio de Campo Grande, com um número significativo de passageiros a apearem-se compulsivamente, porque alguém vendeu à administração a ideia que fora das horas de ponta não há procura para Odivelas: Ver figura (5 minutos de espera também por motivos de segurança da manobra).


Não venham também com a conversa que o teletrabalho retem as pessoas em casa e diminui a afluência à cidade. Dirá isso quem não contemplou o congestionamento rodoviário na 2ª circular, na CRIL e CREL, no IC19, nas travessias da cidade e ligação às periferias, a ditadura do transporte individual por deficiência do transporte público (má assessoria nos planeamentos da rede?).

Por outras palavras, parece aplicável a lei de Say, se aumentarmos a oferta, estimulamos a procura. Porém, o problema existe se não conseguimos aumentar a oferta e se não o reconhecermos.

Vejamos então  as possíveis razões por que o metro de Lisboa ainda não atingiu os valores de 2019:

1 - Limitações em termos de material circulante disponível e do quadro de maquinistas o que implica menos comboios em linha, intervalos entre comboios maiores e afluência maior de passageiros, desincentivando a procura. Em 2020 foi assinado o contrato para o fornecimento de 7 comboios de 6 carruagens a fornecer na totalidade até ao fim de 2025. Em novembro de 2023 foi lançado o concurso para mais 12 comboios de 6 carruagens (com opção para mais 6 comboios). Isto é, teremos 55+19=74 comboios de 6 carruagens por volta de 2028  . Em 2023 foi concluido mais um curso de maquinistas.

Mas vejamos  quantos comboios de 6 carruagens seriam necessários na rede existente e na rede após a inauguração da linha circular para garantir um intervalo de 3 minutos entre comboios em todas as linhas, contando cerca de 10% para reserva e manutenção.

Rede atual, nº de comboios de 6 carruagens por linha para intervalo de 3 minutos:

Odivelas-Rato             19
Telheiras-Cais Sodré   16
Linha Vermelha           18
Linha Azul                   23

  total                            76         problema: só existem 55 comboios de 6 carruagens


Rede após a linha circular, nº de comboios de 6 carruagens por linha para intervalo de 3 minutos:

Linha circular               25
Odivelas-Telheiras        11
Linha Vermelha            18
Linha Azul                    23  

total                              77       problema: contando os 55 existentes e os 19 contratados e anunciados
                                                (sem a opção de mais 6) teremos apenas 74 comboios de 6 carruagens    



O cálculo do material circulante necessário (pode substituir-se o intervalo entre comboios no quadro
Excel para ver o efeito no número de comboios necessário) pode ver-se em:

https://1drv.ms/x/s!Al9_rthOlbwezTny_D0PP5sGiRuz?e=JFq0NV

2 - A imprensa técnica especializada na ferrovia apressou-se, quando do desenvolvimento da pandemia de 2020, a divulgar sugestões de melhoria do interior dos comboios para contrariar a disseminação da doença. O metro de Lisboa adotou medidas eficazes de desinfeção e de limpeza das carruagens. Porém, não foi suficientemente longe, não se chegou a melhorar a ventilação no interior das carruagens (ela existe e tem vários níveis de intensidade, mas é difícil para o maquinista adequá-la à ocupação das carruagens). Teria sido desejável melhorar a ventilação com orifícios na parte inferior da carroçaria forçando a circulação do ar o mais longe possível dos rostos dos passageiros. Quando o comboio vem cheio, ao abrirem-se as portas quem entra sente o bafo quente e terá de o respirar (por isso é recomendável  o uso de máscara). O ar viciado deveria ter sido expelido no percurso entre estações onde os ventiladores dos postos de ventilação principais fixos extraem o ar para o exterior, enquanto nos postos de ventilação das estações o ar fresco é injetado nos cais a partir do exterior. Desconhece-se se o novo material circulante vem equipado desta maneira. A ponderar também a instalação de lâmpadas germicidas.

É compreensível que para muitas pessoas haja uma retração por este motivo para utilização do metro. Evidentemente que com mais comboios nas linhas e comboios menos cheios haveria maior poder de atração.   Deveria aprofundar-se esta questão. 


3 - A desestruturação urbanística em curso em Lisboa  (nomeadamente a subida das rendas, a falta de habitação acessível, a gentrificação, o crescimento do alojamento local para turistas, o abandono da Baixa por agencias bancárias, outras empresas e entidades governamentais, a deslocação de atividades económicas dos setores secundário e terciário para as periferias)   contribui para a deslocação das pessoas para os concelhos limítrofes com crescimento da sua população e decrescimento da população de Lisboa, como confirma o censo de 2021 . 

O predomínio do transporte individual (nomeadamente sem portagens junto de parques dissuasores nos limites da cidade com alternativa de transporte público de modos pesado e complementar, e sem uma rede reticular de modos complementares desde LRT em vias segregadas e pistas segregadas para transporte autónomo a pedido), apesar dos incentivos tarifários introduzidos, completa o efeito da desestruturação urbanística.

Só um planeamento correto de toda a área metropolitana  de Lisboa poderá corrigir, a médio prazo, esta inconformidade, incluindo a elaboração em modo participativo até dezembro de 2027, conforme os regulamentos comunitários do SUMP (sustainable urban mobility plan - https://transport.ec.europa.eu/transport-themes/urban-transport/sustainable-urban-mobility-planning-and-monitoring_en) .  

Infelizmente, até agora não tem sido visível da parte das tutelas dos transportes urbanos e suburbanos a plena adesão a estes objetivos, preferindo-se intervenções por fases, eventualmente incompatíveis, sem uma visão integrada e de longo prazo (exemplos: a linha circular em vez do prolongamento da linha amarela  do metro à estação de Alcântara Mar, a ligação da linha de Cascais à linha de cintura em vez do prolongamento da linha vermelha do metro a Algés/Carnaxide/ Jamor, a linha violeta em U em vez do prolongamento do metro de Odivelas ao Hospital Beatriz Ângelo).  

Mas como se diz acima, se prevalecerem "justificações" subjetivas e se não houver participação e escutados técnicos experientes, não será otimista a previsão.




 

domingo, 3 de março de 2024

Uma unidade de execução de Marvila, em março de 2024 e a decidida ligação de alta velocidade à ponte Chelas-Barreiro

 Graças ao Público e ao jornalista  Samuel Alemão tomei conhecimento de que decorria até 13 de março uma consulta pública sobre a proposta de definição do âmbito (PDA) do estudo de impacto ambiental (EIA) de uma unidade de execução em Marvila que pretende recuperar urbanisticamente a zona de Marvila depois do abandono de instalações fabris e oficinais e da degradação que atingiu. Observo que é generosa a classificação de "pública" dada à consulta, que decorre silenciosamente, como silenciosa e discreta foi a elaboração do estudo prévio de arquitetura que enforma a presente PDA. Defendo, pelo contrário, e de acordo  com o artigo 65.5 da constituição da República, a participação aberta dos cidadãos na elaboração dos instrumentos de gestão do território, pelo que já é tardia a informação da presente PDA.

https://www.publico.pt/2024/02/27/local/noticia/megaurbanizacao-marvila-enterrara-linha-norte-muda-zona-oriental-lisboa-2081750

Como se sabe, problemas complexos de ordenamento do território requerem uma análise pluridisciplinar e abrangente, holística como gostam de dizer os "key note speakers" nos seminários. Não parece ser este o caso quando está por definir a ligação da zona abrangida pelo presente anúncio  às outras zonas de Marvila e adjacentes, especialmente em termos de mobilidade (nomeadamente segundo os eixos SW-NE, S-N, SE-NW, E-W), duvidando-se do nível que a urbanização proposta possa atingir, quando comparada com as urbanizações de Alvalade, Olivais, Telheiras. 

Segundo as boas práticas, devem ser estudadas várias hipóteses e submetê-las a comparação de custos e benefícios (não digo que os autores da proposta não o tenham feito, mas se o fizeram, isso não foi participado publicamente). 

Igualmente parece criticável fazer depender toda a urbanização e a mobilidade desta zona do projeto da terceira travessia sob a forma da ponte Chelas-Barreiro. Esta foi projetada quando se pensava localizar o novo aeroporto em Rio Frio, portanto na direção de Pinhal Novo, o que entretanto mudou. A própria curva da ponte para a Gare do Oriente é agora discutível, uma vez que está por estudar a hipótese de localização da estação de alta velocidade na aeroporto Humberto Delgado e não na Gare do Oriente, libertando espaço na zona em apreço (ver desenho no ponto 4 mais abaixo) e poupando a escola Afonso Domingues. 

Apresento também no ponto 5 abaixo duas hipóteses para a TTT, por ponte, túnel ou ambos,  que deverá ser compatibilizada com a quarta travessia e com uma grande circular externa suburbana de LRT. Logo, aqui também está ausente a comparação entre várias soluções possíveis mas não estudadas com participação pública, o que poderá ter como consequência dever resolver-se primeiro o problema do PROTAML. Quando, como aliás a proposta refere, o PROTAML é de 2002 e muita coisa mudou entretanto, parecerá que  incluindo as soluções para o novo aeroporto, as travessias do Tejo e a ferrovia de alta velocidade, convencional, suburbana e de mercadorias, deverá esperar-se pela atualização do PROTAML e estudar as soluções possíveis para Marvila e subsequente EIA. 

https://participa.pt/contents/consultationdocument/UE%20Marvila_PDA_v1.pdf











Torre Marialva junto da linha do Norte, a 3 km de Santa Apolónia e no local onde se projeta o soterramento da linha em 400 m para sul

passagem superior sobre a linha do Norte com vista para o rio, junto da torre Marialva



                                                             xxxxxxxxxxxxxxxx



Junto o meu parecer com os comentários sintetizando as observações anteriores e que enviei ao portal "participa":

1 -  Como a  PAD refere, o PROTAML é de 2002 e muita coisa mudou entretanto. Tentarei justificar nos comentários seguintes que, integrando o PROTAML o estudo das soluções para o novo aeroporto, as travessias do Tejo e a ferrovia de alta velocidade, convencional, suburbana e de mercadorias, deverá ponderar-se seriamente a atualização do PROTAML e estudar, numa perspetiva abrangente das outras zonas de Marvila e adjacentes, as soluções possíveis para Marvila e subsequente EIA. É meritório recuperar urbanisticamente a zona de Marvila depois do abandono de instalações fabris e oficinais e da degradação que atingiu, mas até agora a participação pública na elaboração do estudo prévio de arquitetura que enforma a presente PDA foi discreta. Defendo, pelo contrário, e de acordo  com o artigo 65.5 da constituição da República, a participação aberta dos cidadãos na elaboração dos instrumentos de gestão do território.  Em resumo, proponho a reformulação e alargamento do âmbito da PDA não apenas focando componentes ambientais mas também componentes técnicas relevantes, como as relacionadas com as infraestruturas de transportes de todos os níveis envolvidas.

2 - Problemas complexos de ordenamento do território requerem uma análise pluridisciplinar e, repito, abrangente. Segundo as boas práticas, devem ser estudadas várias hipóteses e submetê-las a comparação de custos e benefícios (não digo que os autores da proposta não o tenham feito, mas apenas que isso não foi participado publicamente).

3 -  Aparentemente está por definir a ligação da zona abrangida pela presente PDA  às outras zonas de Marvila e adjacentes, especialmente em termos de mobilidade (nomeadamente segundo os eixos SW-NE, S-N, SE-NW, E-W), duvidando-se que a urbanização proposta possa atingir o nível das urbanizações de Alvalade, Olivais, Telheiras, quando com elas comparada.

4 - Parece criticável fazer depender toda a urbanização, e a mobilidade desta zona, do projeto da terceira travessia sob a forma da ponte Chelas-Barreiro. Esta foi projetada quando se pensava localizar o novo aeroporto em Rio Frio, portanto na direção de Pinhal Novo, o que entretanto mudou. A própria curva da ponte para a Gare do Oriente é agora discutível, uma vez que está por estudar a hipótese de localização da estação de alta velocidade na aeroporto Humberto Delgado (admitindo uma cota de 55 m para o plano base de via) e não na Gare do Oriente, libertando espaço para os pilares de acesso à ponte na zona em apreço, o que, ainda que mantendo a ligação à linha de cintura na direção da estação Olaias (onde aliás a IP prevê uma estação de interface com o metro) poderia viabilizar a não demolição da escola Afonso Domingues e a sua reintegração no sistema educativo nacional (estranha-se não se ter procurado uma solução que evitasse a demolição). Observa-se que para a linha de cintura está prevista a sua quadruplicação desde a estação Areeiro até Braço de Prata e Oriente devendo contar-se com uma ocupação de cerca de 14m adjacente à atual via dupla. Terá também de se contar com igual largura para uma faixa destinada à linha de alta velocidade totalizando 28 m além da via dupla existente, parecendo assim insuficiente a largura de 10 m invocada na página 30 da PDA. Junto desenho.


5 -  No âmbito da atualização do PROTAML conforme as premissas do ponto 2 será necessário comparar várias hipóteses para a localização da terceira travessia do Tejo, por ponte, túnel ou ambos,  que deverá ser compatibilizada com a quarta travessia rodo-ferroviária (Trafaria-Algés) e com uma grande circular externa suburbana de LRT. E que  essa comparação seja feita com participação pública. Junto duas hipóteses para travessia ferroviária , uma entre foz do Trancão-Alcochete Norte e outra entre Beato-Montijo no pressuposto da estação de alta velocidade no aeroporto Humberto Delgado  e ligação de alta velocidade pela margem direita do Tejo.




6 - Aplaude-se a preocupação com o sistema de escoamento de águas pluviais e a intenção de construção de bacias de retenção (pág.12), julgando que na fase do  PDA já poderiam vir indicadas as suas localizações e , muito importante, as ligações ao troço do plano de drenagem cujo troço Chelas-Beato atravessa a zona em apreço, o que certamente o EIA esclarecerá.

7 -  Regista-se com apreço a previsão de estacionamento para moradores e seus visitantes, comerciantes e público, mas parece que nos dois casos será limitado, implicando mais pisos subterrâneos e a construção de auto-silos. Sobre a natureza das vias, para além das considerações do ponto 3, julga-se que deveriam ser previstas vias de 4m de largura para veículos autónomos a pedido, partilháveis com velocípedes e analisadas as hipóteses para espaço canal para LRT segundo alguns dos eixos do referido ponto 3

8 - Afigura-se que um parque verde de 8 ha (pág.14) será de difícil gestão, nomeadamente em termos de segurança, caso o seu projeto não pondere este problema. Sugere-se à imagem do parque do INATEL 1º de maio uma utilização desportiva em horário prolongado e uma ligação pedonal a Chelas e ao parque da Bela Vista

9 - Embora o PDM refira as percentagens para habitação, serviços e comércio, julga-se que o alargamento do âmbito da PDA a áreas adjacentes justificará a sua revisão, nomeadamente para inclusão de percentagens para habitação acessível e para atividade oficinal ou de pequenas fábricas.

10 - A cobertura de 400m de comprimento da linha férrea é uma excelente solução, mas por razões de custos deverá ter intervalos a céu aberto.

11 - na pág.22 considerar que já existe maquinaria pesada de obras com alimentação elétrica com posto de transformação móvel para redução de emissões


xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

Assunto relacionado (traçados para a TTT):


PS em 5mar2024 - curiosamente, hoje o "Público" reporta uma inciativa do governo para aproveitamento dos edifícios e da zona da antiga Manutenção Militar,  "o bairro do Grilo",  cujo coordenador manifesta preocupação com os termos da proposta da unidade de execução de Marvila nomeadamente em termos  de falta de habitação acessível: