Citação de Marcelo Rebelo de Sousa, presidente da república portuguesa em 2017:
"A democracia também é feita da adoção de processos decisórios suscetíveis de serem controlados pelos cidadãos. A isso se chama publicidade e transparencia".
Será um defice de interpretação, já que da minha parte poderia ser injusto atribuir essa conduta a interesses próprios, de muitos decisores políticos (e económicos, claro, mas esses escudam-se na privacidade do seu estatuto de empresa privada, embora o"regulador" possa e deva impor limites à sua discrição; semelhantemente, a tentação entre gestores públicos pelo segredo é também muito grande, e naturalmente, ilegítima).
A cultura do secretismo terá origem num sentimento de superioridade e de normalização e integração num grupo de elite, muito acima dos comuns dos mortais.
O que naturalmente fere o princípio fundamental da igualdade, consagrado na constituição da república.
É uma tradição. A maçonaria, ao permitir aos pensadores e aos empreendedores da burguesia liberal ascender às instancias anteriormente detidas pela nobreza e pelo clero é disso exemplo. Curiosamente, é no partido que mais se reclama da tradição republicana que mais se verifica o secretismo (não quer dizer que o secretismo não seja praticado pelos outros, como um direito dos orgãos dirigentes, entendidos principalmente como os executivos, convencidos que a assembleia dos associados serve apenas para aprovar o que direção lhes apresenta).
A ideia do secretismo, tal como qualquer ideia abusiva, parte do sentimento de insegurança de quem o pratica precisamente para se sentir protegido. Que a turba não ponha em causa os processos da direção, que reforçam a sua defesa afundando-se ainda mais com o argumento de que têm informações de que os vulgares cidadãos não dispõem.
Numa altura em que a internet permite a circulação das ideias, o seu debate, a geração de novas ideias, o seu referendo, a sua revisão por especialistas e por gente normal, o secretismo é um anacronismo e uma agressão à inteligencia dos cidadãos.
Naturalmente, dispensam-se as desculpas eufemisticas, do género, nós não somos secretistas, somos discretos, e agradece-se que as coisas estejam acessíveis, pelo menos nos sites dos decisores.
E que não confundam democracia representativa com passagem de cheques em branco. Pelo menos enquanto a sociedade não conseguir estruturar uma verdadeira democracia participativa.
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