sábado, 19 de dezembro de 2020

Citaçao de John Le Carré

 Com a devida vénia a Rui Tavares na sua crónica de 16 de dezembro de 2020 no Público, e não sendo leitor de romances de espionagem, transcrevo a citação do agente Smiley criado por John Le Carré:

"Sou europeu, se alguma vez tive uma missão, se alguma vez estive consciente de uma missão para além dos nossos negócios contra o inimigo, foi para com a Europa. Se fui inclemente, fui inclemente por causa da Europa. Se tive um ideal inalcançável, foi o ideal de conduzir a Europa para fora da sua escuridão, rumo a uma nova era da razão. Ainda o mantenho".

Na mesma linha, as declarações do diretor do Infarmed, Rui Santos Ivo, no DN de 19 de dezembro de 2019:

"É numa situação de crise como esta que sentimos que é uma mais valia fazermos parte da União Europeia".


Lembrei-me de fazer estas citações a propósito da fuga dos governos ao cumprimento dos regulamentos europeus 1315 e 1316/2013 sobre as redes transeuropeias.

É verdade que não foram famosas muitas das decisões como reação à crise de 2007 a 2011 nem muitos dos constrangimentos da troika, nem algumas burocracias "eurocráticas", mas, citando Angela e Ursula, os "valores" são essenciais.

E do ponto de vista técnico, também. Aprendi isso quando tive reuniões periódicas com colegas homólogos de metropolitanos. Não devemos estar sozinhos, técnicos, empresários, sindicatos.


sábado, 5 de dezembro de 2020

Notícias do metropolitano de Lisboa

Neste "post" tento atualizar o texto anterior em

http://fcsseratostenes.blogspot.com/2020/09/do-erro-com-que-temos-de-conviver-ao.html  


1 - Adjudicação da fiscalização da obra da linha circular

https://jornaleconomico.sapo.pt/noticias/tecnoplano-vai-fiscalizar-obra-de-expansao-do-metro-de-lisboa-643160

Verifica-se assim que o metro continua a não cumprir a lei 2/2020 da Assembleia da República que determinou a suspensão da construção da linha circular em 2020.

Anoto que a declaração do administrador da Tecnoplano mantem o mito de que a linha circular permite uma frequencia mais elevada do que as linhas independentes. Isso só será verdade para intervalos inferiores a  90 segundos, o que não vai ser o caso, e se, cumulativamente, os términos das linhas independentes não tiverem inversão alternada com substituição dos condutores (condutores de reforço).

2 - concurso para novo material circulante e sistema CBTC

Vi com grande satisfação a notícia de que os concorrentes Thales e CRRC tinham desistido da impugnação da adjudicação à Stadler e Siemens do fornecimento de 14 unidades triplas e do sistema de controle da circulação dos comboios CBTC ( communications based traffic control):

 https://www.metrolisboa.pt/institucional/2020/11/19/metropolitano-de-lisboa-notificado-da-desistencia-de-processos-de-impugnacao-do-concurso-das-novas-carruagens/

A falta de material circulante é já um facto para os km da rede, apesar da quebra do volume de passageiros por motivo da crise sanitária (ca 60%?), mas também por isso o serviço deve ser assegurado por mais comboios para garantir a menor ocupação por carruagem. Caso o caderno de encargos tenha previsto uma opção de compra, conviria acioná-la para além das 14 já contratadas, naturalmente com a devida candidatura a fundos comunitários. Caso contrário terá de se lançar novo concurso.

Seria interessante aproveitar este fornecimento para incluir no novo material circulante um sistema de ventilação adequado à luta contra a pandemia e outras medidas como paineis separadores de fluxos de ar (ver ensaio da firma    https://www.railwaygazette.com/vehicles/design-agency-showcases-post-covid-metro-train-concept/57294.article   ).

Sugere-se, por exemplo:

o objetivo é separar os fluxos de ar dos passageiros de pé e dos passageiros sentados; a potencia dos extratores sob os bancos deverá ser superior à do extrator central; conviria estudar a aplicabilidade dum sistema análogo aos autocarros, sendo certo que os seus sistemas de ar condicionado devem ter uma taxa de renovação elevada, sem o que será preferível tê-los desligados com janelas abertas, e nos dias de temperaturas extremas assumir o gasto adicional de energia com o funcionamento do ar condicionado


Para além disso e das atuais medidas de desinfeção por spray (referida como nebulização elétrica no site do metropolitano - ver  https://www.metrolisboa.pt/institucional/2020/11/17/metro-de-lisboa-iniciou-a-nona-desinfecao-por-nebulizacao-eletrica-na-sua-rede/            e

https://www.metrolisboa.pt/2020/10/01/testes-microbiologicos/)   seria interessante considerar a desinfeção fora do período de exploração por ozono (ver referência das firmas Safeway e O3Waves    -   https://zomato-portugal.medium.com/safeway-desinfe%C3%A7%C3%A3o-segura-e-eficaz-57328dfb33a

https://www.ewaves.pt/pt/o3waves.php?gclid=Cj0KCQiA2af-BRDzARIsAIVQUOfJX4E3d_QuXRj8f93Voy98C2Q5pePBT6Sdyx5PsLP1u1iujrVBBT0aAn8IEALw_wcB                        ), 

o sistema de ionização bipolar ( ver        http://icycold.com.br/2020/10/05/covid-19-desinfeccao-de-aeronaves/

http://www.dera.pt/pt/noticias/go/sistema-higienizador-para-ar-condicionado     ) 

ou equipamento dos insufladores com lampadas UV germicidas, também fora do período de exploração.

Noticias sobre este tema:

https://www.railwaygazette.com/uk/decontamination-to-support-a-safe-return-to-rail/57502.article

https://www.railwaygazette.com/uk/scientific-study-to-improve-understanding-of-covid-19-transmission-on-trains-and-buses/57613.article

Também no âmbito deste concurso é de aplaudir a aquisição de um sistema CBTC, tecnologicamente atualizado. Conviria corrigir a informação no comunicado do metro. Não vai substituir um sistema obsoleto dos anos 70. O sistema de sinalização de cantonamento automático existente no metro é uma tecnologia  dos anos 90. O que é dos anos 70 é o dispositivo de travagem automático por ultrapassagem de sinais vermelhos, e que convirá ser substituido como recurso em caso de avaria do sistema CBTC.

É de apreciar a decisão de desistencia pela CRRC, o fabricante chinês que vai fornecer o metro do Porto. A sua reclamação prejudicava bastante a execução da encomenda.


3 - concurso para construção da linha circular, 1º lote

Em contradição com a lei 2/2020 da Assembleia da República, o Tribunal de Contas apôs o visto sobre o contrato do 1º lote, toscos Rato-Santos (ver  

https://fcsseratostenes.blogspot.com/2020/06/considerando-que-os-mapas-de-despesa-do.html      )

Mais uma vez lamento a decisão imposta por quem não tem a experiência da operação e de manutenção de metropolitanos, e se recusa a mostrar os "estudos" que fundamentaram a aprovação do EIA e a discutir os argumentos contrários. Será o complexo de "hubris". Desconheço também se o visto do Tribunal de Contas possa conter uma cláusula condicional (o art.282º falava na suspensão da linha circular em 2020 e no desenvolvimento de um estudo de mobilidade. Mais uma vez não são cumpridos os artigos 37.1 e  48.2 da CRP, que dá aos cidadãos o direito de serem informados sobre assuntos de interesse público.


4 - 2º lote do concurso para a linha circular

Assinatura do contrato para o 2º lote, toscos Santos - Cais do Sodré:

https://www.metrolisboa.pt/institucional/2020/09/25/metropolitano-de-lisboa-assina-contrato-para-a-segunda-empreitada-do-plano-de-expansao/

Ignoro se o Tribunal de Contas já apôs o visto.

Neste lote, mantenho a crítica da elevada dificuldade construtiva (duvido de que os 73,5 milhões de euros sejam suficientes), penalização elevada do tráfego à superficie incluindo a linha de Cascais e Carris, menor eficiência para a ligação à linha de Cascais do que uma correspondência em Alcântara Mar, menor prioridade do que a expansão à zona ocidental e a Loures, eventual vantagem em ligar o Cais do Sodré à Lapa,  Estrela e Campo de Ourique através da modernização da linha de elétrico existente com criação de ruas pedonais.

5 - 3º lote do concurso para a linha circular

Adjudicação do 3º lote, toscos dos novos viadutos de Campo Grande e deslocação dos cais sul para nascente 

https://www.metrolisboa.pt/institucional/2020/10/03/metropolitano-de-lisboa-adjudica-terceira-empreitada-do-plano-de-expansao/

Mais uma vez se lamenta a agressão arquitetónica que representam os novos viadutos e a deslocação dos cais sul para nascente. Mantem-se a recusa de consideração da hipótese de linha em laço para evitar esta agressão,  compatível com a ligação Rato-Cais do Sodré.


6 - Investimento inscrito relativamente ao metropolitano de Lisboa no PNI 2030

Ver

https://www.portugal.gov.pt/download-ficheiros/ficheiro.aspx?v=%3d%3dBQAAAB%2bLCAAAAAAABAAzNDCztAAAjDIorAUAAAA%3d

Previstos para a AML 2300 milhões de euros entre 2021 e 2030 para desenvolvimento da rede de metro e de sistemas em sítio próprio, incluindo a melhoria da acessibilidade das estações.

Anota-se a desconfiança relativa ao anúncio de sistemas BRT (sendo sistemas de transporte de massas é significativa a menor eficiência energética por passagero-km devida ao maior coeficiente de resistencia ao rolamento no contacto pneu-asfalto) e à insistencia na ligação da linha de Cascais à linha da cintura, conflituando com o tráfego intercidades e regional. 

Registo também com pena a aceitação acrítica pelos presidentes de càmara da área metropolitana de Lisboa  dos planos da CML e do governo , que pode comprometer o desenvolvimento da ferrovia suburbana e urbana na AML . Ver:

http://fcsseratostenes.blogspot.com/2020/10/mais-um-protocolo-das-camaras-de-loures.html    )


7 - Comentário

Não é bonito ver uma empresa como o metropolitano de Lisboa ter uma atitude de desrespeito por uma lei da Assembleia da República,  nem manter a sobranceria de não mostrar os estudos de viabilidade que fundamentaram a aprovação do EIA da linha circular, como repetidamente pedido pela Assembleia Municipal de Lisboa   (ver https://www.am-lisboa.pt/101000/1/014909,112020/index.htm      ). 

Mesmo quando a administração do metro promete a divulgação para breve do "estudo" de prolongamento para Alcântara, sem fornecer pormenores e sem permitir a participação pública prevista no art.48.1 na direção dos assuntos públicos, não está a ter um comportamento juridicamente correto.

Manifesto portanto reservas em relação à correção do processo de desenvolvimento das redes de transporte coletivo na AML.

Porém, não está nas minhas competências o desencadear  de processos jurídicos , mas não negarei o apoio técnico a quem o solicitar.