domingo, 2 de outubro de 2011

O plano estratégico de transportes em 1 de outubro de 2011

O senhor ministro da Economia anunciou na segunda feira, dia 26 de setembro de 2011, no programa prós e contras, que apresentaria na sexta feira, dia 30 de setembro de 2011, o plano estratégico de transportes, incluindo as linhas de mercadorias Aveiro-Salamanca e Lisboa-Europa via Madrid.
E parece que apresentou, mas não aos cidadãos e cidadãs.
Diz agora o senhor ministro que enviou o plano à Assembleia da Republica e que aguarda convocatória.

Com a idade que tenho e a recordação de quando marcava prazos para entrega de um relatório, ou me eram marcados prazos que eu aceitava, o que me vem à ideia é de que não estão a ser cumpridos os requisitos do desenvolvimento correto de um trabalho. E isso tinha consequencias para os meus colaboradores na altura das avaliações (é uma pena a altura das avaliações dos senhores ministros estar longe).
Mas já estamos habituados.
O plano anterior, apesar da discussão publica, foi desenvolvido com algum secretismo e a sua atualização ainda mais, sendo que nunca foi publicada, apesar de repetidamente anunciada pelos senhores ex-ministro e secretário de estado.
É que um plano estratégico de todos os modos de transporte é uma coisa com elevado grau de complexidade.
Será que está à espera do grupo de trabalho para a reformulação dos transportes públicos de Lisboa e Porto, coordenado pelo dr Pedro Gonçalves, antigo administrador do metropolitano de Lisboa? Confesso que discordei muitas vezes das suas opções, mas do ponto de vista técnico, quando trabalhámos em causa comum no metropolitano (linha vermelha, da Expo), a avaliação foi muito boa.
Há assim alguma esperança, até porque já se ouve falar
-  no desperdicio da sobreposição de carreiras da Carris com linhas de metro (o que dificultará a ideia de privatizações parciais),
- que as dividas dos metropolitanos são dividas contraidas em nome da empresa para construir as infra-estruturas posteriores à expansão para o Colégio Militar e a Cidade Universitária (quando deviam ter sido assumidas pelas contas publicas),
- que as indemnizações compensatórias são uma teoria,
- que a repartição das receitas dos passes é feita segundo um algoritmo da altura em que a rede do metropolitano era mais pequena (o que beneficia os operadores privados),
- que os operadores privados recebem subsidios para garantirem lucros,
- que as receitas de exploração não cobrem as despesas de exploração por desatenção e não consideração do parecer dos técnicos pela maioria das sucessivas administrações (nomeadas por critérios politicos e não de conhecimento do negócio e sem a participação do corpo técnico das empresas) e por critérios populistas dos governos que acharam sucessivamente que os passes sociais deveriam ser vendidos a preço inferior ao custo do transporte, quer a utilizadores de rendimentos elevados, quer a utilizadores de rendimentos menores,
- que todo o sistema "sem contacto" foi talhado de modo a favorecer fornecedores estrangeiros de tecnologia evoluida (por exemplo: o sistema de canais de acesso fechado é muito mais caro do que um sistema aberto, sujeito a fiscalização aleatória, que aliás existe; o facto do algoritmo de repartição de receitas, inutil se a região tivesse um operador unico como Paris, Barcelona, Madrid, Bruxelas, Milão, ser anterior à expansão da rede do metro demonstra a falácia do argumento de se querer saber a origem-destino dos utilizadores, coisa que tambem se consegue com inquéritos-sondagens).

Ou estarei a ser ingénuo?
Estará apenas a discutir-se o tarifário e a repartição de receitas pelos multi-operadores? Ou pior, estará a discutir-se a extensão dos cortes e da redução por despedimento da taxa de custos de pessoal nos custos operacionais? (o que significa reduzir serviços, como é óbvio, porque as empresas de transportes têm sido bem geridas do ponto de vista operacional)

Aguardemos para ver, já que nada de seguro transpira, dentro da boa tradição portuguesa do segredo, o principal inimigo do progresso.

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