domingo, 24 de agosto de 2014

Um lago de tubarões

No meio dos comentários sobre o BES, oiço a lucidez de dois comentadores, julgo que um deles o historiador económico Pedro Lains, dizer que temos de convencer as pessoas de direita, que as de esquerda já estão convencidas, de que a união bancária tem de ser concretizada (assim como todas as restantes medidas propostas pelos economistas aterrorizados, que os financeiros do BCE tão lentamente e renitentemente vão aplicando). A lentidão das medidas do senhor Draghi contrastam com as da reserva federal americana.  A união bancária , fiscal e orçamental é condição sine qua non para o equilibrio orçamental, não o corte das pensões. Outro diz que em dois anos foram transferidos para o Luxemburgo 200.000 milhões de euros de depósitos. Somos um país drenado. Os USA já informaram os bancos estrangeiros que operam no seu território que têm o dever de informar o departamento do tesouro de todas as tranferencias que os clientes americanos fazem para fora do pais, sem o que não poderão operar no país. O fim do sigilo bancário é condição sine qua non para o equilibrio orçamental, não os cortes das pensões.
E não são os reguladores que têm de ser mais eficazes, é o sistema financeiro que tem de mudar.
Porem, o governo português e seus simpatizantes preferem continuar a assistir à luta dos tubarões.
Não é original, a ideia do programa de TV lago dos tubarões. Orson Wells tratou o assunto num dos seus filmes.
Mas prefiro outra perspetiva do caso do BES, esperando que a triste atuação do senhor governador do BP não contribua para problemas de sua saúde. Outros comentadores, respeitosos apoiantes do governo, desculpam-no, que era CMVM que deveria ter alertado os acionistas, que o BP só tem que proteger os depositantes. Ora, o senhor governador disse que previa uma almofada de 2 mil milhões e que havia acionistas interessados no aumento de capital. Falhou por desconhecimento e afundou-se quando disse que se baseava na informação disponível do próprio banco (a do 1º trimestre). Afinal eram 3,5 mil milhões.  Felizmente os meus jovens colaboradores nunca cometeram erros desta dimensão por desconhecimento. Os senhores economistas e financeiros não têm a noção dos fenómenos físicos. Deveriam estudar a teoria da predição de Norbert Wiener. Era melhor para todos.
E quanto ao inedetismo e inovação da solução dos bancos bom e mau (cuidado com a analogia do desdobramento da personalidade, é que a responsabilidade do crime é sempre de quem o comete, por mais inimputável que uma escola de psicologia possa defender), permito-me transcrever do livro "Adapte-se" de Tim Harford, copyright de 2011:
"Uma forma simples de reestruturar até um banco complexo foi inventada por dois teóricos do jogo, Jeremy Bulow e Paul Klemperer, e apoiada por Willem Buiter, que posteriormente se tornou economista responsável pelo talvez mais complexo banco do mundo, o Citigroup. Trata-se de uma abordagem tão elegante que, à primeira vista, parece um passe de magia lógico: Bulow e Klemperer propõem que os reguladores possam obrigar um banco em dificuldades a dividir-se num banco "ponte" e num mau banco "traseiro".  O banco ponte recebe todos os ativos e apenas os passivos mais sagrados - como os depósitos que as pessoas comuns ainda têm em contas-poupança ou, no caso de um banco de investimento, o dinheiro depositado por outras empresas. O banco traseiro não recebe quaisquer ativos, ficando apenas com o resto das dívidas. Num ápice, o banco ponte é plenamente funcional, tem um bom amortecedor
de capital e pode continuar a fazer empréstimos, a pedir empréstimos e a transacionar. O banco traseiro é, evidentemente, uma inutilidade.
Mas então, os credores do banco traseiro não foram roubados? Não nos precipitemos. É aqui que entra o truque de magia: o banco traseiro é proprietário do banco ponte..."
Ora, a menos que esteja enganado, estamos perante um solução à portuguesa, isto é, uma meia solução apresentada como inovadora a pedir aplausos ao senhor governador do BP, ao governo e ao senhor gestor Vitor Bento, que há muito abandonou o seu diagnóstico: que o setor não transacionável do nosso país tem de convergir com o setor transacionável.
E tambem que quem insistir que a solução do banco bom e do banco mau é inovadora (o copyright do livro é de 2011), está mentindo.

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