terça-feira, 24 de novembro de 2015

Dilbert, o Atlantida, agora Norway Explorer, e a TAP

Dilbert é um heroi de banda desenhada que vive o mundo das empresas e dos seus escritórios.
Um dos seus temas preferidos é o dos consultores.
Ou dos especialistas que são contratados por administrações sem capacidade de avaliação dos méritos dos especialistas, nem tão pouco dos méritos dos profissionais da própria empresa.
Numa das suas bandas, Dilbert explicava como os consultores se incrustam no corpo dos profissionais da empresa, como carraças, e como depois de muito parasitismo, apresentada aos pderes decisórios como simbiose de sucesso, as mais valias são transferidas da empresa para os consultores.
Lembrei-me de Dilbert não a propósito do parasitismo de consultores, mas antes dos compradores dos bens públicos privatizados.
Ou talvez o meu subconsciente tenha achado que os membros do XIX governo especializados em privatizações, nomeadamente o senhor doutor Sérgio Monteiro, eram émulos dos consultores de Dilbert (os consultores são credíveis; não o seriam se perdessem dinheiro a trabalhar nas suas próprias empresas).
Depois lembrei-me do Atlantida, agora Norway Explorer, vendido pelo Estado por 8 milhões de euros e daí a uns meses revendido para a Noruega por 17 milhões (descontemos 3 milhões para manutenção e a viagem até ao estaleiro na Suécia).
Certamente que alguns consultores à moda de Dilbert terão achado bem a avaliação do Atlantida por 8 milhões de euros.
Certamente que alguns consultores, eventualmente ignorantes de coisas marítimas mas doutos juristas, terão até achado bem o processo de sucessiva desvalorização do navio e do estaleiro que o construiu.
Isto para dizer que a avaliação de um bem é muito subjetivo e facilmente pode ser utilizada para enganar os cidadãos  e cidadãs.
Veja-se o caso dos capitais negativos da TAP.
Que definem com a sua dívida o seu valor.
E que juntamente com o estranho caso da insuficiencia das suas bilheteiras leva à justificação pelo XIX governo para a privatização (note-se que a última greve convocada por sindicatos não afetos à CGTP foi oficialmente apresentada como uma das principais causas do defice de tesouraria, e que a recusa do XIX governo em decretar a requisição civil tornou-o cúmplice da degradação da tesouraria; mas se é apresentada como justificação, parecerá que foi do interesse do governo para justificar a privatização, coisa que faz lembrar o comportamento do governo no caso dos estaleiros de Viana do Castelo).
É que soube-se agora que os novos proprietários de 61% da empresa estão a tentar vender à Vinci 22 hectares de terreno no aeroporto propriedade da TAP, incluindo os edificios da sede da TAP . Avaliado em centena e meia de milhões de euros (780 euros/m2, terreno e edifício), poderá sempre dizer-se que poderia ter sido avaliado pelo dobro, e assim os capitais negativos reduzir-se-iam.
Eu diria que se devia para este negócio de venda de um bem público (vender a privados um terreno expropriado para equipamento social implica indemnização aos descendentes do expropriado).
O mais grave ainda é isto revelar que o negócio foi feito às escondidas, ocultando factos.
Depois da revelação de que os novos acionistas conseguiram 750 milhões de euros apenas porque o Estado português ficou como avalista do empréstimo que obtiveram (com a contrapartida de 150 milhões de euros caso os compradores não paguem o respetivo serviço de dívida), este é mais um exemplo da precariedade deste negócio.
Tudo se encaminha, depois de se saber que Neeleman vendeu uma parte da Azul, e que tem tido prejuízos, para virmos a ter uma TAP boa, que ajudará a reequilibrar a Azul, e uma TAP má, que será precipitada nos infernos.
Ou estarei enganado.
A companhia aérea pública polaca foi alvo de um processo de reestruturação com autorização pela Comissão europeia de injeção de fundos públicos. É verdade que houve redução do quadro de pessoal, mas a companhia manteve-se pública, contrariando assim a propaganda oficial do XIX governo. No caso da TAP a alienação da manutenção brasileira seria um imperativo.
Salvo melhor opinião, se uma pessoa tem um bem que acha que vale mais do que a avaliação do mercado, ou se ninguém aparece a oferecer o preço justo pelo bem, mesmo que conservá-lo seja oneroso, o melhor é não vender, reduzindo evidentemente os custos de posse.
Salvo melhor opinião, a trapalhada da venda da TAP já justificava a sua reversão, se não na totalidade pelo menos de modo a garantir os 51% públicos.
Choca ver a companhia ir sendo destruida sem se trabalhar para a salvar.
PS em 25 de novembro - confirma-se que Neeleman vendeu por 450 milhões de euros a uma companhia chinesa, a HNA, 23,7% da Azul. Já em junho tinha vendido 5% à United Airlines por 100 milhões. Talvez seja o destino da TAP (e nesse caso, analogamente ao Atlantida, qual será o lucro de Neeleman/Barraqueiro?), caso esta tragicomédia não seja interrompida pelo Tribunal de Contas, ou mesmo revertida por outro tribunal, uma vez que configura, salvo melhor opinião, comportamento inconsistente dos compradores, um dos quais já teve o descaramento de afirmar que não estava na TAP "para ganhar dinheiro". 





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