sábado, 8 de janeiro de 2011

Economicomio LXVII - Os 3 livros

Os 3 livros

Este não é um texto sobre as 3 religiões do livro, ou da revelação.
Escolhi o título apenas porque passei pela FNAC, onde me chamou a atenção a "Sabedoria das multidões” de James Surowiecky, ed. Lua de Papel, pelo preço de 8,95 euros (é livro que me parece indispensável para os trabalhos de reorganização das empresas, mas parece que não estou acompanhado na opinião).
E onde folheei 3 livros de economistas distintos da nossa praça, com análises da situação económica e de possíveis soluções:

Livro 1 – o senhor economista autor, professor de universidade, já foi membro do governo. A sua análise é que a economia portuguesa viveu uma tragédia. O autor afirma que a grande vantagem da redução da despesa pública e do peso do estado é permitir que o espaço libertado seja ocupado por investidores privados que farão crescer a economia e consequentemente o volume de impostos. A mim faz-me lembrar a história da carochinha e da branca de neve, e que  a fé move montanhas. Não me peçam para acreditar, nem para empurrar a montanha. O autor é administrador e acionista de várias empresas e grupos de sucesso e é natural que esse mesmo sucesso não o deixe ver que é incompatível, ele, o sucesso dos seus grupos, com o sucesso de outros grupos; questões de dimensão de mercado, embora isso seja a minha ignorância a pôr hipóteses. Se fosse antes do florescimento do neo-liberalismo reaganiano e tatcheriano, quando Melo Antunes propôs a convivência dos setores público e privado, ainda me pareceria natural ter tanta fé no funcionamento do mercado, mas agora, que terão estes sábios economistas contra serviços públicos que dêem lucro para equilibrar as contas do PIB? Deve ser fé cega na concorrência e desconfiança das baixas produtividade e competitividade dos funcionários das empresas públicas (podiam perguntar lá na Suécia, na Noruega, na Finlândia, como é que mantêm as ditas elevadas, sem diminuir o peso do estado…)

Livro 2 – o senhor economista autor, professor de universidade, também já teve responsabilidades governamentais e tem alguma visibilidade no mercado financeiro atual. A sua análise é de que a economia portuguesa deu um nó cego, que foi deslocar o peso da economia para o setor dos bens não transacionáveis (serviço bancário, “marketings” são bens não transacionáveis, certo?), e agora é complicado desfazê-lo. Mas propõe, para desfazer o nó cego, uma coisa que um ignorante como eu compreende, que é fazer o caminho inverso, voltar a colocar a tónica na produção de bens transacionáveis. Isto é, produzir bens úteis, que possam ser vendidos, e de preferência, que não sejam supérfluos e não muito luxuosos (os estrangeiros também podem ter dificuldade em arranjar dinheiro para comprar os ditos bens, não é?) e que em muitos casos possam ser comidos, para não termos de importar 83% de alimentos.

Livro 3 – este senhor economista não é conhecido entre os meios de comunicação social, e infelizmente não deverá vir a sê-lo, porque o senhor já tem quase 80 anos e dedicou toda a sua vida ativa ao movimento cooperativo. Fê-lo com empenho e com intervenção na vida económica e política do país, e por isso teve de se exilar antes do 25 de Abril de 1974. Faz parte neste momento da direção de uma cooperativa em Setúbal, a SEIS, com intervenção na área social, nomeadamente na procura de atividades produtivas para pessoas desempregadas. O livro pretende ser uma homenagem a todos quantos tentaram desenvolver o cooperativismo em Portugal e propõe precisamente o cooperativismo como um dos desejados atores da recuperação económica e, importantíssimo,  da recuperação social. Na verdade, se substituissemos o conceito de mercado pelo conceito de convivência das várias formas de organização das unidades de produção, entre as quais se conta a forma cooperativa, talvez se conseguisse um pouco mais de entusiasmo para produzir os tais bens transacionáveis e recolher as mais valias que interessam. Mas receio que os decisores governamentais e partidários estejam em desacordo comigo.
Acho que é uma pena, porque me parece o mais válido, o livro 3.

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