https://www.publico.pt/2020/07/01/local/noticia/avenidas-lisboa-ganham-ciclovias-instantaneas-veja-onde-1922508
Por coincidencia, leio um trecho do livro de Lídia Jorge (Em todos os sentidos , ed. D.Quixote), numa crónica sobre o tema das cidades do futuro: "... a modernidade que nos espera, quando o mundo digital fizer os nossos ossos mais leves, os nossos desejos cumpridos na hora, todas as distancias forem suprimidas e pudermos andar todos, mas todos, em bicicletas pelas ruas, sem produção de cheiros nem ruídos. O mundo será, então, um mundo limpo."
É curioso como a escritora conseguiu interpretar o sentimento e o desejo de tantos ciclistas e de tantos politicos por essa Europa fora.
Em Lisboa a expansão das ciclovias sobe de ritmo. Alguns dos artigos do Público relacionados com este tema chamam a atenção para que muitas das ciclovias aumentam i risco para os peões. Por outro lado, a CML oculta os dados de sinistralidade associados às bicicletas, a ANSR não discrimina as vítimas de duas rodas por motos, motorizadas, bicicletas, trotinetas, skates, nem as relaciona com as viagens-km, como é de norma na avaliação de qualquer sistema de transportes, e dos hospitais, mesmo antes da pandemia, não vem informação fiável.
O exemplo da supressão de uma via por sentido para os automóveis, transformada em ciclovia vem mostrar a dificuldade das vias únicas, problema só solucionável com remodelação profunda do território, nomeadamente para resolver o estacionamento, permanente ou temporário, ou a logística das cargas e descargas.
Pessoalmente, eu diria que para além das ciclovias algumas medidas também melhorariam a ecologia da cidade, por exemplo a portagem para automóveis com park and ride e ligações ao centro de metro ou LRT (em sítio próprio segregado subterrâneo ou em viaduto), mudança de dois para um sentido na maioria das principais artérias (elimina os constrangimentos da viragem à esquerda), equiparação efetiva das bicicletas e trotinetas a veículos motorizados (como aliás previsto no Código da Estrada) com assunção da limitação de 30 km/h para as vias partilhadas entre automóveis e duas rodas como regra geral nas vias urbanas (o que pareceria um postura mais respeitadora das diferenças, uma vez que não é razoável exigir a muitos cidadãos e cidadãs que se desloquem de bicicleta por razões físicas) e 50 ou 80 km/h como exceções bem definidas .
Mas gostaria de que se aprofundasse a ideia de transformar as ciclovias em vias segregadas para partilha entre bicicletas e cabinas autónomas a pedido de comando centralizado. Isto é, sendo os modos suaves e os modos autónomos a pedido complementares do transporte de massas, será razoável estabelecer percursos transversais e envolventes junto das estações dos percursos de metro ou LRT.
Assistimos também à moda da confiança no modo bus elétrico (BRT), mas convém recordar que acima de um dado número de passageiros a transportar, o consumo energético específico por passageiro-km é superior ao do modo ferroviário porque o coeficiente de resistencia ao rolamento da borracha com o asfalto é mais elevado do que o da roda de aço com o carril. Se damos tanta importancia à ecologia, teremos de ter isso em consideração.
E se considerarmos o congestionamento, recordo que para transportar 100 pessoas numa artéria com 6 m de largura, necessitaremos, para as transportar a 20 km/h com intervalo de 2 segundos para evitar colisões, de um comprimento de mais de 200m, o que compara com 580 m para automóveis , 18 m para BRT ou LRT em sitio partilhado, ou 0 m para metro ou LRT em viaduto. (ver
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