quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Fala de José Blanco, ministro do Fomento do governo espanhol, para Álvaro Pereira, ministro da Economia do governo português



Fala de José Blanco, ministro do Fomento do governo espanhol, para Álvaro Pereira, ministro da Economia do governo português:


Hola Álvaro.
Me alegro de verte.
Me da gran placer tenerlos aquí en Madrid, usted y tu personal super, y tu jefe de gabinete es mismo super, bajo todos los puntos de vista.
Prefieria que habían venido de AVE, pero está bien, mientras no lo tendremos, tendrás que venir de avion.

Pero hombre, vamos a ver, cuando vengas de avion desde Lisboa hasta aqui, estás consumiendo alrededor de 250 Kg de CO2, tu solo.
Entonces, si vienes en Boeing 737 y la ocupacion es de 80%, tu y los otros 110 pasajeros, en un ida y vuelta, han emitido 55 toneladas de CO2.
Si hubieras venido de AVE, habías emitido en la ida y vuelta 50 kg de CO2 y tus compañeros de viaje  5,5 toneladas de CO2.

Hombre, no hagas esa cara, ya sé que no tienes dinero, pero este discurso de CO2 la tia de Bruselas le gusta oir, y por supuesto que le puedes pedir unas subvenciones.
A los precios actuales, 55 toneladas de CO2 costan en licencias € 770, lo que no es demasiado caro, puedes seguir ayudando a destruir el planeta con las emisiones de gases de efecto invernadero.

Y cuántos litros consome el 737 en Lisboa-Madrid? 
Alrededor de 3.000 litros, equivalente a 60 ml / pasagero.km, o, utilizando la equivalencia 1 litro de gasolina = 10 kWh, el consumo especifico es de 0,6 kWh / pasagero.km, que es aproximadamente cuatro veces el consumo específico de un pasajero del AVE. Con la ventaja de la energia elétrica del AVE poder ser producida desde las energías renovables que os hacen tanta confusión y  miedo que no haya consumidores para elas.

El consumo del 737 es elevado porque el pobre consome la mayor parte del combustible en el despegue y el ascenso y pronto comienza a descender, no se puede ahorrar com el menor consumo en velocidad de cruzero.
Y por eso no se puede usar aeronaves de gran tamaño, mayor capacidad, porque el viaje es sólo 515 kilometros (también es cierto que el A-380 no "encaja" en Portela, es lo que sucede cuando se ahorra en las inversiones en infraestructura).
Siempre es posible realizar grandes progresos en la eficiencia de un nuevo avión, pero hay leyes de la física que no se pueden superar.

Mira, el viaje de Lisboa-Madrid es casi como el viaje Londres-París.
Si tu no crees en mí, por ser un ministro de Felipe, además un Bourbon, sabes tu que Eurostar hizo un estudio comparativo del enlace de Londres a París, que es un poco más corto: 460 km? Y las conclusiones fueron las mismas: cada viajero de Eurostar emite 25 kg de CO2 y de avión 250 kg de CO2.

¿Cuál es, los tios de la técnica en Portugal no te han explicado esto?
No hablaste con ellos, con los técnicos?
Solamente hablaste con los administradores y economistas?
Solamente?
Jove.
Y vienes con el mensaje de los políticos para parar al AVE sine die?
De los políticos?
Coño.
Si, las mercancias de ancho internacional, si, claro, por supuesto, pero el AVE, el AVE?.
Hombre, ten cuidado, cada día perdemos dinero, ustedes y el resto de nosotros.

Así, que ahora tenemos entre 15 y 20 viajes diarios de ida y vuelta en avión, lo que da alrededor de 1900 pasajeros por día, entonces tenemos alrededor de 800 toneladas más de CO2 por día, lo que da para tener todavía una apoplejía .
En materia de energía, son casi 800.000 kWh por día perdido en los aviones*.
Haciendo 10 centavos de euro por kWh, el precio comercial (y estoy simplificando, ya que 1 litro de petróleo en la planta de energía produce un poco menos de 5 kWh), tenemos una pérdida diaria de 80.000 euros.
Jove.
Asimismo, no digo para reemplazar todos los viajes aéreos, pero que debriamos reemplazar al menos la mitad, lo debriamos.

Vamos, un perjuicio al día de € 40.000, sin contar las 400 toneladas de CO2, que son cacahuetes.
Hombre, los tipos de la técnica allá en Lisboa tiene que explicarlo bien.
Estoy seguro de que son capaces de eso, sino que también los políticos tendrán de se esfuerzar por realizar la question.

Vale?
OK, venga.
No te olvides de hablar del CO2 a la tia de Bruselas.
No puede ser, no nos podemos quedar sin AVE, Álvaro, ustedes y nosotros, sin AVE, no.

Pero ahora, vamos al Parque del Retiro a almorzar, que tu super jefe de gabinete se quedará a mi derecha, por supuesto.
Venga.


________________________________

* 2 x 515 km x 0,6 kWh x 1900pass - 2 x 600 km x 0,15 kWh x 1900pass = 832.200 kWh 







PS 1 - A não proporcionalidade entre os consumos específicos e as emissões de CO2 deve-se a que as emissões de CO2 correspondentes a 1 kWh consumido pelo TGV são muito menores (por vir duma rede elétrica em que a produção se deve tambem a fontes renováveis e nucleares)  do que as emissões da queima da gasolina.
Acresce que o estudo da Eurostar foi feito entre os centros das cidades de Londres e Paris, o que favorece o TGV.
PS 2 - O mesmo raciocinio se aplica ao transporte rodoviário, embora se verifiquem neste momento, quer nos automóveis, quer nos autocarros, progressos no consumo específico

terça-feira, 30 de agosto de 2011

De Pablo Neruda, Ode à cebola



Ode à Cebola


Cebola
Luminosa redoma
Pétala a pétala
Cresceu a tua formosura
Escamas de cristal te acrescentaram
E no segredo da terra escura
se foi arredondando o teu ventre de orvalho.
Sob a terra
foi o milagre
e quando apareceu
o teu rude caule verde
e nasceram as tuas folhas como espadas na horta,
a terra acumulou o seu poderio
mostrando a tua nua transparência,
e como em Afrodite o mar remoto
duplicou a magnólia
levantando os seus seios,
a terra
assim te fez
cebola
clara como um planeta
a reluzir,
constelação constante,
redonda rosa de água,
sobre
a mesa
das gentes pobres.
Generosa
desfazes
o teu globo de frescura
na consumação
fervente da frigideira
e os estilhaços de cristal
no calor inflamado do azeite
transformam-se em frisadas plumas de ouro.
Também recordarei como fecunda
a tua influência, o amor, na salada
e parece que o céu contribui
dando-te fina forma de granizo
a celebrar a tua claridade picada
sobre os hemisférios de um tomate,
mas ao alcance
das mãos do povo regada
com azeite polvilhada
com um pouco de sal,
matas a fome
do jornaleiro no seu duro caminho.
Estrela dos pobres,
fada madrinha
envolvida em delicado papel,
sais do chão eterna,
intacta,
pura como semente de um astro
e ao cortar-te a faca na cozinha
sobe a única lágrima sem pena.
Fizeste-nos chorar sem nos afligir.
Em tudo o que existe celebrei,
cebola
Mas para mim
és mais formosa
que uma ave de penas radiosas
és para os meus olhos globo celeste,
taça de platina baile imóvel de nívea anêmona
e vive a fragrância da Terra
na tua natureza cristalina.

                                           Pablo Neruda

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

O plano estratégico de transportes

Em Agosto de 2009 o governo de então apresentou, sob a responsabilidade da secretária de estado dos transportes, Ana Paula Vitorino, antiga colaboradora de uma empresa do grupo do Metropolitano de Lisboa, o Plano Estratégico de Transportes.
Embora sofrendo da falta de estatisticas fiáveis para fundamentação sólida das diretrizes e com demasiadas declarações de principio ou generalidades para orientações, era um documento válido.
As suas deficiencias eram devidas tambem à extensão e complexidade dos temas.
Um plano de transportes está indissoluvelmente ligado às politicas de urbanismo (o que obrigava logo a corrigir o infeliz plano de expansão do metropolitano de Lisboa associado ao plano), de ordenamento do território e da energia e ambiente, com o inconveniente grave destas ligações exigirem dados concretos para basear decisões. Isto contraria a politica de decisões por sentimento ou por ideologia, por exemplo, declarar que o TGV não pode construir-se sem conhecer os dados todos do problema e sem fazer uma análise comparativa cobrindo todos os encargos das infraestruturas e da exploração e todos os prejuzos e beneficios, com os outros modos de transporte.
De modo que era necessário fazer a atualização do plano estratégico dos transportes, coisa que o senhor ministro dos transportes do governo seguinte prometeu "a muito curto prazo" em Fevereiro de 2010.
Infelizmente, o senhor ex-ministro e o senhor ex-secretário de estado eram conhecidos como os teóricos universitários e, de facto, não passaram da teoria à prática.
Periodicamente iam anunciando a breve publicação da atualização do plano estratégico, mas ele nunca saiu.

Vem isto a propósito das intenções do atual senhor ministro dos transportes, Álvaro Santos Pereira, de publicar o plano de transportes em Setembro de 2011.
Ver
http://sol.sapo.pt/inicio/Politica/Interior.aspx?content_id=27273

O senhor ministro é uma pessoa culta, não só na sua especialidade, mas com capacidade para pensar com caracteristicas de integração das questões. É inclusive autor literário não apenas de temas económicos.
Porem, eu diria que será um tanto juvenil em questões de transportes, talvez porque no Canadá não há grande problema com os combustíveis fósseis nem preocupação com as emissões de CO2. Talvez que a posição contra o TGV fosse diferente se no Canadá houvesse aquele problema e aquela preocupação.
De modo que me parece imprudente a promessa de emitir um plano estratégico de transportes, coisa que me parece em si mesma também algo complexa, já em Setembro de 2011.
Mas pode ser que, com a super-chefe de gabinete que tem, pode ser que seja possível.
No entanto, se a qualidade do plano for má será como se não tivesse sido publicado ou pior ainda (terão sido ouvidos os técnicos das especialidades? em Agosto? sinceramente duvido; não me refiro aos técnicos reconhecidos pelo sistema, mas aos técnicos que estão dentro das questões e nas frentes de trabalho; terão sido ouvidos? é que um dos problemas do setor dos transportes é demasiadas vezes estarem à frente das empresas pessoas que não têm conhecimento do negócio...).
Por melhores que sejam as qualidade dos senhores colaboradores do senhor ministro, as expetativas são muito fracas relativamente à qualidade do plano que aí vem.
Mas pode ser que eu esteja enganado.
O que seria bom para o setor dos transportes.

Citação de Canavilhas

Classificação da politica cultural do atual governo por Gabriela Canavilhas, em entrevista ao DN:
"Parece que uma turma liceal de contabilidade aplicada tomou o poder".
Quem diria que, depois da politica confrangedora enquanto ministra da cultura (sobranceria na destituição dos diretores do Museu de Arte Antiga e do S.Carlos, ausencia de uma politica de transportes para os principais museus, deslocação do museu dos coches) , este blogue ia concordar com a senhora ex-ministra, a propósito da postura economicista do atual governo e da até agora aparente falta de cultura dos senhores ministros (com a agravante do equivalente a ministro da cultura ser o senhor primeiro ministro).
Talvez o senhor ministro Vitor Gaspar não goste destas afirmações, ele, um leitor atento do Candide de Voltaire, embora pareça ainda não ter lido o pobre mercador de Veneza às mãos de Shylock, que entretanto já exigiu 46% de juros à Grécia. E com o compromisso de apresentar os cortes em Setembro, não sei se terá tempo para leituras.
A citação de Canavilhas faz-me lembrar tambem um dito do tirano de Santa Comba:
"Os economistas são aqueles guarda-livros (era como se dizia, na altura) a quem ensinaram inglês".
Não sei se o senhor presidente da República, emérito doutorado em Inglaterra, gostaria de ler isto, ele, de quem Saramago dizia que não sabia distinguir Tomas More de Thomas Mann.
Mas já dizia Eduardo Lourenço, cultura é quando o homem se liberta do ciclo da sobrevivência.
E com estas dívidas, dizem os guarda-livros no poder que não há libertação do ciclo e não pode haver cultura.
Aguardam-se as decisões sobre cultura do senhor primeiro ministro para, como as diretrizes do governo dizem, reavaliar as questões.

Citação de Oscar Niemeyer

Citação de Oscar Niemeyer, por Carlos do Carmo, em entrevista ao DN:
"Os homens têm de ser mais modestos".
Mas Freud diria provavelmente, em relação ao caso português, que há aqui um grande problema.
É que na psicologia portuguesa tem um lugar fundamental a auto-valorização.
O que dificulta as coisas e complica qualquer debate.
Até porque há a tal teoria que diz que o debate não é a troca de argumentos, é a tentativa de sobreposição ao adversário.

domingo, 28 de agosto de 2011

Taxez-nous - III - Correção: o senhor presidente...

Correção:  o senhor presidente da República não pretende que o esforço fiscal seja apenas sobre o IRS. Também discordou da abolição do imposto sucessório. Nalguma coisa havia este blogue de concordar com o senhor presidente da República.
No entanto, continuam as reflexões sobre o assunto.
Por exemplo, este blogue não quer participar no que os comentadores já chamam "caça aos ricos". Apenas defende que não deve haver isenções.
Já se sabe de há muito que a taxação dos ricos não resolve as dividas (já Rotschild dizia que a sua fortuna não resolvia a pobreza), embora o mesmo não pudesse dizer-se da taxação do capital especulativo.
Que diabo, custa assim tanto flexibilizar os preconceitos de cada um?
Por exemplo, o tea party acha que os impostos se deviam reduzir.
Este blogue tambem concorda, mas enquanto o tea party taxa o trabalho em favor do capital, recorda-se aqui a linha divisória entre o setor público e o privado de Melo Antunes.
Dir-se-ia que o Estado não precisaria de tantos impostos se tivesse empresas públicas lucrativas, mas em Portugal entende-se que elas devem ser vendidas, mesmo que o momento do mercado esteja em baixa.
Melhor para a Petrobras, que se declara francamente interessada nos 20,4% da EDP.
É uma pena, porque muitos cidadãos e cidadãs portugueses também gostariam que os lucros da EDP ajudassem a minorar os impostos e, ironia, a Petrobras é uma sociedade de economia mista, cujo acionista maioritário é o governo brasileiro.
Conceções diferentes da realidade, dum e doutro lado do Atlantico.

PS - A Eletrobras manifestou o seu interesse em adquirir os 20,4% à venda. É também curioso, respeitando a devida economia de escala,  ver quem é a Eletrobras. É também uma companhia de capital misto, de maioria do governo brasileiro, com 39.000 MW instalados, responsável pela produção de 38% da energia produzida no Brasil, com um fator de produção de gases de efeito de estufa de cerca de 50 gr/kWh! Principais centros produtores: 30 centrais hidroelétricas, 15 termoelétricas e 2 nucleares. Sem os condicionalismos que ignorantes da eletricidade (não é ofensa nenhuma, ninguém é obrigado a estudar de tudo) e adeptos do mercado cego impuseram na Europa às empresas que assim não podem simultaneamente produzir, transmitir e distribuir a energia.
Conceitos diferentes de um e outro lado do Atlântico.
Conceitos diferentes do que é servir o interesse público.

Citação do Ouro do Reno

"Quem te deu o direito de submeter à servidão o teu próprio irmão?"
Fala de Loge, o deus braço direito de Wotan, para Mime, irmão de Alberich, o Nibelungo, que explorava o seu trabalho e do povo nibelungo, no Ouro do Reno.
O deus Wotan teve de se endividar para mandar construir o palácio Wahalala.
As engenharias financeiras com o Nibelungo não correram bem, a posse do ouro para pagar a questão da dívida tinha uma maldição e sobreveio o Crepúsculo dos deuses, depois da Valquiria e do Siegfried.

Toda e qualquer semelhança com a realidade, como se costuma dizer, é pura coincidencia, e a citação ocorreu-me a propósito dos prejuizos que a EDP e a PT têm tido com os roubos de cobre.
Pelos vistos, a cotação do ouro e do cobre no mercado negro é compensadora para quem o rouba para fundição.
À primeira vista, não pareceria dificil organizar brigadas policiais para detetar o transporte e os locais de fundição. O roubo de uma ourivesaria é rapidamente detetado através de vulgares sistemas de alarme. O roubo de um transformador ou de barras ou cabos de cobre (de média tensão) é rapidamente detetado pela impossibilidade de religação. Dado que o material é pesado, não seria complicada a deteção.
À segunda vista, dir-se-á que os cortes nas forças de segurança limitam a sua capacidade de resposta.

Tambem poderá pensar-se que os cortes na despesa das empresas através da redução dos quadros de pessoal e o panorama geral de desemprego estimulam a atividade do roubo do ouro e do cobre que vai aumentar o PIB através do aumento do consumo por parte dos ladrões e o aumento das despesas de manutenção da EDP e da PT para repor os cabos roubados (agora de liga de aluminio e aço, para reduzir a apetência, à custa de maiores perdas elétricas).
Por isso terá aplicação a citação do ouro do Reno.
Com que direito se condenam cidadãos à marginalidade, à servidão de andarem a roubar as subestações e os postos de transformação?
Em nome da liberdade do mercado e da contenção do défice público e privado?
Para não se gastar dinheiro na prevenção e na repressão vai continuar a deixar-se agravar o fenómeno?
Deveria talvez, salvo melhor opinião, desviar-se o rendimento de outras áreas e canalizá-lo para a prevenção e a repressão deste fenómeno.

Tambem poderá dizer-se que estamos perante mais um exemplo em que uma empresa tem prejuizos cuja fatura deveria poder apresentar ao ministério da administração interna por não exercer o seu dever de garantia de vigilancia e segurança de pessoas e bens; neste caso, da integridade das instalações de média tensão.
Registo de furtos de cobre na EDP desde 2008:
2008 - 2,853 milhões de euros
2009 - 4,507 milhões de euros
2010 - 9,087 milhões de euros
2011 (até 15JUL) - 7,977 milhões de euros

Pode ser que um dia um senhor ministro ache que isto não pode continuar assim (isto, o roubo de ourivesarias e de subestações), mas parece que o assunto não tem grande interesse mediático, pelo menos enquanto não começar a faltar a luz em casa de senhores importantes.


À maneira da quadrilha de Carlos Drummond de Andrade

Quadrilha aqui não tem que ver com bandidos.
Quadrilha,  dança de festas de S.João e de solstício de Verão, pode ser como Carlos Drummond de Andrade a escreveu:

João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes, 
que não tinha entrado na história


Segue-se uma história quase na mesma forma, a propósito da economia portuguesa.


A é costureira e não consegue arranjar trabalho por causa da concorrência chinesa; tem um terreno em Alvaiazere com uma casa a cair; o sítio é bonito, há vestígios romanos perto e podia construir-se ali um edifício com 4 ou 5 apartamentos e uma piscina e alugar-se a alemães e escandinavos.
B é contabilista e não consegue arranjar trabalho depois do estágio que fez num gabinete de preenchimento de IRS e IRC; o pai é mestre de obras mas não precisa de contabilista porque constrói os prédios sem passar faturas e não tem ficha nas finanças.
C fala inglês fluentemente, domina a Internet e não consegue arranjar outro emprego que não seja temporariamente e sem recibos, numa firma de limpezas.
A, B e C vivem no país do sol e da crise e encontraram a solução.
O pai de B construirá o edifício turístico no terreno de A, B controlará as contas e os empréstimos, e C explorará o empreendimento, angariando os clientes estrangeiros pela Internet.
D não tem nada que ver com esta história, mas casou com B.
Devido a um pequeno problema burocrático que não conseguiram ultrapassar, relacionado com a titularidade do terreno, A, B e C desistiram do projeto. 
A, B C continuam assim a viver no país do sol e da crise, tal como D.

sábado, 27 de agosto de 2011

Microensaio de teoria económica



É intrigante como as pessoas altamente qualificadas nos lugares decisórios da política e da economia, apesar das suas altas qualidades, não conseguiram evitar a situação de crise que se vive.
Podemos interrogar-nos quão pior seria se essas pessoas não fossem tão qualificadas.
Mas a verdade é que também se pode pôr a hipótese dos seus conhecimentos serem limitados em várias áreas de tal modo que o desconhecimento de princípios ou leis fundamentais vai condicionar os resultados das suas ações.
Por exemplo, um dos principais argumentos da teoria económica neo-liberal (os neo-liberais não gostam nada que lhes chamem neo-liberais, mas se associarmos a designação liberal a Adam Smith, que condicionava o interesse egoísta ao interesse coletivo, vemos que a teoria atual, que privilegia apenas o interesse egoísta, deverá levar mesmo o prefixo neo) é o de que as variáveis económicas são em tal número e as relações entre elas são tão complexas, que é impossível controlá-las ou orientá-las (a elas e ao mercado) num sentido que se pense ser útil à comunidade.
A conclusão é, então, expressa pela fórmula “deixar funcionar o mercado”.
Isto é erigido de uma forma religiosa e fundamentalista em dogma indiscutível, demitindo-se estes economistas da tarefa de transformar o que for possivel.
Como exemplos, temos:
- a resposta de Greenspan às sugestões de regulação do mercado financeiro quando da aproximação da crise de Setembro de 2008: “Não podemos intervir, porque isso seria regular o mercado e não devemos regular o mercado” (fonte: Inside Job).
Só o fundamentalismo poderá justificar que pessoas inteligentes digam uma redundância e uma petição de principio destas (o fundamentalismo funcionará assim como uma indulgência que justifica a generosidade do sistema financeiro para com o seu servidor na reserva federal norte-americana)   
- a justificação de Ângela Merkel contra as eurobonds: “Não devemos emitir eurobonds porque não é solução”).
- a decisão do atual primeiro ministro português de cortar na despesa pública interrompendo obras em curso, decisão essa anunciada ainda como candidato, sem ter conhecimento das contas de cada obra e dos prejuízos da sua interrupção,  insistindo continuamente na mesma petição de principio, de que as obras “serão reavaliadas” (costuma-se parodiar esta atitude dizendo: “faça-me aí um relatório e uma reavaliação para provar aquilo que eu quero”)
A teoria económica não neo-liberal tem o cuidado de esclarecer que o mercado não funciona convenientemente, obrigando a mexer na linha divisória da área privada e da área pública, sempre que:
- há escassez (por exemplo, de fontes de energia primária ou de bens essenciais)
- há assimetria de informação (por exemplo, ligações preferenciais de um concorrente à aquisição de um banco relativamente a outros concorrentes)
- há externalidades que afetam a coletividade (por exemplo, a emissão de gases com efeito de estufa)
A estes três argumentos, são os economistas neo-liberais surdos e insensíveis aos sacrifícios que as suas politicas possam causar aos seres humanos.
Por exemplo, as medidas ditas de racionalização que impõem, conduzem ao aumento do desemprego e ao insucesso escolar, contrariando assim frontalmente a declaração universal dos direitos humanos.
Mas voltando ao conjunto numeroso de variáveis económicas de elevada complexidade no seu inter-relacionamento, há uma analogia interessante com a física.
Perante sistemas físicos de complexidade semelhante, os físicos e os engenheiros adotam técnicas de resolução de problemas como a decomposição em estados simples, fixando um conjunto de variáveis e simulando a variação das outras, ou o recurso a métodos probabilísticos, estatísticos e co-relacionais.
A hipótese justificativa para o comportamento dos economistas que ignoram estas técnicas é a de que elas são posteriores a Adam Smith, pelo que terão parado no tempo.
No tempo de Adam Smith não se construíam arranha-ceus porque não se dispunha da tecnologia de materiais resistentes. Na verdade, é impossível reproduzir com rigor absoluto o comportamento de todas as variáveis aerodinâmicas sobre um arranha-ceus e de todas as variáveis da resistência dos seus materiais. E contudo, como dizia Galileu em frente de outros fundamentalistas, os arranha-ceus constroem-se, compensando a lei da gravidade e as leis aerodinâmicas dos efeitos dos ventos sobre os obstáculos.
É uma pena estarmos dependentes de economistas tão altamente qualificados na sua teoria económica, mas tão temerosos nas politicas do emprego e do aproveitamento do material humano.


Trichet e Bernanke na reunião de Jackson Hole (que sitio para fazer uma reunião destas!)



Os suicidios não contam

Este assunto incomoda as pessoas.
Compreendo a simpática porta voz da REFER.
Os suicidios não contam porque não são uma avaria do material, não são um acidente, não são uma falha de exploração (embora este tema valha a pena ser discutido).
Acresce que a publicitação do suicidio tem um efeito de contágio e imitação.
Por isso não se contam os suicidios.
Luis XVI escreveu no seu diário, ao fim do dia 14 de julho, tomada da Bastilha: "Não se passou nada".
Já nesse tempo havia confusão entre o que é essencial e o que é acessório.
Um filme japonês dos anos 60 conta a história de um mosteiro de monges guerreiros que obrigou um jovem candidato a fazer hara-kiri com uma espada de bambu; o avô do jovem, sozinho, atacou o mosteiro e vingou o neto com a morte de vários guerreiros; porém, o chefe do mosteiro escreveu no diário: "Hoje não aconteceu nada".
A REFER fez o mesmo. No dia 25 de Agosto de 2011 não aconteceu nada na estação de Santa Iria da Azoia, para alem de uma interrupção da circulação de comboios.
Embora um pai se tivesse suicidado, com um filho de 6 anos ao colo.

Tentemos utilizar a lógica.
Temos um negócio, acontece algo (nunca deve negar-se uma coisa que aconteceu) que interrompeu o negócio.
O dono do negócio tem o direito de pedir uma indemnização à causa da interrupção.
Não me refiro ao suicidio.
Refiro-me à causa do suicidio.
Uma empresa de transportes transporta pessoas.
A própria empresa ou o estado tem a obrigação de fornecer as infra-estruturas para a exploração do transporte das pessoas (segundo a teoria, as infra-estruturas pesadas de construção civil são obrigação da comunidade organizada, isto é, o Estado; as infra-estruturas do tipo equipamento ou  material circulante são da competencia da empresa).
Mas a quem compete o fornecimento dos passageiros em condições de serem transportados?
Pode perguntar-se, porque para transportar mercadorias, o cliente tem de as entregar em condições de serem transportadas; por exemplo, alfaces, não podem ser entregues cozidas pelo calor.
Condição para transportar passageiros é que estejam em condições físicas asseguradas por um serviço público de saúde, que se tenham desenvolvido emocionalmente, psicologicamente e educacionalmente de forma a estarem integrados na vida social, sem práticas de vandalismo e roubo.
Parece que brinco?
Não brinco, e esta é uma das principais razões da baixa produtividade do trabalho em Portugal.
Os passageiros cansam-se no percurso casa-escola-emprego porque têm de levar as crianças à escola e já se levantam cansados, porque trabalham em condições precárias aqui e ali longe de casa e porque se privilegiou o transporte por automóvel em vias rápidas.
As empresas têm de gastar verbas avultadas em circuitos de video-vigilancia porque o sistema escolar não consegue suprir a incapacidade financeira e educacional dos pais dos alunos que derivam assim para o insucesso escolar  e a marginalidade.
As empresas têm de pagar serviços de segurança privados ou da policia para defender os seus passageiros de assaltantes, quando essa responsabilidade compete ao ministério da administração interna.
As empresas têm de lidar com uma taxa de suicidios cujo crescimento a situação económica e as politicas liberais estimulam, como mostram as estatísticas do aumento das depressões em Portugal.
As empresas têm então o direito de exigir uma compensação indemnizatória à comunidade organizada, já que ela quis organizar-se assim.
Os custos do vandalismo, dos roubos e dos suicídios deveriam ser imputados ao Estado e não
às empresas.

Isto é, estes custos são dívida pública e não dívida da empresa pública, o que é uma pena por sobrecarregar a pobre dívida pública, mas terá a vantagem de atenuar o argumento de que as empresas públicas, por terem dívidas elevadas, deveriam ser privatizadas (sem a dívida, claro, que as empresas interessadas não são instituições de beneficencia).
E se o vandalismo e o roubo são consequencia do desemprego e do insucesso escolar, então poderiamos perguntar se os teóricos do nosso tempo, quando conseguem cortar nos quadros de pessoal, pensam no que vão fazer as pessoas que vão para o desemprego.
Ou se pensam na correlação desemprego-criminalidade e nos custos que o aumento da criminalidade induzem nas empresas públicas de transporte.
É que qualquer estudo de viabilidade, por exemplo, de um corte de pessoal, deverá contabilizar os benefícios indiretos mas também os prejuizos indiretos.
Nos primeiros tempos do metropolitano de Lisboa, no principio dos anos 60, o chefe de estação em Sete Rios conseguiu evitar o suicidio de uma senhora, mas ralhou com ela dizendo-lhe para se ir suicidar longe. No dia seguinte a senhora atirou-se da ponte sobre o Tejo e o nosso colega chefe andou uns dias largos afetado pelo caso.
Por mim, interessei-me pela problemática e recolhi alguma informação junto dos nossos colegas de metros estrangeiros.
Assim, por exemplo, no metro de New York chega a haver um suicidio por dia; em Paris um por mês, ou por semana, já não me recordo. Em Lisboa tivemos um periodo de dois meses com vários casos.
Sugeri uma proposta a apresentar à UITP especificando portas deslizantes de cais em todas as estações de metro a construir ou a remodelar. Em Paris não se colocava o problema, devido ao programa de automatização das linhas, que impõe as referidas portas deslizantes, mas não consegui convencer os colegas das outras redes que não tinham os programas de automatização.
É tudo uma questão de critérios.
Compreendo, num contexto financeiro agora agravado, que se silenciem os suicidios e se classifique qualquer queda à linha como suicidio (na verdade, pode ser excesso de passageiros no cais por insuficiencia de oferta de transporte).
Mas as decisões, as ações ou as omissões justificam-se com cálculos.
E isso exige contar os suicidios, para se contabilizarem os benefícios (não é dificil usar as mesmas tabelas das companhias de seguros para contabilizar a perda de uma vida) e os prejuízos do investimento de fechar os cais com as portas deslizantes (a alternativa seria as empresas de transporte patrocinarem campanhas publicitárias de prevenção de suicidios).
Pelo menos nas estações novas ou remodeladas.
Por isso discordo da simpática porta-voz da REFER, por mais isolado que possa estar nesta minha opinião.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Taxez-nous - II

Antecedentes:


http://fcsseratostenes.blogspot.com/2011/08/taxez-nous.html
Deliciosa a discussão sobre o imposto sobre os ricos.
Ver como o senhor presidente da República vem, cuidadoso, sugerir que seja só sobre os rendimentos do IRS.
Vem o senhor doutor Medina Carreira e diz que isso, "é uma estupidez" (se é verdade o que o DN diz).
E, na verdade, se a taxa extraordinária incidir sobre o IRS, o rendimento do capital fica de fora .
Então Medina Carreira explicou (até porque teve experiencia em grupo de trabalho anterior) que se for obrigatório o depósito dos títulos em entidades bancárias, o imposto (pode ser imposto normal) será cobrado às entidades bancárias e não aos titulares.
Este blogue aplaude e acrescenta que parece justo estender o conceito a qualquer depósito em dinheiro ou em espécie, ações, dividendos, etc.
Claro   que tinha de acabar o sigilo bancário, o que seria uma machadada na desfocagem da linha divisória entre a legalidade e a ilegalidade (i.é, focaria a linha).
Vêm depois os senhores comentadores esclarecidos da televisão explicar que tudo isso são tiros nos pés, porque o capital assim foge (será verdade a notícia do DN, que nos primeiros 6 meses de 2011, portanto antes de se falar nos impostos sobre os ricos, sairam do país 1.600 milhões de euros em depósitos?).
E também que, assim, as oportunidades de criação de emprego diminuem, e o dinheiro debaixo do colchão aumenta.

Se estivessemos em Castela dir-se-ia, pues que se vayan.
Mas cuidado que nos outros países tambem se está combatendo a fuga aos impostos (nuns mais do que noutros, como se vê pelo caso da Holanda, e mesmo assim, o tratamento amigo é só para estrangeiros, não para holandeses).

Vale que nem todos os senhores grandes empresários vêm com a desculpa tonta de que são simples assalariados.
Só prova que são inteligentes, e que não podem matar a galinha dos ovos de ouro que são os fatores de produção.

Se o capital sair do país (estarão esquecidos que no ultimo trimestre de 1973 houve uma fuga maciça de capitais de Portugal para o estrangeiro?) ficaremos mais pobres, mas isso será relativamente à situação antes da crise.
Agora, já estamos pobres e deveriamos adaptar tudo a essa condição (importar menos e substituir importações, como vem nos livros, embora o governo prefira cortar a direito), caçar como o gato, já que nos levaram o cão.
Aliás, quando Portugal aderiu ao euro, a diferença de salários para a mesma profissão entre Portugal e Espanha era de 1 para 3. Estava bem de se ver que essa diferença não poderia deixar de se refletir em qualquer sítio.
É uma pena se ficarmos sem tão preclaros empreendedores, mas nas empresas há sempre gente que é capaz de puxar por elas.
Ah, é verdade, os iates de luxo vão passar a ser registados nas Baleares? Então a Policia Maritima não pode pedir a carta de marinheiro ao proprietário e conferir a residencia? É que se pode taxar a permanencia para alem de 6 meses de um veiculo registado no estrangeiro... Tem é de se pedir à Policia Maritima para tratar do assunto.
E no meio disto tudo, destaque para a análise (a mim pareceu-me marxista) do senhor presidente do BIC, que, depois de receber modestamente os parabens pela compra (?) do BPN, redirecionando-os para os seus acionistas (o clã angolano), explicou que em época de crise, os fortes reagem utilizando a sua força para sobreviverem, enquanto os pobres, embora em maior número mas mais fracos, se tramam; e acrescentou que era da natureza humana.
Enfim, maravilhas da atualidade.
Fascinante, como diria mister Spock da nave Enterprise.

O PIB-II : a natureza do crescimento económico

Explicam-nos os nossos dedicados amigos economistas que o crescimento económico se traduz pelo aumento do PIB.
Espero que me desmintam, porque se é assim, consideremos os seguintes casos:
1 - o cidadão é assaltado e fica sem a carteira e sem os documentos; dirige-se à loja do cidadão (caso as medidas economizadoras do governo ainda não a tenham fechado para poupar nas rendas) e ao balcão da carteira perdida, e consegue, a troco de cerca de 50 euros, a renovação de todos os documentos; o balcão da carteira perdida cumpre rigorosamente a legislação sobre o IVA e temos assim que as faturas respetivas foram engrossar o PIB; conclusão: assaltar cidadãos roubando-lhes a carteira com documentos aumenta o PIB e estimula assim o crescimento económico; os cidadãos marginais que sustentam as suas famílias cm este modo de vida no metropolitano e na Carris, vulgo carteiristas, são assim agentes económicos úteis para o país;
2 - o cidadão vai a atravessar uma passadeira para peões, quando um automóvel bate na traseira do que estava parado para dar passagem ao cidadão peão; com o impacto, o carro estacionado é projetado sobre o cidadão que fica com uma perna partida; é acionado o 112, e o combustível gasto, os custos de tratamento, da fisioterapia, do transporte para as consultas posteriores, e de todos os adicionais de que o cidadão não estava à espera, vão também engrossar o PIB; conclusão: os condutores distraidos que atropelam peões nas passadeiras estão a contribuir para o crescimento económico do país.
Sinceramente, antes que se declare o surrealismo absoluto da teoria económica que nos governa, espero que me desmintam.
Ou que simplesmente definam as atividades que devem ser estimuladas para contribuir para o PIB.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

O TGV no DN de 24 de Agosto de 2011

Um leitor do DN apoia a construção do TGV.
Uma leitora é contra.
Relativamente aos argumentos desta leitora e em sua intenção, julgo que:
1- não foi ainda provado com cálculos que o projeto é lesivo do interesse nacional; os cálculos de viabilidade de um empreendimento devem contabilizar os benefícios e o principal é a poupança energética e a redução das emissões de CO2  relativamente ao avião e ao automóvel;
2 - a defesa do TGV não é só verborreia socrática; assenta em cálculos de especialistas de transportes;
3 - por razões de manutenção, não devem as vias de TGV servir de transporte de mercadorias (mais peso por eixo); por isso foram, e bem, previstas vias para mercadorias mesmo ao lado;
4 - a ligação alem Pirineus é da responsabilidade espanhola e francesa e está em construção para a ligação Barcelona-Perpignan;
5 - como não dá trabalho qualificado? sabe as componentes de software num sistema TGV desde o controle do movimento ao controle da manutenção? tudo isso requer técnicos portugueses qualificados
6 - importações maciças de equipamento, só se continuar a desindustrialização em Portugal e os cortes nos investimentos produtivos...
7 - tambem é do interesse de Lisboa não perder os fundos europeus e não pagar indemnizações aos empreiteiros e aos espanhois por quebra de compromissos anteriormente assumidos


quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Taxez-nous - I

Agora são os milionários franceses que vêm propor uma taxa extraordinária para ajudar à recuperação (pelos vistos, o problema também se põe em França).
Será que o senhor ministro das Finanças vai ler a mensagem?
Ele, que cuidadosamente quis evitar melindrar os milionários portugueses do livro "Os donos de Portugal" para não afetar a atratividade dos depósitos?
Ou não vai mudar e vai continuar mais papista que o papa Warren Buffet e os papas franceses?
Quando se serve muito bem aos senhores, é a figura que se faz, mais papista que o papa.
Já dizia o almirante Rosa Coutinho, que é muito fácil no governo serem uns paus mandados do poder económico.
A propósito, embora não responsabilize o atual governo pelo facto, venho dar parte de mais um exemplo de disfunção da organização fiscal do nosso país (provavelmente consequencia da complexidade burocrática dos cálculos de taxação): este ano vou pagar menos de metade de IRS (parece que alguem reparou num erro sistemático cometido nos últimos anos no cálculo dos benefícios fiscais correspondentes à percentagem de invalidez de minha mulher) e, ao fim de 8 meses de reforma, o cálculo da pensão foi revisto ligeiramente para cima.
Não quero armar em Warren Buffet nem em milionário francês, mas que isto é disfuncional, é, e muito longe do carater universal e justo que o senhor ministro das Finanças acha que as suas medidas têm.

PS - Curiosa, a reação (até no sentido literal)  de alguns dos senhores milionários portugueses. Uns garantem que são assalariados, possivelmente com receio de penhoras. Outros lamentam-se da baixa do valor das suas ações em bolsa (como se não aproveitassem para aumentar a sua participação acionista). Outros dizem que há outras prioridades, como receberem facilidades para criarem emprego. Outro diz que 10% dos seus 11.000 empregados são apoiados financeiramente pela própria empresa sem que lhes aumente o ordenado...antes a frontalidade de um deles, há uns meses, a propósito da fundação Bill Gates, quando disse que os empresários de sucesso não têm que ser solidários (será uma leitura apressada de Adam Smith pelo senhor empresário, mas é a expressão do poder do lobo da fábula de La Fontaine sem enganar ninguem).