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terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Austria, Austria

A notícia discreta de 18 de dezembro dizia que Bruxelas manifestou receios de que quatro países divergissem relativamente à sustentabilidade da dívida pública versus  medidas  de estabilização do crescimento económico (disciplina orçamental versus orçamento expansionista com investimento público): Itália, Grécia, Portugal e Áustria.
Sobre a Itália, diria que deveríamos apoiar o seu primeiro-ministro quando diz que a união europeia tem de compreender que a sua política austeritária tem de mudar e aceitar o investimento público (eu diria que se esse investimento público vier de fundos comunitários a fundo maioritariamente perdido estariamos todos de acordo).
Quanto à Áustria, que é apresentada na notícia como uma surpresa, como um aluno bem comportado apanhado a portar-se mal, pensei expor aqui umas quantas recordações minhas.

Sempre me surpreendeu o sucesso da Austria no fim do século passado e no inicio deste século.
Julgo que talvez fosse por contágio dos germânicos do norte que tão boa fama tinham, o que me custava a aceitar.
A minha desconfiança austríaca começou nas semelhanças históricas: grandes e pretensiosos impérios , um com esfera armilar, o outro com divisa com o desígnio da Austria a imperar sobre o mundo; anos 30 do século XX, corporativismo criptofascista por cá com Salazar, por lá com Dreyfus.
Recordo a viagem de finalistas de eletrotecnia de 1970, com passagem por Linz e Salzburg antes de enfiarmos pela Baviera até ao museu da ciencia em Munique. Nas aldeias ao longo da estrada era visível a precariedade dos isoladores e das ligações elétricas dos condutores de distribuição.
Pouco depois, encontrei dois colegas austríacos frequentando como eu um estágio na KEMA, o laboratório de alta tensão e normalização eletrotécnica da Holanda. Um deles parecia o típico vivaço português, oportunista e desenrascado, criticado com bonomia pelo colega, mais parecido comigo, sem nada de genial nem digno de ser medalhado, mas sempre interessado em compreender como as coisas funcionam e em que elas funcionem, e em executar as tarefas do trabalho conforme as normas.
Imagino se o colega desenrascado veio a ocupar lugares de decisão. Não certamente o meu semelhante.
Mais tarde, fins dos anos 90, a minha admiração perante os ricos investimentos do metropolitano de Viena em infraestruturas que poderiam ter sido mais modestas, à semelhança no nosso metro de Lisboa. Refiro no entanto a notável contribuição do metro de Viena para a redução das vibrações e ruído por melhoria dos sistemas de fixação da via férrea ao leito de via. de que é exemplo o troço sob o Musikverein.
 Logo depois, no século XXI, vieram os cortes cegos no metro de Viena, deixaram de enviar representantes às reuniões dos metros. E agora é isto, reprimendas e avisos de Bruxelas contra os investimentos públicos.
Faz-me lembrar, mais a norte, a gelada indiferença dos cidadãos finlandeses e dos seus políticos como aquele insuportável senhor Oli Rehn, perante a difícil compatibilização dos seus salários médios acima de 3800 euros com 3 anos de recessão económica sem surgir uma providencial, competitiva, produtiva e eficiente nova Nokia. Assim vão ter de esperar que o turismo da Lapónia faça o mesmo que o turismo aos preguiçosos lisboetas e portugueses, que lhes equilibre o saldo externo ("primeiro levaram os comunistas, mas eu não me importei, não era comunista, depois levaram os judeus, mas eu não me importei, não era judeu, depois ...").
Para melhor enquadramento histórico da decadencia austríaca, ver o livro " Declínio e queda do império dos Habsburgo. 1815 -1918", de Alan Sked em:
http://fcsseratostenes.blogspot.pt/2015/08/os-decisores-metternich.html



quarta-feira, 9 de julho de 2014

Os investimentos públicos em Portugal, de Alfredo Marvão Pereira, na coleção Fundação Francisco Manuel dos Santos

A coleção da Fundação Francisco Manuel dos Santos tem de comum com este blogue, perdoe-se-me a imodéstia e a petulância da comparação, o muito pouca gente lhe dar atenção.
E contudo, os livrinhos vendem-se no Pingo Doce a um preço irrisório, não sei se aplicando as mesmas técnicas de abaixo do custo de produção com que são vendidos ao lado os alperces e as tangerinas agora mandarinas, e cada um deles contem análises e propostas de solução para os problemas que nos afligem.
Talvez por isso as pessoas não lhes dêem atenção.
Se os lessem compreenderiam melhor os dados e as variáveis dos problemas. E possivelmente contribuiriam, devido a uma melhor informação e através do voto, para as soluções.
Mas se as soluções vingassem, deixaria de haver problemas, deixando a comunidade perplexa e sem motivos para protestar, contrariando assim as leis da entropia que tendem para a desordem.
Ou dito à moda de Oscar Wilde, o que estaria errado nas propostas de solução para tantos votarem nelas?
Ou deduzindo um corolário da lei de Murphy, se resolver um problema na comunidade portuguesa é muito dificil por dificuldade de entendimento da essencia do problema e de entendimento entre os afetados pelo problema, então certamente que a solução não será aplicada, embora os afetados digam que sim, que a aplicaram.
O livro de Marvão Pereira, professor e investigador de economia na universidade pública de William and Mary na Virginia, analisa os investimentos públicos em Portugal de 1980 a 2009 e faz críticas (a principal à llta de rigor das análises de custos-benefícios na fase de anterior à aprovação) e recomendações.
Alguns excertos:
"... o esforço de investimento em infraestruturas cifrou-se em cerca de 4% do PIB em média nos últimos 30 anos..."
"...a evidencia empírica ao nivel macroeconómico sugere, de uma forma clara, que o investimento público em infraestruturas de transporte tem sido um poderoso instrumento para promover o crescimento económico de longo prazo em Portugal..."
"...sugerimos mais, mas sobretudo melhor investimento dei niciativ pública em infraestruturas..."
"...Fica implícita a nossa oposição total, por razões concetuais e pragmáticas, às ideias de que todo o investimento em infraestruturas é só despesa pública encapotada, que mais investimento é irrelevante para a economia e negativo para o orçamento, e de que o investimento futuro deve expiar pela sua ausência os pecados do investimento passado..."

Este blogue subscreve quase todas as análises e recomendações, manifestando a dúvida atroz  que os grupos de sábios que o atual governo tem consultado saibam escolher o destino correto a dar aos fundos comunitários. E também que o governo atual ou o que lhe suceder imediatamente, saiba negociar a aplicação correta dos fundos comunitários no período 2021-2027, para cuja candidatura já deveriam estar a ser começados os projetos.
Mas infelizmente, também duvido que na Fundação Francisco Manuel dos Santos haja conhecimentos técnicos que permitam a elaboração de um programa de investimentos.
De modo que resta a este blogue ir comentando.
E no caso dos investimentos entre 2000 e 2009, sugerir ao leitor incauto dois passatempos, baseados num dos quadros do livro de Marvão Pereira.
Considerem-se os seguintes tipos de investimentos públicos em infraestruturas ente 2000 e 2009, estimados num montante de 60.000 milhões de euros (4,52% do PIB do período):
A - infraestruturas rodoviárias (estradas municipais e estradas nacionais), infraestruturas ferroviárias, portos e aeroportos
B - auto-estradas
C - infraestruturas de saúde
D - infraestruturas de educação
E - infraestruturas básicas (refinarias, gás, eletricidade e águas)
F - infraestruturas de telecomunicações
O primeiro passatempo consiste em ordenar os diferentes tipos de investimento por ordem decrescente de valor. Considerar, no caso das PPP, que o valor do investimento está concentrado no periodo e não distribuido com juros, pelo período mais alargado do contrato (até 2045, por exemplo).
A solução está no fim deste "post", esperando que o leitor não fique muito surpreendido, porque se assim acontecer, será sinal de que andava mal informado sobre o tema.

O segundo passatempo será mais complicado, e exige ir buscar uma hiperligação, mas não veja a solução do primeiro antes:
http://1drv.ms/1uBjNaK

Trata-se de um quadro Excel em que se convida o leitor a fazer uma estimativa distribuindo percentagens do total dos investimentos por cada um dos tipos de investimento de modo a obter  a soma de 100% .
Na coluna seguinte estão ocultos os valores reais que foram registados no período de 2000 a 2009 e aparecem as diferenças entre o valor estimado e o valor real, apenas depois de preenchidas as 6 linhas. Na coluna seguinte temos os quadrados das diferenças de modo a calcular o valor quadrático  médio. Este valor quadrático dará o grau de aproximação da estimativa relativamente à realidade, sendo 0 a coincidência entre uma e outra (parabens, leitor, está muito bem informado) e 25 um valor que corresponde a um muito grande afastamento entre a realidade e a estimativa (coisa muito comum nos nossos governantes, considere-se candidato a um caso de destaque no governo ou nas entidades com que ele vive em conúbio, se atingiu valores semelhantes).
Vá lá, faça a sua estimativa e avalie se estava bem informado, e se os eleitores também o estarão e se votarão de acordo com uma boa ou uma má informação.
E se vale a pena questionarmo-nos se existe uma correlação forte ou fraca entre o grau de informação dos eleitores, a qualidade da prestação dos governos, o grau de participação das populações e dos técnicos informados  na solução dos problemas e, naturalmente a eficiência na qualidade de vida da população.



A-E-F-B-C-D.