Vitor Bento, economista jovem
Folheio calmamente o Público de 24 de abril e depara-se-me na secção Opinião a Riqueza das Nações de Adam Smith e a célebre citação do interesse do talhante, do cervejeiro e do padeiro. Quem escreve diz que muitas vezes esta citação é usada malevolamente para desconsiderar o capitalismo. E prossegue exaltando o sucesso da economia de mercado. Vou lendo a argumentação e imagino que estou a ouvir o meu neto, entusiasmado com a defesa do liberalismo na campanha eleitoral e no complexo contexto atual. Os jovens são eternamente fortes, são confiantes e valentes e têm a certeza que vão vencer a competição e a concorrência nos mercados, vão ultrapassar e ficar à frente. Aliás, a mão invísível de Adam Smith dará uma ajuda. Terão, Smith, o articulista e o meu neto, lido MacBeth de Shakespeare? Em que uma outra mão invisível deixava uma mancha que não saía? E poderá confiar-se nos princípios filosóficos do interesse egoísta de Smith quando a revolução industrial ainda não tinha explodido ? Talvez, a Natureza tem destas coisas, por vezes a realidade é dual, a dedução filosófica correlaciona-se com a realidade física, esta por sua vez também dual, corpuscular e ondulatória ao mesmo tempo. Bem, a Riqueza das Nações apareceu pouco depois do terramoto de 1755 e por cá até o 3º conde da Ericeira tentou a industrialização que o ouro do Brasil comprometeu em monumentos e luxos, e até já havia a indústria das vidreiras, com a força ainda não do vapor mas dos cursos de água e do vento, já se faziam teares industriais mas ainda incipientemente programados. E em abono de Adam Smith, evoco o seu outro tratado, a Teoria dos sentimentos morais, ou a defesa da simpatia dos empresários pelo bem-estar e satisfação dos seus clientes, i.é. a responsabilidade social das empresas. Sempre que falo disto lembro-me da minha terra, onde uma fábrica de cimento foi construída rodeada de casas, cantina, farmácia, escola, posto de enfermagem, estádio de futebol, cinema, para usufruto dos seus funcionários, o capitalismo esclarecido de um empresário lisboeta de ascendência alemã, no princípio do século XX, para compensar a ausência da iniciativa do Estado. Continuo a leitura do artigo e esbarro na defesa do setor bancário. Será vítima de má vontade, mas não posso concordar com a comissão de 5 euros para manutenção da conta, nem com o fecho agressivo de agencias, nem com o atropelo das regras da concorrência com combinação de spreads. E só então reparo no nome do articulista, Vitor Bento. Argumentação jovem e forte, em defesa do seu setor.