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sábado, 8 de fevereiro de 2025

Lembrei-me de si ao ouvir a nona sinfonia

 Lembrei.me de si, caro   Francisco Mendes da Silva,  no seu artigo admirativo de Dylan https://www.publico.pt/2025/02/07/opiniao/opiniao/bob-dylan-tentacao-neutralidade-2121631 ao ouvir a nona sinfonia no canal mezzo: https://www.mezzo.tv/en/Classical/West-Eastern-Divan-Orchestra-Daniel-Barenboim-Beethoven-Wagner-13052

A razão disso está na sua afirmação de que a arte está longe da maior eficácia na luta política e que até pode ser displicente.

Estou até de acordo consigo, mas porque nenhuma forma de atividade humana será a forma mais eficaz da luta política, tão rebuscadas são as formas de opressão e de repressão dos grupos que ascendem ao poder. Cada caso terá as suas particularidades. E sim, quão displicente pode ser a subserviência dos artistas para receber do poder o sustento . Mas deixemos a teoria e centremo-nos na nossa (pequena?) história.

É jovem, não viveu como adulto o pré 25 de abril. Não terá estado no Coliseu em 29 de março de 1974. Talvez não tenha lido o relatório dos agentes da PIDE que diligentemente lá estiveram e que pelo que escreveram parece que não concordariam consigo quanto à pouca eficácia da luta artística. Não terá dado muita importância à escolha da senha da revolução (ou revolta convertida em revolução), parece que  decidida no Coliseu.

Tive a sorte de, jovem, ter conhecido os que cantavam e davam o seu contributo em espetáculos pelo país fora, uns com a PIDE a assistir, outros não, e em programas como o Zip-Zip. Apesar da primavera marcelista acabou por haver um Curto Circuito, como dizia Raul Solnado, e que o substituiu. O Zip-Zip estava a ter muita eficácia na sua luta pela democratização, até meteu canções de Lopes Graça, e então o SNI arranjou maneira de o substituir por um programa mais "displicente".  Displicentes eram os nacional-cançonetistas, como se via na competição nos festivais da canção com os cantores de "intervenção" amparados pelas "letras" de Ary, José Niza, Joaquim Pessoa, Manuel Alegre, José Fanha, e música de Nazaré Fernandes, FernandoTordo ou Carlos Mendes.

Não terá sido a forma mais eficaz de luta, mas foi o que lhes  impôs a consciência política de Zeca Afonso, Adriano Correia de Oliveira, José Mário Branco, Luis Cília, Manuel Freire, José Barata Moura, Sérgio Godinho, Pedro Barroso, Samuel, Introito, Ana Maria Teodósio, e muitos outros de que a idade não me deixa recordar.

Do outro lado do Atlântico, seguiamos mais Joan Baez e o "Hair", que a guerra do Vietnam e as suas bombas de napalm para "defender os valores do ocidente" (como agora diria o holandês sorridente e bélico) a isso nos levava.

E voltando ao concerto da 9ª sinfonia com Barenboim (gravado em 2006) a orquestra do divan foi (é) outro exemplo de luta da arte, a orquestra composta por músicos uns judeu e outros palestinianos. Mas tem razão, é pouco eficaz, não evitou que assassinos tomassem o poder, em Telavive, em Gaza, em Moscovo, em Kiev, na Somália, no Congo/Ruanda, onde quer que o poder mande jovens morrer ou matar.

Mas enfim, não quero convencê-lo de nada, apenas recordar estes factos.

Com os melhores cumprimentos.


PS - Alguém me lembrou o "Masters of war", do próprio Dylan,  de 1963 (nota: não concordo com a pena capital nem gosto de ver ninguém morto):     


Come you masters of war
You that build the big guns
You that build the death planes
You that build all the bombs
You that hide behind walls
You that hide behind desks
I just want you to know
I can see through your masks

You that never done nothin'

But build to destroy
You play with my world
Like it's your little toy
You put a gun in my hand
And you hide from my eyes
And you turn and run farther
When the fast bullets fly
Like Judas of old
You lie and deceive
A world war can be won
You want me to believe
But I see through your eyes
And I see through your brain
Like I see through the water
That runs down my drain
You fasten all the triggers
For the others to fire
Then you sit back and watch
When the death count gets higher
You hide in your mansion
While the young people's blood
Flows out of their bodies
And is buried in the mud
You've thrown the worst fear
That can ever be hurled
Fear to bring children
Into the world
For threatening my baby
Unborn and unnamed
You ain't worth the blood
That runs in your veins
How much do I know
To talk out of turn
You might say that I'm young
You might say I'm unlearned
But there's one thing I know
Though I'm younger than you
That even Jesus would never
Forgive what you do
Let me ask you one question
Is your money that good?
Will it buy you forgiveness
Do you think that it could?
I think you will find
When your death takes its toll
All the money you made
Will never buy back your soul
And I hope that you die
And your death will come soon
I'll follow your casket
By the pale afternoon
And I'll watch while you're lowered
Down to your deathbed
And I'll stand over your grave
'Til I'm sure that you're dead





Publicada por Fernando de Carvalho Santos e Silva à(s) 17:18
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