segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Ruinas 13 - Aqui podia viver gente





Aqui podia viver gente.
O cartaz é elucidativo embora a mensagem pareça ingénua.
A intenção não é ingénua, é reivindicativa do cumprimento da Declaração Unversal dos Direitos do Homem.
Mas intenções...
Eu concordo com a frase, mas penso que ficaria mais correta assim:
Aqui podia viver gente e estar equipamento social a funcionar; reabilitar a cidade e aumentar as rendas com as mais valias obtidas com mais emprego.

Porque está este prédio em ruinas?
Porque os  investimentos não são rentáveis, porque vivemos à procura das melhores taxas de juro para pagar outros empréstimos em vez de procurar as melhores taxas de juro para fazer investimentos rentáveis, que não são rentáveis porque as rendas são baixas e ninguem investe se as rendas forem baixas, e as rendas são baixas porque o emprego é pouco e o desemprego é muito, e com muito desemprego os investimentos não são rentáveis, o que fecha o círculo vicioso.
Donde, salvo melhor opinião, a única solução é aumentar o emprego para haver dinheiro para pagar rendas mais elevadas e assim haver investimento, à custa de alguma inflação, claro, que milagres só os santos subitos fazem.
Dá-se o caso que para reabilitação urbana até há fundos europeus para investir.
Mas parece não haver vontade de pôr quem saiba resolver o problema a resolvê-lo.
O prédio foi comprado nos anos 90 quando a rede do metropolitano se expandiu para a Baixa e Cais do Sodré.
A ideia era fazer um átrio de acesso à estação Baixa-Chiado a partir da Rua Ivens e instalar 2 elevadores ente o átrio e o mezanino da estação, onde se  pode ver o arco de receção do tunel que ligaria à caixa dos elevadores.
Infelizmente, o arquiteto da estação, contratado por ajuste direto pelo metropolitano por ser um arquiteto premiado internacionalmente, embora não o tenha sido antes por fazer estações de metro, fez um projeto dispendioso para a caixa dos elevadores e escadas de emergencia. O orçamento era de cerca de 5 milhões de euros. A que deveriam juntar-se mais 25% para tudo o que costuma aparecer a mais.


                                          O arco de espera da ligação à superfície por elevadores,
                                                                fechado no mezanino da estação, do lado sul 


Embora ainda se vivesse um período de euforia de disponibilidade de verbas, achou-se caro (na realidade, o projeto poderia ter sido mais económico se fosse possível adaptar os critérios artísticos aos critérios económicos).
E assim ficou até hoje o prédio em ruinas, apodrecendo e contaminando a rua com este ar decrépito, apesar dos esforços que se têm feito, até com novos projetos mais simples de acesso com elevadores.

E assim tambem o metropolitano vai conservando bem vivo o incumprimento da diretiva europeia que obriga os serviços públicos a garantir a acessibilidade autónoma de pessoas com mobilidade reduzida (embora esteja prevista para médio prazo uma solução de recurso com plataformas elevatórias sobrepostas às escadas fixas, no acesso da Rua do Crucifixo).

Como propor, no contexto de congelamento e cortes cegos de investimentos que vivemos, o investimento rentável para aqui?
É que o prédio é estreito e o terreno das traseiras não é grande.
Não há hipótese de construir lugares de estacionamento para os eventuais moradores que poderiam rentabilizar o investimento.
A menos que ...
a menos que se aplique uma lei da economia (para além das verbas dos tais fundos europeus, claro) que diz que a lei do rendimento de um produto não é linear em função dos fatores de produção, ou economia de escala, como se costuma dizer (rendimento em forma de curva de sino ou de Gauss em função da dimensão da área de construção).
Isto é, se a unica maneira é completar os fundos com a venda de andares (moradores, escritorios de advogados, gabinetes de engenharia, consultórios médicos; não precisavam de ser grandes porque com a Internet e as video-conferencias estariam facilmente em contacto com o grosso das tropas, que agora deixou de ser válida a crença nas sinergias que advêm da concentração, e há sempre o recurso aos incentivos fiscais para quem tenha a sede na baixa e à penalização fiscal para quem fuja para a Expo ou para os suburbios) e só se conseguem vender os andares se tiverem lugares de estacionamento,
então,
pode o metropolitano comprar um dos prédios do lado, por sinal um dos quais já tem projeto aprovado para profundas remodelações (ou fazer uma parceria, não no sentido das PPP, mas no sentido do metro entrar com o prédio e o empreiteiro do lado entrar com o trabalho do poço dos elevadores) e assim construir um parque de estacionamento, ocupando até o espaço sob a rua.

Assim como está, é uma pena, até porque na Rua Ivens e na Rua Capelo já há vários exemplos de reconstrução de prédios, alguns deles com parques de estacionamento que me tranquilizaria mais se não estivessem tão perto da abóbada do metro.
Ah! mas os preços a que os andares vão ser vendidos...
Nem rendas baixas como o letreiro, nem preços de venda de luxo!! como se ameaça.

Espero que ninguém, zeloso, se apresse a retirar o letreiro apenas porque contem o que me parece ser o erro do sentido contrário da correlação preço das rendas - rentabilidade de investimento.
Preferiria o zelo de retirada do letreiro por motivo de início real de obras.

Sem comentários:

Enviar um comentário