No fim de uma manhã de sol, numa avenida de Lisboa, a senhora atravessava a passadeira de peões quando foi atropelada por um SUV que, duma perpendicular secundária, pretendia subir a avenida.
Estendida no chão, cumprindo as instruções de quem acorrera enquanto alguém telefonava para o 112, a senhora repetia "eu ia ter com o meu marido ao café".
O condutor do SUV, embaraçado, insistia, tentando defender-se, "eu não vi a senhora, estava a virar, preocupado com o transito".
Poucos minutos depois chegou a carrinha do INEM e espero que a senhora tenha recuperado.
Mas era interessante debater o incidente.
Não terá sido apenas distração do condutor do SUV (a propósito, porque estão tanto na moda os SUVs? sendo veículos de peso superior ao necessário para cumprimento da sua missão, as entidades que gerem a segurança rodoviária não deveriam limitar a sua utilização, começando por lhes impor limites de velocidade mais apertados uma vez que a probabilidade de morte por atropelamento aumenta com a massa do veículo que atropela?). A entrada vindo duma perpendicular sem prioridade numa via principal com 2 sentidos impõe atenção a esses dois sentidos a que se soma o cuidado a ter com os peões quando, como era o caso, a passadeira se encontra junto da via secundária.
Já por várias vezes tem sido transmitido às entidades da segurança rodoviária que as artérias urbanas devem ter apenas um sentido e que as mudanças de direção devem ser feitas apenas num sentido, mas sem exito, tal como a necessidade de construção de auto-silos ou parques subterrâneos. Quem decide prefere entusiasmar-se com as cidades de 15 minutos. Há quantos anos se estabeleceu um limite para a distancia de qualquer habitação ou local de trabalho de Paris a uma estação de metro? há quantos anos se estabeleceram os critérios TOD transit oriented development e os das transit villages? inútil lembrar que quando se cria um "superquarteirão" com muitas esplanadas, cafés e restaurantes com a sua corte de entregadores em duas rodas, mais estabelecimentos geradores de ruído e obstáculos à proximidade dos automóveis dos moradores, o episódio seguinte é a mudança de morada dos habitantes... chama-se fator de desertificação.
Mas há outro fator a ter em conta. Em avenidas movimentadas com cafés e restaurantes, é intenso o transito de entregadores em duas rodas que, tal como a maioria dos ciclistas e das trotinetas, circulam com ultrapassagens inesperadas pela direita, pelos passeios, por espaços que antigamente eram simples de vigiar por quem conduz e vai mudar de direção, e agora não.
Isto é, atiremos as pedras ao condutor do SUV que atropelou a senhora, e deixemos o resto tudo como está ... ou mudemos de cidade, para que esta fique com menos automóveis, como é o desejo dos decisores...
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