Resposta ao artigo de opinião de João Taborda da Gama.
Caro Doutor
Recentemente, em visita à Ordem dos Engenheiros, o seu ilustre colega jurista que atualmente desempenha com simpatia e alguma eficiencia a função de presidente da República, declarou, precisamente por ser um paradigma de simpatia, que considerava semelhantes as formas de raciocínio de juristas e de engenheiros.
Digo com simpatia, no pressuposto da comparação elevar assim o raciocínio dos engenheiros ao nível do homólogo dos juristas.
Como certamente já pressentiu, porque na verdade ambos os raciocínios têm em comum a lógica, embora outras coisas não, vem isto a propósito (ou a despropósito) daquela questão de escrever de forma inversa no asfalto, “imbecilidade”atribuível pelo ilustre doutor a um”muito esperto ... engenheiro, talvez” (e contudo, como diria Galileu a propósito, ou a despropósito de outras coisas mais importantes, como poderá escrever-se na vertical no asfalto se ele está na horizontal? a menos, claro, das espessuras das camadas).
De modo que, como certamente também já terá pressentido, esta missiva vem dar-lhe razão, que “não esteve um dia bom para a produção de texto, não”. Até porque a qualidade dos seus textos é normalmente elevada.
E por isso me atrevo, do baixo da minha condição de engenheiro, mas com fé que o ilustre especialista de direito fiscal também por isso mesmo tributa à matemática, e esta é uma linguagem universal, passe o lugar comum, a tentar uma explicação para a tal “imbecilidade”. Que não o será no sentido literal, mas antes consequencia de mais uma partida que a Natureza prega a quem tenta construir um edifício coerente de lógica, ou, numa versão mais derrotista para quem se desgosta com a incomensurabilidade do desconhecido e a fácil mensurabilidade do conhecimento, mais uma aberração da Natureza.
De facto, não seria mais lógico que pelo espelho do retrovisor lessemos “Ambulancia”se estivesse escrito “Ambulancia” no seu capot? Mas não. Da mesma forma, não seria mais lógico que escrevessemos e lessemos da direita para a esquerda, como os árabes, e não da esquerda para a direita ? é que assim podiamos arrumar da direita para a esquerda, por ordem crescente, os 5 volumes dos “Comboios em Portugal” de J.Ribeiro da Silva e Manuel Ribeiro, ed. Terramar (perdoe-se-me a limitação própria como especialista de transporte, embora mais para o lado ferroviário que para o rodoviário o que me incapacita para eventual explicação convincente da “imbecilidade”), ficando o primeiro volume na sua posição natural no conjunto. Ou que circulássemos pela esquerda, como os anglo-saxónicos da ex-Europa, que assim chegávamos às rotundas e não tinhamos dúvidas, prioridade a quem lá está, vindo da direita.
Porém esta lógica não se aplica totalmente à questão da escrita vertical no asfalto horizontal, pelo que coloco a seguinte hipótese para a explicar. Imaginemos aqueles aparelhos antigos para ver gravuras em movimento, com uma manivela para ajustar a velocidade de corrida das imagens à sensibilidade e acuidade dos orgãos de visão do observador. E queremos anunciar em legendas em que só cabem 4 ou 5 letras a próxima saída da via rápida.
Claro que a primeira imagem é Sete e a segunda Rios.
Se a manivela rodar devagarinho, temos tempo para reter na memória da retina a palavra Sete, e calmamente registamos a segunda, Rios. O cérebro se encarregará de digerir as duas informações e sintetizá-las, Sete Rios.
Mas se a mão se escapa ao controle da contenção e desbrida em velocidade impulsiva e compulsiva, como um condutor pouco amigo da segurança coletiva, em claro arrepio dos conselhos associados ao equilíbrio de Pareto, e as imagens se sucedem mais depressa do que a capacidade de retenção, ou se o condutor estava algo desatento à aproximação do anúncio do desvio, talvez seja Rios que predomine, ou que seja Rios Sete que o cérebro forneça ao seu dono.
É que o que se escreve no asfalto é função da velocidade ideal, ou recomendada, com que se circulará por cima. E circulando dentro dos limites a sua leitura tem alguma lógica, pelo menos aquela que os deuses consentem que os homens (e mulheres) usufruam. Mas reconheço que as frações da legenda Portimão deviam estar mais afastadas, pelo menos 1/24 segundo, que a 90km/h são 1 metro.
Mais uma uma vez o ilustre Doutor pressintirá´que eu estou a recomendar que circule mais devagar. E na verdade estou, até tenho fé que os “autónomos” venham impor-nos isso mesmo, uma velocidade mais contida.
Para melhor convivência entre todos . Ou será uma imbecilidade conter a velocidade? É que a citada Natureza desenvolveu os orgãos visuais da espécie humana para velocidades até 30 km/h, mais ou menos, como preocupado dizia o médico nos princípios do século XIX, aflito com as consequencias das cada vez mais altas velocidades dos veículos inventados pela dita espécie.
Enfim, caro Doutor, votos dos maiores sucessos pessoais, esperando que continue a escrever para os seus leitores.
PS em 16 de março - pensando melhor, que é coisa que deve tentar-se sempre, talvez pudessemos concordar com a escrita paralela ao sentido do tráfego no plano horizontal da estrada, isto é, perpendicular à transversal à estrada, com a primeira letra a surgir primeiro. Espero que não seja uma "imbecilidade"
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