sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Fome em Portugal


Um amigo enviou-me este texto do blogue Aventar.
Trata da fome em Portugal.
Numa altura em que é divulgado o enriquecimento dos mais ricos e o aumento da distancia entre os mais ricos e os pobres, parece evidente que o sistema económico e financeiro dominante na UE não serve, porque afinal há geração de riqueza, com apropriação concentrada em menos, e há investimento financeiro sem produção de bens transacionáveis.
Não cumpre dois critérios básicos da Declaração Universal dos Direitos Humanos: direito ao trabalho e direito a condições dignas de vida.
Não vale apena entretermo-nosem discussões frívolas do tipo da discussão com Isabel Jonet, tudo indica ser uma questão estrutural do sistema.
Devia mudar, é inútil os senhores da troika, os seus seguidores que deteem o poder em Portugal, os financeiros, os comentadores apoiantes do governo, virem dizer que por via indireta ospobres saem beneficiados quando a economia melhorar.
Ficam os senhores do BCE muito contentes com a baixa da taxa de juro.
De facto dá jeito a quem tem de pagar a prestação da casa, mas acreditam em fadas? acreditam que os "investidores" (que preferem "investir" em virtualidades financeiras e não na produção de bens transacionáveis) vão investir, nomeadamente no que reduziria os seus beneficios derivados da cumplicidade e promiscuidade com ospoderes politicos? Quem vai investir numa fábrica cujos produtos vão render menos do que a taxa de juro que têm de pagar aos bancos, para eles poderem ter uma "margem financeira"?
As equações do PIB e do saldo orçamental são claras:

            PIB = consumo privado + investimento privado + despesas públicas +
                       exportações – importações

saldo orçamental = investimento privado ou comunitário - poupanças  
                                 privadas + exportações – importações

- Não basta aumentar as exportações (sabendo-se que 50% das exportações são de combustíveis refinados após importação dos combustíveis brutos),
- as importações têm de ser contidas, não por diminuição abusiva do poder de compra mas por aplicação de taxas de carbono (justifica-se uma politica de contenção da procura interna, não se justifica uma politica de empobrecimento)
- não devem conter-se cegamente as despesas publicas, devendo aplicar-se fundos comunita´rios no desenvolvimento das infraestruturas que dão suporte à economia com mais eficiencia energética
- não devem deixar-se acumular as poupanças sem serem aplicadas no investimento na produção de bens transacionáveis, embora se saiba que isso vai prejudicar o negócio dos importadores
- Se o PIB crescer, ou se simplesmente for melhor contabilizado incorporando economia paralela (sem perseguições), o mesmo valor do défice em percentagem corresponderá a um valor absoluto superior, permitindo maior despesa pública, por exemplo. 
- é essencial aumentar o investimento (se  o privado o não fizer, esse aumento só poderá vir através dos fundos comunitários que para isso prevêem 20 mil milhões de euros de 2014 a 2020, temendo-se que se queira utilizar esse dinheiro como banco de empréstimos a pequenas empresas, quando para isso há os bancos resgatados com dinheiro do BCE)

Que não venha o governo dizer que não há alternativas aos cortes.
Deixem-se de recusas sistemáticas de considerar as sugestões que a sociedade civil lhes faz.
Deixem-se de desmerecer da utilidade da proposta, por exemplo, de protelar o pagamento das rendas das PPP
Aceitem o parecer dos técnicos que calcularam que as obras realizadas pelos concessionários das PPP e financiadas pelos bancos poderiam ter sido realizadas por metade do preço de custo se geridas pelas empresas públicas dos respetivos domínios (esta a base para renegociar o volume de pagamentos)
Considerem a taxa Tobin, há mais de 5 anos proposta na Assembleia da Republica e recusada pelos 3 partidos do “arco da governação”
E para que não digam que não há dinheiro, considerem a proposta já com 2 anos do reitor da universidade de Coimbra, uma taxa por cada transação no multibanco sem repercussão no cliente (até as cadeias de supermercados inventam campanhas de arredondamento).
Mas não digam que não há alternativa nem dinheiro.
Há sim incapacidade de organização da comunidade em formação de combate à crise.
Ou então aceitem a sugestão do FMI, tímida, muito tímida por enquanto, de taxar os depósitos e as aplicações financeiras de mais de 100.000 euros.
Não se escandalizem, nem rasguem as vestes gritando que os investidores vão sair do país.
Talvez não fosse mau, deixando espaço para outros investimentos, que os há, sempre.

As fórmulas do PIB e do saldo orçamental foram retiradas de "Economia para todos" de David Moss, ed. Academia do livro, de onde retirei tambem a seguinte citação:
"... alguns estudiosos de Macroeconomia ... preferem acreditar que as relações económicas definidas nos seus manuais são regras invioláveis. Este tipo de arrogancia, ou estreiteza de pensamento, torna-se um verdadeiro perigo para a sociedade quando afeta os responsáveis politicos pela macroeconomia. O responsável pela politica que acredita que sabe exatamente como a economia irá responder a um estímuloo específico é, na verdade, um responsável politico muito perigoso".
Impressionante, como um distante professor de Harvard diagnosticou o pobre Portugal destes anos de fome, onde se ouve no Parlamento um membro do governo dizer que este sabe muito bem para onde vai.

1 comentário:

  1. Portugal foi "obrigado" a ajustar-se às conveniências dos "gigantes europeus"
    a troco de umas "esmolas" que ao nosso nível eram uma "fortuna"!!!
    Só que agora com crise a nível europeu...nem para "esmolas" há...!!!
    Só nos resta esperar de "mão estendida"..!!!!

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