domingo, 18 de fevereiro de 2018

Entrevista de Violeta Bulc de 17 de fevereiro de 2018 ao Expresso


Tem muito interesse esta entrevista. 
Por um lado, Violeta Bulc repete a orientação já há muito definida pela comissão europeia de desenvolver o transporte ferroviário: “Se  as redes ferroviárias não forem concluídas, os países beneficiam apenas parcialmente do seu potencial.” 
Isto é, utilizar a rede existente com pequenos troços novos poderá gerar um crescimento das exportações ou da transferencia de tráfego rodoviário para ferroviário, mas ficará aquém das possibilidades da rede de corredores principais construida de acordo com as normas da interoperabilidade.
Por outro lado, ao pôr a tónica na conclusão da ligação Évora-Caia (de que ainda não havia  no inicio de fevereiro de 2018 estaleiro no troço adjudicado de 11km Elvas-Caia) tomando a ligação Sines-Évora existente como parte integrante do corredor internacional, omite que não está planeada a implementação da interoperabilidade completa para essa linha (da bitola UIC ao ERTMS) o que poderá configurar uma convergencia com o governo português de aceitação do plano deste de explorar a linha em bitola ibérica. 
Essa convergência contraria frontalmente o regulamento da Comissão que prevê, tal como repetido na entrevista por Violeta Bulc, a conclusão em 2030 dos principais corredores internacionais ou rede core (e não 2020 como por lapso foi publicado)
Por outro lado ainda, deixando na dúvida o tipo de alta velocidade para a linha de passageiros Lisboa-Madrid (por exemplo 280 km/h máximo versus 350km/h) acaba por revelar que a ligação de passageiros Lisboa-Madrid , para além da ligação de mercadorias, faz mesmo parte dos objetivos da comissão europeia.
Finalmente, de salientar a intenção de manter o financiamento de 500 mil milhões de euros para  a rede principal até 2030, citando o benefício esperado do crescimento acumulado do PIB europeu até 2030 de 4500 milhões de euros (incluindo a parte portuguesa), conforme o estudo do Instituto Fraunhofer. 
Pelo que mais uma vez se reafirma a urgência na elaboração dos projetos e na execução dos empreendimentos das linhas novas de bitola UIC integradas na rede core até 2030. Ao mesmo tempo que se receia que se mantenha a desmobilização atual, contentando-se com o troço Évora-Caia.

PS em 21 de fevereiro -

Entrevista de Violeta Bulc sobre as ligações em alta velocidade de Portugal à Europa

A entrevista é descrita no Cinco Dias/El Pais :
https://cincodias.elpais.com/cincodias/2018/02/16/companias/1518797506_205592.html

Este relato do Cinco Dias/El Pais é muito mais esclarecedor do que a breve notícia do Expresso. É efetivamente um "ralhete" aos dois governos. Pena a senhora falar só em 250 km/h. Mas mais vale um pássaro na mão... apesar do terreno favorável do lado português não encarecer muito a construção de plataforma para 350km/h (inconvenientes desta velocidade: maiores custos de energia e de manutenção). O problema é que é preciso fazer os projetos e candidatá-los.

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