Falta ao autor destas linhas formação em sociologia, psicologia e economia politica para desenvolver um ensaio coerente sobre um assunto como a teoria organizacional de empresas ou comunidades.
Por isso segue um esboço de miniensaio baseado nalguns exemplos reais.
1 - uma conhecida minha passeava em Vilamoura com o marido; ao atravessar uma passadeira de peões enfiou um pé num pequeno buraco, tropeçou e como o pé ficou preso, partiu a tíbia e o peróneo quando caiu; no hospital de Olhão o ortopedista de serviço disse-lhe, outra vez, já é a terceira pessoa que parte uma perna nesse buraco da passadeira de Vilamoura. Isto lhe disse num intervalo entre a série de operações que, juntamente com a contração de meios naquele hospital, impedia em tempo útil o tratamento da senhora em Olhão, pelo que seguiu de ambulancia para Lisboa, para o hospital central onde os colegas ortopedistas se queixam que recebem traumatizados de todos os pontos do país sem terem os quadros guarnecidos para isso (por falar em ortopedia, lembrei-me do que um ortopedista de outro hospital disse a um familiar meu que esperou uma semana para ser operado: que vão ter de enviar à CML e ao governo a estatística dos acidentados com trotinetas, porque não têm meios para operar tanta gente politraumatizada. Confirma-se, a ocultação pela CML dos números da sinistralidade com trotinetas configura uma situação grave que se junta à situação grave dos acidentes com automóveis, motociclos e bicicletas)
2 - quando trabalhei no metropolitano de Lisboa, tive alguma responsabilidade na monitorização das infraestruturas de acesso pelos passageiros; uma das minhas funções era investigar junto das relações públicas se havia reclamações por responder. Infelizmente elas perdiam-se e nunca se sabia onde, desde as reclamações das organizações especializadas sobre a incapacidade de executar a lei das acessibilidades de pessoas com mobilidade reduzida, até a pedidos como a da junta de freguesia de Marvila, para que se montasse um pequeno corrimão que protegesse passageiros de passo mais incerto de queda por um declive adjacente à saída do metro junto ao hipermercado, e que só depois de muitos percursos dentro e fora do metro conseguimos executar.
3 - um familiar meu teve a contrariedade de ver o seu cartão multibanco clonado. Quando questionou a sua gestora de conta, a senhora perguntou onde tinha usado o cartão. Quando lhe foi respondido que num ATM da Manta Rota disse que já muitos clientes se tinham queixado e que sim, o banco tinha confirmado que num dos ATM dessa praia um gangue de especialistas utilizava o seu dispositivo de clonagem com eficácia para depois ir fazendo pequenos levantamentos em Lisboa, na zona da Morais Soares (posteriormente, foi divulgado que o grupo tinha sido apanhado rastreando as suas proezas)
4 - é vulgar lermos nas notícias sobre o assassínio de mulheres que o assassino já estava sinalizado, o que leva a perguntar, porque não se evitou, não enviando a senhora ameaçada para uma espécie de asilo, mas restringindo os movimentos do ameaçador? (eu sei a resposta, para garantir os direitos dos presumíveis inocentes até conclusão do julgamento, como se isso fosse mais importante do que a vida da senhora)
5 - foi dado muito destaque à notícia de que um especialista de abertura e fechaduras, depois de convidado para um assalto a um depósito de armas e munições no centro do país, comunicou a intenção dos assaltantes a uma senhora procuradora que por sua vez encaminhou a informação, sem sucesso (eu sei a resposta, para garantir os direitos dos presumíveis inocentes até conclusão do julgamento e para respeitar a lei do sigilo, como se isso fosse mais importante do que o roubo das armas).
Perante estes exemplos, a tentativa de formar a teoria organizacional será talvez que qualquer ação de uma empresa ou de uma comunidade organizada precisa de cadeias compostas de elos em que por vezes alguns falham, quer nas zonas intermédias, cujo número até pode ser exagerado, quer nas zonas de amarração às estruturas mais gerais (daí as pessoas queixarem-se de que são necessárias reformas estruturais).
Desculpar-se-ão alguns elos com frases tradicionais, como "isso não é assim", perante sugestões, ou "isso não é comigo", quando prevalece a cultura das quintinhas e compartimentos estanques.
Desculpar-se-ão mal.
Uma análise clássica diria que o problema será a quebra das cadeias hierárquicas, entendendo-se a hierarquia como de valores ou até de comando ou de articulação executiva.
Esta teoria porém não explica o paradoxo, como num país de baixa capacidade organizativa, de planeamento, de produtividade, de qualidade de gestão, apesar disso percentagem significativa da população consegue viver com qualidade de vida ao nível dos países desenvolvidos? (exemplo, em 2 meses, julho e agosto de 2019, os portugueses gastaram com cartões de débito e de crédito cerca de 25.000 milhões de euros. Se contarmos os bébés, será cerca de 1250 euros por pessoa e por mês, num país onde há reformas de 100 e 200 euros, o que dá uma ideia do índice de desigualdade de Gini. Débitos diretos por mês: 2500 milhões de euros; valor dos pagamentos com cartões por turistas por mês: 730 milhões de euros).
PS em 7 de outubro de 2019 - Já referi este facto estranho, que pode ser indicio de uma especificidade portuguesa, que é o de que os espetadores em Portugal, ao baterem palmas depois de uma peça musical, nunca sincronizarem os aplausos. Nos concertos no estrangeiro, e isso vê-e bem no canal Mezzo, imediatamente depois do inicio dos aplausos, ou alguns segundos depois de aleatoriedade do ruido das palmas, elas sincronizam-se , normalmente ao ritmo básico de um batimento por segundo. Pode não significar nada, mas os especialistas de neuropsicologia poderiam investigar se não será aquela parte do cérebro responsável pelo comportamento individual quando em grupo (nos peixes e nas aves é essencial que cada elemento conserve a sua posição relativamente aos vizinhos anterior e posterior para que o grupo possa mover-se mais rapidamente e fugir aos predadores com o minimo de perdas). Um cérebro que desenvolva o individualismo, isto é, que fuja à sincronização de movimentos, induz riscos por quebrar a resistencia do grupo, ou, em termos mais modernos, por introduzir dificudades ao trabalho de cooperação e planeamento integrado e conjunto, isto é, que é uma carateróstica da teoria organizacional dos portugueses (que para justificarem o seu individualismo se desculpam dizendo que não vão em carneiradas...)
Sem comentários:
Enviar um comentário