segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Da rua do alecrim ao cais da ribeira e ao terreiro do paço



Rua do Alecrim, com um cacilheiro e o pórtico da Lisnave na bruma



Alguns prédios antigos de Lisboa são reabilitados. Aumentam a procura e a oferta de alojamento turístico ou para estudantes estrangeiros. Bom para a balança de pagamentos, mas a reabilitação não me parece que seja sempre estrutural, nem que preveja, sem emparcelamento, infraestruturas mínimas para atrair habitantes de rendimentos normais, como espaços para garagens e logradouros.
 Um exemplo de residencias para rendimentos acima dos normais:
 Que resultará da obra? Não vi o letreiro da ordem, com essa informação.


Pôr do sol na barra do Tejo:



Vistos do cais da Ribeira, obstruindo parte da visão do rio de quem está em Santa Catarina, os dois blocos da nova sede da EDP, empresa com cerca de 17.000 milhões de euros de dívida, com 1 milhão de euros de dividendos exportados e contribuinte para o défice tarifário



Antes serem exigidos 50 centimos com direito a talão dedutível no IRS do que ter as instalações sanitárias fechadas na estação do Cais do Sodré. Mas fico a pensar que o valor comercial dos componentes ali deixados pelos cidadãos e cidadãs passantes, então se considerarmos a tão necessária ureia para que os carros diesel tenham o seu óxido de azoto convertido no inócuo e fertilizante nitrato, supera em muito o imposto cobrado.


Surpresa, para mim, cidadão pouco informado sobre os planos da câmara de Lisboa para o Cais do Sodré (insondáveis serão os desígnios das consultas públicas, que só se dá por elas no termo do seu prazo...oque convenhamos é muito mais conveniente para os objetivos pretendidos) - está montado o estaleiro na esplanada sobranceira ao rio (quando não das maré vivas) :


Poente da ribeira das naus, terraço dos adoradores do sol poente (eu também sou adorador do sol). Os guias da cidade e as aplicações geograficamente heterogéneas de qualquer smartphone já impõem aos turistas como obrigatórios a visita ao cais das colunas e o ritual do pôr do sol


Os mesmo adoradores do sol vistos por trás:


E eis um exemplo de como não se devem atirar pedras aos decisores embora haja motivos para isso. A travessia da zona ribeirinha central da cidade limita o transporte individual e isso por um lado é bom, mas também dificulta o transito de autocarros. O traçado do metro não ajuda, e possivelmente a câmara de Lisboa desculpar-se-á que as obras no cais do sodré vão agilizar a circulação dos elétricos. Eu não acredito. Em princípio, a zona central da aldeia não deve ser atravessada à superfície nem por transporte individual (especialmente por transporte individual) nem por transporte coletivo.  A solução é conhecida, tem várias hipóteses, chegou a ser prevista quando a linha de metro começou a ser construida entre a baixa e santa apolónia, mas esgotou-se a disponibilidade financeira: túnel rodoviário do campo das cebolas à 24 de julho. Ou eliminação dos constrangimentos da 1ª circular (av.Ceuta-Av.Berna-Av.Mouzinho de Albuquerque). Ou tunel em semi circulo sob Alfama. Ou tunel de módulos pré-fabricados afundados e encostados à frente ribeirinha. Mas país pobre, adapte-se à poluição desta procissão.


A procissão poluidora em sentido inverso (um dos principais problemas do transito de Lisboa é a sistemática utilização de dois sentidos em todas as artérias de comunicação). Tão perto do rio, neste ponto já é insuportável o cheiro dos fumos do escape:


Junto do ponto de onde se tirou a fotografia anterior, um mal apresentado portão do torreão poente, com o painel anti-inundação degradado e quase ausente:



Na esquina do torreão poente, uma antiga régua de monitorização de assentamentos. Ainda se fará a monitorização? E não se pensa fazer? E se não se pensa fazer, coisa que ponho como hipótese por falta de informação, que nome poderemos dar a decisores, que acham que não vale a pena fazer?


Portão do torreão poente virado para o terreiro do paço:


Nunca me consegui libertar de Cesário Verde, desde que o li no longínquo liceu.
Por mais que a cultura dominante promova nos meios de comunicação social a glorificação da cultura urbana auto-gratificante, auto-suficiente e pró turista, não me faz esquecer a angústia e o cheiro da poluição opressiva das ruas de Lisboa e a "soturnidade, ...a melancolia, ... as sombras, o bulício, o Tejo, a maresia,...que me despertam um desejo absurdo de sofrer".
Transporte coletivo é para diminuir a poluição.
Mas autocarros diesel, ainda por cima em carreiras por cima de linhas de metro ... não, ... não, ... não...


2 comentários:

  1. Concordo com esta visão crítica, mas.... Lisboa é uma Cidade muito antiga... e ... é muito difícil... torna-la funcional... mantendo ... os seus padrões ... históricos...!!!

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    1. Pois, por ser antiga e desmazelada é que tem tido sucesso com os turistas. Sem precisarem de sair do primeiro mundo veem até uma reserva de selvagens, com índigenas que não conseguem organizar-se e se atropelam uns aos outros com carrinhos de lata. Droga de soturnidade.

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