quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Salman Taseer

Salman Taseer morreu.
Governador do Punjab, defensor dos ideais democráticos, assassinado por ser acusado de apoiar a blasfémia.
Não o lamentamos só por ele, mas por nós próprios e por toda a Humanidade.
Porque uma parte de nós continua a achar que é dever matar quem não pensa como nós.
Porque uma parte de nós vai buscar os textos fundamentais e dá-lhes a interpretação de que quem não pensa como nós está a blasfemar e a ofender o profeta.
Pergunta o diretor do centro de educação civica paquistanês, citado na notícia abaixo, que antídoto poderá vencer o virus do fundamentalismo.

Pensemos.
O Paquistão foi formado, com grande desgosto de Gandhi, que sonhava a união de todos os de fala indu, para albergar as comunidades islamicas, enquanto as comunidades de religião sikh e indu se reuniam na União Indiana.
A potencia colonizadora retirante, em 1947, não tinha autoridade moral para impor a união unica e assim se desenvolveu o Paquistão.
Porém, honra ao primeiro presidente, muçulmano convicto, Mohammed Ali Jinnah que afirmou: Neste novo país, o verdadeiro muçulmano há-de exercer os seus direitos políticos independentemente da sua religião.

Se queremos então encontrar um antídoto contra o fundamentalismo, comecemos por aqui: não atraiçoar a memória de Mohammed Ali Jinnah . A política vive-se de uma forma laica.
Agora vamos aos textos sagrados.
Está escrito no Alcorão, no capítulo (sura) 2, versiculo 186: "Combatei no caminho de Deus a quem vos combater, mas não sejais os agressores. Deus não ama os agressores".

Qadri, Qadri, mataste um justo.
Deixaste-te enganar por clérigos que ignoraram estas palavras do Alcorão e que foram buscar as outras palavras com que o profeta, nessa altura desempenhando as suas funções de chefe militar e político, reunificador das tribos árabes, lançou para excitar e dar coesão aos seus soldados quando Meca não queria aceitar Maomé.
A reunificação religiosa da Arábia e a tomada de Meca estão feitas, não é preciso matar mais gente (se é que alguma vez foi preciso).
Ah. Disseram-te que a tua religião é ecuménica e por isso deve triunfar em toda a parte?
Sabes porque é ecuménica? porque reune as três religiões da revelação: a judaica, a cristã e a árabe. Achas que tem algum sentido matarem-se uns aos outros, quando descendem todos de Abraão? E ainda ssim, já reparaste como fica tanta gente de fora? Budistas, indus, xintoistas, animistas, agnósticos e ateus...
E quem não acredita na revelação, quem não considera suficientes as provas históricas e a fidedignidade dos escritos proféticos, e que o profeta foi escolhido e enviado por Deus, e quem só vê Deus na Natureza, nas suas leis, leis da física e da química, e nos seus componentes, átomos, neutrinos e bosões, é blasfemo e infiel?
Esconderam-te o que o profeta disse dos infieis?
Vê bem o que está escrito no capítulo 60, versículo 7: "É possível a Deus estabelecer a concórdia entre vós e os vossos adversários. Deus é poderoso, indulgente e misericordioso. Deus não vos proibiu de ser bons e justos para com quem não vos combateu nem perseguiu por causa da vossa religião".
Então, Qadri, porque mataste Taseer?
Porque te enganaram.
Eram infieis as centenas de muçulmanos que morreram no 11 de Setembro?
Que fantasia é essa de que as uris te esperam no paraíso para te compensar?
Acreditaste? Onde está isso escrito no Alcorão?
Vá lá, agora ajuda a emendar isto.
Faz como dizem os americanos que não concordam com os drones no Afeganistão e com a ocupação da terra que não é deles, porque também há americanos justos: "Live and let live".










Das notícias:
Morte do governador do Punjab volta a provar a força dos radicais paquistaneses
Por Ana Fonseca Pereira


Líderes religiosos sunitas louvaram o assassínio de Salam Taseer, que foi ontem a sepultar em Lahore. Guarda-costas que o matou foi saudado por apoiantes à porta do tribunal


Lei da blasfémia no centro da polémica


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Desafiando as ameaças dos islamistas, milhares de pessoas participaram ontem no funeral de Salman Taseer, governador do Punjab e um dos políticos mais influentes do Paquistão. O seu assassínio, numa altura em que fazia campanha contra a lei da blasfémia, fragiliza a ala liberal e mostra, sobretudo, o imparável crescimento do fundamentalismo no país.


Ao mesmo tempo que, sob fortes medidas de segurança, o caixão de Taseer era levado de helicóptero para um cemitério militar de Lahore, a capital do Punjab, o seu assassino chegava a um tribunal de Islamabad, onde soube que será julgado pelos crimes de homicídio e terrorismo. Na rua, uma pequena multidão de apoiantes gritava "Allahu Akbar" (Deus é grande) e à sua passagem foram lançadas pétalas de rosa. "Estamos prontos para sacrificar a vida pelo prestígio do Profeta", respondeu-lhes Mumtaz Qadri.


O guarda-costas, de 26 anos, entregou-se pouco depois de ter crivado de balas o corpo de Taseer. Ainda sorridente, disse a quem o prendeu que matou o governador por causa da campanha que ele promovia para reformar a lei que pune com a morte os que blasfemam contra o islão.


O crime foi repudiado, dentro e fora do país, mas ontem um dos mais influentes grupos de religiosos sunitas do país elogiou a "coragem" de Qadri. O grupo, que integra 500 ulemas tidos como moderados, avisou ainda os fiéis para não rezarem por Taseer, "porque aqueles que apoiam a blasfémia cometem eles próprios blasfémia". Também o Jamaat-e-Islami, um dos maiores partidos islamistas paquistaneses, considerou o assassínio justificado face às posições assumidas pelo governador e o jornal Jang, maior diário em língua urdu, dizia que ninguém devia chorar a morte do governador.


Radicais disseminados


O assassínio de Taseer é o mais duro golpe para o Partido Popular do Paquistão (PPP) desde a morte, há quase três anos, da ex-primeira-ministra Benazir Bhutto. Coincide com uma nova crise política - o maior aliado do PPP abandonou a coligação, deixando o primeiro-ministro Yusuf Raza Gilani sem maioria no Parlamento - e soma-se à grave situação económica que o país atravessa, com um défice e uma inflação galopante.


Um caldo que é favorável à expansão do radicalismo islâmico, cada vez menos limitado às zonas tribais ou aos sectores mais pobres da população.


"Os extremistas já não precisam de pertencer aos taliban, com barba e turbante. Eles estão em todo o lado, sob todas as aparências", escreveu o jornal Dawn, lembrando que Qadri pertencia há vários anos à unidade de elite da polícia. Vários colegas e dois superiores do guarda-costas foram detidos para interrogatório, entre suspeitas de que a sua unidade poderia ter sido infiltrada por extremistas.


A AFP notou que, até ao final do dia de ontem, dois mil utilizadores do Facebook tinham aderido a um grupo de apoio a Qadri e milhares de outros elogiavam a sua acção nas suas páginas sociais. "O vírus [do islamismo] infectou toda a sociedade e nem as escolas, nem a polícia são capazes de encontrar um antídoto", lamentou-se Zafarullah Khan, director do Centro para a Educação Cívica. Um "vírus" que Islamabad tolerou durante anos e que é agora incapaz de controlar, apesar das pressões do Ocidente, alarmado com os sucessivos ataques ali planeados e que reconhece no país um aliado essencial na luta contra o terrorismo.


Mas, no imediato, a morte de Taseer representa um sério aviso para os políticos liberais e os activistas dos direitos humanos. O governador do Punjab foi dos poucos que não recuaram perante os protestos dos islamistas, mesmo quando nas ruas era queimada a sua esfinge. "Este assassinato é um grave revés para as forças democráticas. Vai instigar o medo na população e mesmo na imprensa e isso é uma evolução muito grave", lamentou-se o activista paquistanês Anees Jillani.

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