quinta-feira, 31 de agosto de 2017

Citações de verão e encontro na praia

O DN tem estado neste verão a entrevistar pessoas mais ou menos famosas ou apresentadas como modelos a seguir. É um pouco a técnica das revistas cor de rosa, embora os escolhidos sejam de mais interesse. Não aprecio o culto da personalidade, mas a verdade é que vale a pena registar algumas citações dos entrevistados:

- de José Fragata, diretor do serviço de cardiologia do hospital de Santa Marta, de que discordo da visão que tem do Serviço Nacional de Saúde por me parecer que não devia haver senhores doutores (nem senhores engenheiros, claro), nem estruturas hierárquicas demasiado verticais, nem esta competição público-privado, mas confesso que não tenho elementos para contestar:  "a reforma é a coisa mais triste que existe É muito triste uma pessoa aos 60 anos, cheia de experiência, ser posta de lado".

- de José Augusto Bernardes, da biblioteca geral da universidade de Coimbra : "a ideia de novidade induz um efeito poderoso de facilitação e de deslumbramento", a propósito do digital e do livro impresso. De facto, muitos projetos úteis são postos de lado porque alguém se lembra de que "agora, há uma solução melhor", e não há, quer sejam baterias seguras e de baixo peso para os automóveis, quer sejam melhores soluções que o transporte ferroviário

- de Rui Ramos, da empresa Bike in rio, instrutor de bicicleta aos fins de semana em Belém : "as empresas deviam dar mais valor aos seus trabalhadores. Se as pessoas estiverem felizes no ambiente laboral trabalham muito melhor, com mais imaginação e criatividade" .  E isso até é contabilizável...

-  de Maria Pereira, doutorada em ciencias farmaceuticas, da Gecko Biomedical : "Todos temos talento, uma coisa que falta em Portugal é o trabalho em equipa, a competição é saudável se for uma coisa construtiva e não destrutiva. As pessoas em geral, e as instituições em particular, têm de pensar que estamos todos a trabalhar para o mesmo fim. Tem-se um pouco a mania de pensar: "isto é o meu trabalho, é a minha quintinha" e não vamos mais longe precisamente por não trabalharmos em equipa. Isso aprendi em Boston, as pessoas competem entre elas, sim, mas também sabem trabalhar em equipa. A formação existe, temos pessoas de topo, mas falta trabalhar em equipa e em conjunto para um fim maior."

E é aqui que entra o encontro de praia, com um mais jovem colega ainda ao serviço, que me responde desanimado à pergunta "como vai o metro?": eu tenho confiança na minha equipa, são competentes e trabalhadores, mas o ambiente geral desmobiliza, falta o trabalho de equipa, há muitas quintinhas ...
É isso, bate certo, o diagnóstico está feito. Pena os decisores ainda não terem entendido. Talvez que se trabalhassem em equipa, tipo "bottom-up", em vez de quererem impor diretivas superiormente definidas, o ambiente não fosse tanto de "quintinhas". . .

1º debate televisivo sobre as eleições autárquicas em Lisboa, em 30 de agosto de 2017, na SIC Notícias

Interessante, o debate. Pena os candidatos não se disporem a trabalhar em conjunto, sem maiorias dum lado e minorias do outro, ou sem coligações dum lado e oposições do outro. Prevalece a velha ideia, a força mais votada pode impor o seu projeto. Em vez de trabalharem em equipa. Cooperação, em vez de competição e imposição pelo maioritário, muitas vezes com soluções impostas por cegueira ideológica. Decidir por maioria absoluta parece uma regra democrática, mas não, a democracia tem inimigos íntimos, como dizia Tzvetan Todorov. Sim à inclusão das minorias.

Sobre o tema transportes e mobilidade, assinalo que ficaram sem resposta duas perguntas ao incumbente, atual presidente da câmara de Lisboa: que pensa dum plano de expansão do metropolitano a sério, com expansão para ocidente, em vez do erro crasso da linha circular, e qual é o plano para a 2ª circular (de que já está executado o viaduto de ligação da 2ª circular à Av.do Padre Cruz).
Corretamente definida pela maioria dos candidatos a relação entre a habitação e os transportes.

terça-feira, 22 de agosto de 2017

15700

15700, 15700, 15700 toneladas
de aço
de chapa de aço
dizia na imprensa diária o discreto anúncio
para construção naval
no estado em que se encontra
e pela melhor oferta
desde que superior ao valor de licitação
mas esse não dizia o discreto anúncio
qual é
qual será a razão
quais serão as razões
por que se vendem assim 15700 toneladas de aço
de chapa de aço
para construção  naval
em discreto anúncio
na imprensa diária publicado
mas só por um dia
discretamente perdido numa página de anúncios
em retangulo pequenino
ao fundo da página, do lado direito
por uma comissão liquidatária
de um estaleiro
que foi de todos nós
que por força das leis da união
da nossa união,
da europa união,
podia e devia ter construido com as 15700 toneladas
os patrulheiros que defenderiam as costas marítimas da união,
ou até asfalteiros para um país petrolífero
mas que nem uma coisa nem outra deixaram que florescesse
15700, 15700, 15700 flores lançadas ao mar
em sinal de luto

PS em 31 de agosto - curiosa a entrevista do diretor da Douro Azul, que encomendou a construção de um navio de cruzeiros para a Antártida, com viagens já contratadas, à West Sea, antigos estaleiros navais de Viana do Castelo. O mesmo senhor que ficou em segundo lugar no concurso para venda do Atlantida com uma proposta de 8 milhões de euros. O ganhador, com uma proposta de 13 milhões, desistiu. Adjudicado por 8 milhões, o adjudicatário deve ter gasto à volta de 4 ou 5 milhões em manutenção e na viagem para a Suécia, e vendeu-o a uma empresa de cruzeiros norueguesa por 17 milhões. Excelente negócio, que juntamente com o garrote imposto aos estaleiros (tudo segundo a lei, claro, embora o tratado da UE permita a injeção de fundos públicos em assuntos de defesa, como era o caso dos patrulheiros -  a Europa não precisa de vigiar as suas costas? -  ou de apoio a regiões ultraperiféricas como os Açores a que se destinava o Atlantida) , serve para alimentar a propaganda de ue o privado é que sabe gerir, o público não (mais de 6 meses esteve um pedido de encomenda de material para os patrulheiros à espera de autorização...). Se apertarmos bem o pescoço, as dificuldades de respiração e a capacidade de movimentação aumentam...
PS em 19 de outubro - o mesmo senhor da Douro Azul informa que tem à venda o Trafaria Praia, decorado por Joana Vasconcelos para uma bienal de Veneza, e que comprou em 2014. Que deixou de fazer passeios no Tejo paara turistas porque com as caraterísticas do barco não era rentável. E a manutenção do barco a navegar era de cerca de 500.000 euros por ano (!?). Arriscada, a vida empresarial privada, eu diria que tal como a pública, só que é sempre possível que o senhor empresário não perca dinheiro com este negócio.
http://www.jornaldenegocios.pt/empresas/detalhe/mario-ferreira-e-o-cacilheiro-de-joana-vasconcelos-foi-um-flop-turistico-ja-perdi-um-milhao-chega-ganhei-juizo

terça-feira, 15 de agosto de 2017

Do futebol ao ditador

O professor de economia escolhe por vezes temas interessantes. Recentemente observou que o valor da transferencia de Neymar constituia o cume de uma série em que o segundo jogador mais valioso "custaria" cerca de metade, o terceiro cerca de um quarto e por ai fora.
Trata-se da lei de Zipf, inicialmente elaborada para interpretar a frequencia com as diferentes letras ocorrem num texto, verificando-se uma ordenação em escada.
Esta lei pode relacionar-se com outra, a de Fermat-Weber, que mostra o poder cada vez maior dos elementos de maior peso num sistema entregue a si próprio. Isto é, a natureza não é democrática, por um lado despreza os elementos minoritários, e por outro ordena os seus elementos numa escala em que os a diferença de valor é grande, com a agravante de ir sucessivamente agravando as diferenças (variante da lei da entropia, que cresce no sentido da maior desordem num sistema entregue  a si próprio).
 Temos aqui uma dialética interessante.Estamos sempre a apregoar a união com a natureza. Mas ela é discriminatória (como aliás Darwin explicou com o sacrifício dos mais fracos em honra dos mais fortes).  A própria ideologia ultraliberal, de supressão de qualquer intervenção no funcionamento dos mercados aparenta a defesa de uma anarquia que deixa entregue à lei de Fermat-Weber a seleção dos mais poderosos, ordenados segundo a lei de Zipf. Os seus defensores, quando carinhosamente dizem que "autorizam" uma regulação pelo Estado (funcionamento deficiente dos mercados: externalidades, informação assimétrica, escassez), sabem que essa regulação só funcionaria se o próprio Estado tivesse experiencia nas atividades que regularia (o que dispensaria a preocupação dos ultraliberais com a falta de vocação do Estado para gerir negócios) e se os seus executivos não estivessem dependentes do poder económico dos regulados.
É perigoso analisar as coisas pela lei das analogias, mas não será mesmo uma constante da natureza esta tendencia para a entropia máxima? e se não quisermos assim temos mesmo de intervir, arriscando-nos a que erros graves tenham consequencias sucessivamente mais penalizantes dos próprios elementos mais fracos que se queria proteger (analogia com os falhanços dos sistemas socialistas?)?
Como sair desta encruzilhada? Talvez pensando que a história da engenharia e da técnica está cheia de exemplos em  que são contornadas as leis da natureza. O homem habita casas e voa sem cair de acordo com a lei da gravidade, nem se afoga quando viaja a bordo de submarinos.
Isto é, têm de se aproveitar outras leis da Física (interessante, haver oposição de interesses naquilo que diferentes leis servem, uma espécie de analogia com a luta de classes) para resolver caso a caso as dificuldades.
Ou na gestão das sociedades, tem de apelar ao concurso de todas as forças que interessam à solução. Ou de como não deve haver classes dominantes nem individuos a quem pela lei de Fermat-Weber, pela lei de Zipf, e pelos mecanismos eleitorais vigentes que, de acordo com as leis de Kenneth Arrow, são o produto de ignorantes da matemática (Napoleão não era ignorante matemático, mas constituiu-se como o Neymar mais valorizado pelos cidadãos para anular a lei matemática eleitoral de Charles Bordas). Pelo que se poderia dizer que o sistema de governo por um partido único ou condicionado por um homem só, um Neymar ditatorial, não preenche os critérios da democracia.
Ou como diria qualquer engenheiro ou técnico encarregado dum projeto ou da soluçção de um problema, as coisas resolvem-se em trabalho de equipa, do planeamento à execução, controle, monitorização do funcionamento, exploração e desmantelamento no fim de vida, independentemente das ideologias de cada uma.
Mas para iso é preciso estuar as leis da Física e da Matemática, para mão haver predomínio de nenhuma delas.

domingo, 13 de agosto de 2017

Gaye Akyol, pintora e cantora, turca

Não sou apreciador deste tipo de música:

https://www.youtube.com/watch?v=s6nEDq6xN7s

mas uma entrevista no DN chamou-me a atenção para Gaye Akyol. Foi chamada à policia para esclarecer a letra desta canção.
Pobre Turquia, país tão rico de culturas.
Como diz Gaye, e não se refere apenas ao seu país, "estamos a ser governados por idiotas", "não há uma cultura melhor do que outra", "a religião e a economia são meios fáceis de controlar e empobrecer as pessoas".